Capítulo 11 - O amargo da dor

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Quando um dos nossos heróis não consegue lidar com o que sente, uma onda de drama se aproxima.

•••

Aquela noite, com certeza, estava sendo a mais estranhamente emocionante de toda a minha vida.

Depois de invadir uma festa de casamento, passar um tempo dentro de uma fantasia de pato e ter beijado a Liz eu deveria estar me sentindo completo.

Eu deveria.

Diabos, eu deveria. Mas a verdade é que eu não estou.

E isso nos leva ao momento presente. Elis e Elizabeth estão terminando de enrolar um doce que tínhamos feito na cozinha do estabelecimento para cumprir mais um item da lista. Para a minha sorte, elas estão distraídas o suficiente para não perceberem minha hesitação. Meu humor mudou desde que Liz e eu nos beijamos, isso é um fato que não posso negar.

Ver os olhos dela brilhando para mim me lembrou de quem eu realmente sou: um homem quebrado e inseguro. Nunca a pessoa ideal para alguém como ela.

Meus pensamentos foram interrompidos quando Liz me cutucou, ainda sorrindo, falando que deveríamos ir embora.

— Foi bom conhecer vocês! Curtam bem essa noite. – Elis disse sorrindo maliciosamente enquanto entrava em seu carro.

Liz olhou as horas no seu relógio de pulso antes de se dirigir a mim.

— São oito horas da noite e nós temos duzentos reais. Sabe o que isso significa...? – ela perguntou com um divertimento ansioso no olhar e eu apenas dei de ombros.
Pude sentir uma faísca de decepção saindo de dentro dela nesse momento. — Significa que podemos cumprir o décimo segundo item da lista! Aquele de dormir num motel por pura rebeldia. O que você acha?

— Ah... Pode ser. Por mim tudo bem.

— Logan, está tudo bem? – ela tocou meu ombro delicadamente e eu senti um nó crescer em minha garganta.

Eu assenti, indicando que estava tudo bem, mas a verdade é que eu não estava. O problema é que seria difícil explicar porque estou me sentindo assim. Em todos esses anos eu nunca pude entender isso direito, como eu poderia esperar que alguém entendesse?

Liz apenas suspirou. Eu podia sentir ela sendo compreensiva mesmo sem saber o que está acontecendo e isso só me faz perceber ainda mais o quanto ela é maravilhosa.

E é por isso que eu sinto que não a mereço.

Pegamos um táxi e pedimos para ele nos levar ao motel mais próximo, e devo pontuar que foi uma situação um pouco constrangedora. Tenho quase certeza que ouvi o taxista suprimir uma risada.

Encostei a cabeça no vidro e respirei fundo. Senti o olhar preocupado da Liz em mim, mas não consegui olhá-la de volta.

E sinto que vou me arrepender disso pro resto da vida.

•••

A experiência de ter reservado um quarto em um motel foi extremamente constrangedora e eu estou me perguntando até agora por que diabos colocamos esse item na lista. Apesar de não termos visto o rosto da pessoa que nos atendeu, eu senti como se minha alma estivesse exposta e, por incrível que pareça, Liz estava ainda mais nervosa que eu, mesmo que tenhamos reservado um quarto apenas para avançar na lista.

Agora estou aqui, sentado na cama encarando um ponto fixo na parede, enquanto Liz vasculha cada canto do lugar.

— Olha, acho que pegamos o quarto mais sem graça. Nos filmes os motéis costumam ter uma mini geladeira e uma cama que balança. – ela disse, enquanto tentava ligar a televisão — E provavelmente essa bomba aqui não funciona.

Minha única reação foi concordar com a cabeça quando ela olhou para mim.

— Sabe o que eu estava pensando? O décimo primeiro item da lista diz que devemos comprar fantasias, mas tecnicamente já cumprimos esse item porque estávamos vestidos de patos naquele casamento. – ela riu e se sentou ao meu lado na cama. — O próximo agora é pescar. Amanhã só teremos que encontrar um lago e...

— Não.

— Não o que? – ela perguntou, confusa. Engoli em seco me preparando para o que viria a seguir.

— Não podemos continuar com isso. – parei de encarar o teto e resolvi olhá-la nos olhos. — Acho... acho que talvez eu tenha feito você criar expectativas demais.

Esperei alguma reação alarmante, mas Liz continuou em silêncio e com o rosto sem expressão.

— Expectativas em mim... em nós. Simplesmente não podemos continuar com essa lista porque podemos acabar entrando em rumos perigosos.

Liz não disse nada.

Por uns 15 segundos, ela apenas ficou em silêncio.

— A iniciativa do beijo foi sua, eu nunca obriguei você a fazer nada.

_ Eu sei. E isso foi um erro.

E, então, ela arregalou os olhos, em choque e eu senti meu sangue sumir das veias.

— Eu já passei por isso antes, Elizabeth. Não sou bom em relacionamentos e eu não sou o homem que você espera. Não sei demonstrar sentimentos e nem fazer inúmeras provas de amor, eu simplesmente não sou a pessoa que você merece.

Nesse momento ela ficou de pé e eu senti que algo muito desagradável estava por vir.

— Você ser alguém que eu mereço não é algo que eu deveria decidir? – Liz disse com a voz embargada e eu podia sentir decepção e angústia saindo dos lábios dela.

— Confie em mim quando eu digo que não sou a pessoa certa para você. Eu já me envolvi com alguém antes e acabei a magoando por ser assim... não quero que aconteça o mesmo com você.

— Se sabia que não queria ter algo comigo, por que me beijou? Por que fez com que eu sentisse que você via algo especial em mim? – o desapontamento no rosto da Liz era evidente. Seus lábios estavam trêmulos e ela apertava os dedos sem parar para controlar o turbilhão de emoções. Saber que fui eu quem causou aquilo fez com que eu sentisse meu coração apodrecer aos poucos.

Sou acostumado a ver a Liz sorrindo com uma felicidade contagiante. Mas olhá-la triste e decepcionada e saber que a culpa era minha, me fez sentir uma pessoa totalmente desprezível.

— Sinto muito, Liz. – foi tudo que eu consegui dizer. O erro era meu e nenhum argumento poderia mudar isso.

Elizabeth ficou em silêncio por alguns instantes. Notei que ela tentava controlar a respiração agitada quando tirou um papel do bolso da saia. Era a lista que tínhamos escrito.

— Eu não esperava nada, e ainda assim estou decepcionada. – ela disse, com a expressão endurecida pela mágoa.

Depois disso, Elizabeth jogou a lista na lixeira do quarto e foi embora.

  Quando me vi completamente sozinho naquele quarto, fechei os olhos e senti as lágrimas rolarem pelo meu rosto.

Liz & Logan (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora