Na noite após o primeiro dia de plantão, Rafaella e Bianca não cogitaram fazer nada que não fosse estudar o caso de Gabriela para poder falar na reunião que teriam dali a dois dias, na quarta-feira. A mineira havia alugado um apartamento para morar sozinha. Até tinha recebido um convite de Marcela para morar com ela, mas a verdade é que gostava de sua individualidade, de chegar em casa e ficar sozinha.Bianca, por outro lado, dividia apartamento com uma amiga de infância, que foi para São Paulo tentar uma carreira na música. Morava relativamente longe do hospital, mas pelo menos só precisava pegar o metrô, já que a estação era perto do prédio. Chegou cansada, o dia havia sido exaustivo fisicamente e mentalmente também. Com certeza o desgaste que teve com a loira lá contribuiu muito para a pontada que sentia na cabeça.
- Manu! - gritou assim que fechou a porta.
- No quarto! - a voz veio abafada do final do corredor.
A carioca largou a mochila no chão mesmo, ao lado da porta, e foi direto para o quarto da amiga. Encarou a baixinha que estava deitada na cama e deixou uma respiração pesada sair. Ela precisava de Manoela em sua vida. Era quem a conhecia sem qualquer reserva, quem estava familiarizada com seus monstros e, principalmente, era em quem confiava. Manu era uma das poucas certezas que Bianca tinha na vida e jamais abriria mão dela.
- Ih, já vi que aí tem coisa! - chegou para o lado e bateu no colchão, para que a amiga sentasse. - Vai, começa bem do comecinho.
Bianca passou aproximadamente uma hora falando sem parar. Era assim que funcionava o diálogo delas quando a carioca precisava contar algum acontecimento. Primeiro, ela falava tudo com todos os detalhes que conseguia lembrar. A cantora escutava sem fazer observações, apenas deixava a amiga colocar tudo pra fora e também porque sabia que ela detestava ser interrompida no meio de um pensamento.
No entanto, naquela noite, Manoela estava se divertindo horrores com os relatos de Bianca. Finalmente ela encontrou alguém que - aparentemente - poderia desafiá-la. No Rio de Janeiro, ela sempre foi o destaque, a pessoa que a turma inteira parava para escutar e apoiar as decisões. Em São Paulo as coisas já tinham começado diferente. A morena teria que aprender a lidar com algumas frustrações e aquilo seria bom para ela. Era um amadurecimento.
- Desculpa, Bia. - Controlou a respiração, depois da risada. - Mas é que é impossível não rir.
- Rir de quê, Manoela? - encarou a amiga, com os braços cruzados. - Da minha humilhação? Foi horrível! Ela simplesmente resolveu tudo pelas minhas costas, sem nem ao menos querer saber a minha opinião! Era um diagnóstico que nós deveríamos encontrar juntas!
- É, minha amiga... Me parece que você vai encontrar alguns desafios aqui em São Paulo. - pegou o celular e desbloqueou. - É Rafaella de quê? Quero ver a cara da mulher que não deitou para a soberana da sabedoria, Dra. Bianca Andrade.
- Ai minha filha, me economiza, né? - bufando, levantou da cama. - Que diferença faz? Nunca mais eu vou interagir com ela na minha vida! Quer dizer... Nunca mais depois dessa bendita reunião.
- Ai, e daí? Quero ver a cara dela. - esticou o braço com o celular na mão, já com o instagram aberto na página de pesquisa. - Anda logo, que eu tô curiosa.
- Eu não entendo essas suas curiosidades. - resmungando, pegou o celular para pesquisar a rede social da loira. Não foi difícil, só tinha ela com aquele sobrenome. - Pronto. Satisfeita?
- Puta que pariu, Bianca! - arregalou os olhos e tapou a boca com uma mão. - Agora eu entendi porque tu tá toda mordida aí!
- Que mordida o quê, Manoela. Tá viajando, é?
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Awake
FanfictionOs caminhos que escolhemos viver nos constroem e nos destroem. Nem sempre na mesma proporção, é verdade, mas os fardos sempre estão lá, assim como as conquistas. Cedo ou tarde, todo mundo é forçado a assumir o controle da própria vida, trilhar sua p...