Tudo o que a comandante queria era respirar. Ela estava morrendo rápido, mais rápido do que esperava e não podia fazer nada a respeito. Seus pálpebras abriam e fechavam, pesadas, fatigadas. A loira podia ouvir a voz de Carina, às vezes conseguindo ver a sua imagem desfocada aos prantos ao seu lado. Ela tentou esboçar um sorriso pensando em como as pessoas fantasiam demais a morte. Falam como a vida passa diante dos olhos, como bate o arrependimento das coisas que você nunca fez. Não estava sendo bem assim com Maya.
Enquanto estava lutando contra a sua partida definitiva, tudo o que a incomodava era a sua voz - ou a falta dela. A agente secreta não conseguia falar. Tentava formar palavras, mas o som simplesmente não saía. Por alguma razão, isso causou mais pânico do que a idéia de seu coração estar parando aos poucos. Estava vindo à tona a temeridade de ficar sozinha, sem ser capaz de se conectar ou se relacionar com alguém. Irônico, justo na hora da sua morte.
A dor era dilacerante e crescente à cada minuto. Os paramédicos já tinham chegado, disso a comandante tinha certeza, uma vez que viu as sombras da movimentação se dando em torno de si. Aquilo significava algo bom, já que podiam descobrir de onde vinha a dor e o porquê dela não conseguir respirar direito.
A idéia de que sua vida dependia da respiração e dos batimentos cardíacos começava a pesar no seu peito, deixando-a nervosa em demasia. Automaticamente, Bishop ficou mais autoconsciente e começou a acompanhar cada subida e descida do tórax, como se estivesse tentando garantir que, caso aquilo tudo falhasse, ela iria assumir o controle do navio e contrair o peito à força, em uma tentativa fútil de contornar a morte.
A morte.Engraçado, uma vez que a dor tornara-se quase insuportável, e a loira notou que não conseguia falar, percebeu ali que iria morrer. O pensamento de estar longe dos seus pais e irmão, de sua melhor amiga, de não ter podido despedir-se direito da sua amada, a incomodou mais do que todas as ilhas paradisíacas maravilhosas que nunca teve a oportunidade de conhecer.
"Hum... dor crescente no peito? Isso é coração. Ataque cardíaco, com certeza. Aquele cara do sitcom não morreu de repente, algumas horas depois de sentir dor no coração e ignorar? Eu não posso ignorar. AVC... se fosse AVC, meu peito estaria doendo? É no AVC ou no ataque cardíaco que o lado esquerdo do corpo fica dormente? Meu braço não está dormente, mas meu peito dói muito".
De todo jeito, ela notou que era grave e precisava de ajuda. Será que estavam cuidando dela? Pois tudo ficava cada vez mais distante de seus sentidos. O medo de se fazer de boba, aquele medo de situações embaraçosas que está enraizado em nosso cérebro de macaco, a fez hesitar em forçar um pedido de socorro. E se ela estivesse bem, apenas tendo um pesadelo? O que as pessoas pensariam dela?
"Eu não consigo respirar direito e nem falar. Meu peito está doendo, acho que estou tendo um ataque cardíaco.
Hospital? Estão me levando para o hospital?"Nossa mente funciona de modo engraçado, às vezes. Em um desastre de avião famoso que teve há alguns anos atrás, as pessoas poderiam ter saído e salvo suas vidas quando ele caiu sem explodir. Alguns poucos correram para os buracos na fuselagem e pularam fora. Dezenas estavam bem o suficiente para correr, mas ficaram no avião, morrendo a seguir com a explosão. O viés da normalidade causa isso no ser humano em situações de pânico.
- Maya, por favor, fica comigo. Não morra agora. Por favor. Eu te amo tanto, tanto. Meu Deus! Não! Não! Não! - Era Deluca quem falava em total ação desesperada.
A agente federal já não enxergava mais nada, apenas ouvia a voz falha ao longe da mulher de sua vida. Depois disso, sua memória falhou.Ela não saberia dizer ao certo a cronologia dos acontecimentos desde o momento em que atirou em direção à Robert até sua chegada na emergência do hospital. De repente, como se fosse mesmo um sonho, Maya conseguiu abrir os olhos, e mais, conseguiu levantar-se, milagrosamente não sentindo mais dor nenhuma. A comandante foi obrigada a levar a destra à boca para conter um grito, um suposto grito que daria ao ver seu corpo estendido em um leito, com diversos profissionais da área da saúde tentando ressucitá-la. Aquela era, de fato, uma experiência extracorpórea, dessas que se vê em muitos relatos nos programas sensacionalistas que elucidam evidências do pós- morte. E nisso, tudo apagou de vez.
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A Filha do Presidente ( adaptação )
FanfictionEmbora a vida seja cheia de atividades, destinos e tarefas, as pessoas ainda se sentem solitárias, o que é um paradoxo. Infelizmente, isso é realidade para muitas pessoas, incluindo Carina Deluca. Como filha do Presidente dos Estados Unidos da Améri...