Solidão presidencial

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" Sam William irá presidir a sessão no senado que votará o polêmico projeto sobre a extinção ou aplicação das sanções contra a China. Amanhã a discursão finalmente irá para o congresso. Republicanos e democratas afirmam que vão votar sem influência de seus partidos, mas alguns parlamentares devem se opor à esse posicionamento."

Ali não havia nada fora do seu devido lugar, " A noite estrelada", de Vincent Van Gogh, mantinha-se ao lado esquerdo do cômodo; " O nascimento de Vênus", obra de Botticelli, ao lado direito; a boisere de painéis chineses laqueados, pertencentes ao século XVIII, compunha parte da luxuosa decoração da sala de jantar da Casa Branca. Apesar da beleza, o lugar era frio, mas não pela temperatura climática, e sim, pela ausência de calor humano.

Os olhos morteiros, porém atentos de Carina Deluca, vasculhavam e observavam pela enésima vez, cada detalhe do cômodo que expressava uma personalidade minuciosa, sem o brilho da alma a quem pertencia.

Sentada à cabeceira da mesa de pés torneados, que casavam harmoniosamente com o tampo contemporâneo e robusto, estava a filha do presidente dos Estados Unidos da América, gozando solitária do seu dejejum, enquanto acompanhava a notícia do telejornal matutino. Solitária, não no sentindo literal da palavra, uma vez que sua posição social lhe impunha contato constante com uma infinidade de pessoas, mas pelo estado de espírito que ela mesmo havia adotado para si.

– Às 10:30 sua mãe irá acompanhá-lá ao almoço beneficente que...

– Eu já sei de cor e salteado todos os meus compromissos do dia. Obrigada. — A voz de timbre rouco da morena soou mais impetuosa do que o esperado, deixando um rastro de constrangimento em Meredith, sua secretária particular, que nada mais fazia naquele momento, do que cumprir com a  sua função de assessoramento.

– Srta. Deluca, eu só estou tentando repassar a agenda, já que conhecemos bem a Sra. Lucia e sabemos que ela não tolera...

– Meredith, eu conheço a minha estimada mãezinha há trinta e seis anos. Sei exatamente como funciona esse traço irritante de pontualidade, pois eu o herdei. — Carina ergueu o braço esquerdo à fim de verificar as horas em seu Cartier — tenho algum tempo ainda, não me apresse. Eu vou para o meu quarto me arrumar. — ela levantou-se, utilizando o guardanapo preto bordado, que até então era mantido em seu colo, para limpar os cantos de sua boca, dispensando-o em seguida ao lado do prato — Não quero que ninguém me incomode, senão, aí sim não conseguirei cumprir com os devidos horários marcados. Encarregue-se do meu sossego por pelo menos alguns minutos. — altiva por natureza, a mulher deu alguns passos em direção a saída. Antes de transpor a porta, voltou a sua atenção para a loira que a observava — Por favor? — Então, ela sorriu brevemente ao receber o assentimento com a cabeça, sumindo casa a fora.

O caminho até a sua suíte não era tão longo, em termos de distância, Mara demasiado exaustivo para Deluca, atenta aos empregados indo e vindo a executar as suas funções, ao mundo ostentativo à que pertencia, sempre era remetida à divagações sobre a sua vida e sobre si mesma.

" A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes (...) Receio que não possa explicar, Dona lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma poção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma..."

Alice no país das maravilhas era um dos clássicos infantis que mais lhe apetecia. Por motivos aquém de seu conhecimento, sempre se lembrava desse trecho da história ao percorrer os metros que se davam entre a sala de jantar e seus aposentos. Contudo, em seu íntimo, ela sabia que todos os seus questionamentos de cunho filosófico, faziam-na se parecer com a dona lagarta.

A Filha do Presidente ( adaptação )Onde histórias criam vida. Descubra agora