Liam
EU VI. Através do vidro, eu vi.
Eu estivera observando as roseiras, vendo o que precisava ser feito, quando percebi que precisaria de luvas para poder começar. Conforme avancei na direção da casa, vi Theo através da porta de vidro do quintal e decidi bater. Então, me aproximei e notei que ele segurava o moletom que eu havia usado. Estava com o rosto enterrado nele.
Primeiro, achei que fosse ilusão de ótica causada pela luz refletida no vidro, minha mente fantasiando com o reflexo. Mas pisquei várias vezes e ele continuava na mesma posição.
Meu coração bateu mais rápido. Por que um homem cheiraria a roupa de outro homem daquele jeito se não fosse para tentar sentir o cheiro dele? Senti um frio na barriga.
Mas, em vez de ficar parado lá, correndo o risco de ser pego, decidi olhar para o outro lado enquanto batia no vidro. Fazer com que pensasse que eu não tinha visto nada. A outra opção teria sido estranha demais para nós dois.
Felizmente, eu era um bom ator. Perguntei a ele sobre as luvas sem nenhum tremor na voz e consegui me manter impassível. Ele, por outro lado, tinha as bochechas muito vermelhas e evitou contato visual. Eu nunca o tinha visto tão perturbado. Ele saiu e foi até a garagem sem nem olhar na minha direção.
Quando encontrou as luvas e as entregou a mim, já parecia recomposto, em seu estado natural. Disse o que queria que eu fizesse no quintal como um todo, quais eram as prioridades do dia e onde estavam as ferramentas. Escutei, fiz perguntas e garanti que era capaz de fazer tudo o que ele queria, mas, em minha mente, só conseguia vê-lo enterrando o rosto naquele moletom.
Fiquei obcecado com aquilo a tarde toda, acrescentando todos os detalhes significativos – a inexistência de uma namorada ou esposa. O momento estranho na cozinha, quando passou pela minha cabeça aquela ideia doida de que ele poderia me beijar. A forma como olhou para mim na noite anterior, em meu quarto.
Talvez eu não estivesse maluco.
Será que eu havia sentido uma química entre nós? Será que a atração era recíproca? Será que ele estava cheirando aquela blusa pelo mesmo motivo que eu aceitara suas roupas emprestadas na noite anterior – para viver a ilusão de intimidade sem que tenha havido de fato um toque físico?
Naquela manhã, eu teria dito que não era nada daquilo.
Agora começava a duvidar.
■
QUANDO THEO VOLTOU do mercado, levou as compras direto para a casa, sem nem olhar na minha direção. Ele passou a tarde toda cozinhando e preparando o jantar sem me dirigir a palavra, embora a certa altura tenha feito para mim um sanduíche e batatas fritas que deixou na mesa do pátio – uma mesa de madeira comprida com um banco de cada lado. Ao lado do prato, deixou um copo grande de água gelada. " Almoço", gritou para mim antes de voltar para dentro.
Agradecido, fiz uma pequena pausa para comer e descansar e, quando terminei, deixei o prato e o copo na mesa, pensando em levar tudo para dentro quando acabasse o serviço. Mas pouco depois, olhei para a mesa e descobri que ele já os havia levado.
A essa altura, eu estava a ponto de concluir que tinha me enganado completamente com relação a ele. Theo não estava, de jeito nenhum, agindo como alguém interessado em mim. Na verdade, eu começava a achar que ele estava irritado comigo por algum motivo.
Por fim, ele saiu para falar comigo. Eu estava aparando a grama quando ele apareceu, com as mãos nos bolsos. A tarde estava quente, então eu havia tirado a camiseta e, ainda que ele estivesse usando óculos escuros, pude ver como olhava para o meu corpo. Eu sentia o sol quente nas costas, mas o olhar dele no meu peito era ainda mais quente.
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E Se Acontesse? ~ Version Thiam (Pausada)
FanfictionEu não queria me envolver com Theodore Raeken. Eu não queria me envolver com ninguém. Tudo o que eu queria era começar uma nova vida na América. Mas, quando me encontrei sem ninguém e sem abrigo, ele veio em meu socorro, oferecendo-me um lugar para...