Capítulo 2 - A curiosidade matou o chapéu de penas

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Não é segredo para ninguém que a curiosidade pode nos levar para rumos perigosos, mas Liz parece não ligar muito para isso. Usando um chapéu num tom esquisito de amarelo e óculos em formato de estrela, ela atravessa a porta da pizzaria esperando descobrir algo sobre alguém em especial, mas a noite pode terminar bem diferente do esperado...

•••

Eu me pergunto seriamente o que meus antepassados pensariam de mim se soubessem o que eu estou fazendo.

Qualquer adolescente de 17 anos sem nenhuma atividade acumulada aproveitaria o tempo livre para assistir uma série ou ler livros eróticos, mas, aqui estou eu, usando um disfarce (que modéstia à parte, ficou muito bom), fingindo estar lendo o cardápio e esperando por alguém que eu nem sequer conheço. A curiosidade não só falou alto; ela berrou, gritou e cantou ópera e por isso estou aqui me sujeitando a um papel que não me orgulho muito.

Olho o relógio: são 19:57 da noite. Estou lendo a porcaria do cardápio há 15 minutos e até agora nenhum sinal do meu alvo. Pensando bem, eu acho que eu deveria ter montado uma estratégia ao invés de simplesmente seguir meu coração – e minha curiosidade sem limites – e vir parar aqui.

— Já decidiu o que vai pedir? – levanto os olhos e me deparo com o garçom que já veio três vezes na minha mesa. Ele, provavelmente, estava achando minimamente suspeito o fato de alguém demorar 15 minutos para fazer um pedido.

— Ainda não. É que eu sou um pouco... Indecisa. – dou uma risada não muito natural e posso notar o olhar desconfiado que o garçom me dá. Ele me olha como se tentasse descobrir se eu tenho algum plano de destruir a pizzaria e, depois de alguns segundos, acredito que ele tenha chegado à conclusão de que eu era muito raquítica para algo tão elaborado e vai embora em silêncio.

Talvez seja a hora de parar de olhar esse cardápio e começar a agir – acabei decorando todos os sabores e os ingredientes de cada um deles de tanto ler –. Respirei fundo e listei coisas que poderia fazer para encontrar o dito cujo:

Item 1: subornar o garçom para pedir informações sobre o meu alvo.

Item 2: Investigar em todas as áreas do local.

Considerando o fato de que suborno é um tanto antiético, a segunda opção é a mais viável. Levanto da cadeira, ajeito o estiloso chapéu em minha cabeça e respiro fundo.

Sinto que vou encontrar algo muito interessante.

•••

Olhei meu relógio e fiz uma conta mental.

10 minutos. Faziam 10 minutos que eu estava agachada entre um balde de maionese caseira e uma prateleira velha espiando pela brecha da porta e me arrependendo amargamente de ter seguido meu coração intrometido. Qual o meu problema, afinal? Meu eu do passado com certeza não aprovaria isso.

Repasso mentalmente os acontecimentos anteriores. Eu esqueci totalmente o fato do suborno ser antiético quando paguei 40 reais para Tiago, um dos pizzaiolos dos meus avós, me esconder na pequena despensa da cozinha e me dar informações sobre o meu alvo.

A situação foi a seguinte: eu estava pensando no quão boa espiã eu seria e nos vestidos decotados que usaria para me infiltrar nas festas quando me esbarrei com o Tiago e o meu disfarce foi por água abaixo. Não foi muito difícil para ele me reconhecer; brincávamos juntos quando éramos crianças e eu tinha uma queda enorme por ele, até descobrir que ele tinha uma queda enorme pelo meu irmão mais velho. Hoje em dia ele trabalha para os meus avós e eu tinha sido pega no pulo. Expliquei toda a história para ele. Tiago riu da minha cara, depois riu mais um pouco e disse que me ajudaria e, de quebra, me contaria tudo que sabe sobre o Logan. Eu estava prestes a agradecer ele em 40 idiomas diferentes até, coincidentemente, ele me dizer que as informações custam 40 reais.

Liz & Logan (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora