Temporal

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No caminho até em casa, dentro do uber, Bianca foi observando o céu. De fato, parecia que uma tempestade estava se formando, os ventos já eram mais do que fortes e balançavam as árvores grandes e robustas que existiam pelas ruas. Um arrepio passou por sua coluna enquanto ela tentava desviar aquele pensamento. Não tinha com o que se preocupar, já estava chegando em casa e Manoela estaria lá, esperando por ela. Não estava no Rio de Janeiro, não tinha mais seis anos e já era uma mulher, uma adulta que não tinha do que se proteger, porque nada estava acontecendo. Ela estava bem, por isso se concentrou em relaxar.

Mentalizou suas âncoras e voltou a encarar o céu, como se tentasse enfrentar o próprio medo. Quanto mais ela o enfrentasse, mais rápido ele sumiria. Precisava se fortalecer e tentar deixar o passado no passado.

- Vou ter que mudar a rota, mas acho que vamos demorar mais do que o esperado. Uma árvore caiu no meio da avenida e as outras estão congestionadas. - o motorista fez careta enquanto encarava a tela do celular, analisando as informações. - A gente deve ficar parado aqui por pelo menos uns trinta minutos.

- Não tem nenhum outro caminho? - dessa vez Bianca se desesperou, mesmo que não fosse tanto.

Uma coisa era ela estar com medo, mas estar em casa, com alguém que ela conhecia e confiava. Outra totalmente diferente era ela estar ali, com alguém que ela não conhecia e que não seria capaz de confortá-la caso fosse necessário. Aquele cara, no máximo, acharia que Bianca era alguém com aquele medo infantil de chuva - e ela odiava passar aquela impressão.

- O único caminho possível é voltar pra onde a senhora estava. - ele disse, simples. - A gente pega essa rua aqui e vai cortando por dentro. - apontou. - Eu cobro o mesmo preço a senhora.

Bianca suspirou, analisando suas opções. Nenhuma delas era agradável, já que a primeira era continuar ali e a outra era voltar para o apartamento de Rafaella. Com que cara apareceria lá? O que a mineira iria pensar? E, além de tudo, ter que dar de cara com o namorado da loira, que também não iria entender o motivo de ela estar ali, novamente.

Apesar da presença de Caon, Bianca sabia que, de uma forma ou de outra, Rafaella não a julgaria ou interferiria em seu silêncio. Não encheria sua cabeça de perguntas e nem oferecia um ombro pra chorar tão explicitamente, mas, pelo menos, deixaria Bianca tentar se acalmar. Ela já se sentia desesperada o suficiente e percebia que seus limites já estavam próximos de serem alcançados. Não queria ter que chegar ao extremo. Precisava de um lugar minimamente seguro e, dessa vez, seria o apartamento de Rafaella.

- Volta, por favor. - decidiu e o rapaz balançou a cabeça positivamente.

As ruas já estavam um caos e Bianca estava acostumada com isso, já morava em São Paulo por tempo suficiente para entender que na primeira gota d'água, num horário de pico, quase tudo ficava estagnado. Mas naquele dia ela se sentia exposta demais - talvez por ter passado por um dia instável. Aquela reuniãozinha com as meninas havia amenizado e melhorado o seu dia, de fato, mas ela ainda se sentia fragilizada. Seus sentimentos ainda estavam fora do controle que costumavam estar e ela só precisava de um lugar que se sentisse segura.

À medida que o prédio onde Rafaella morava se aproximava, a chuva piorava, os ventos ficavam mais fortes e as trovoadas ficavam mais altas. O motorista teve que estacionar um pouquinho mais longe para que Bianca não pisasse nas enormes poças d'água que estavam perto da calçada e, por isso, a carioca ficou ensopada no pequeno trajeto entre o carro e a portaria.

O porteiro a encarava de uma forma esquisita, como se ela fosse um ser de outra dimensão, mas aceitou interfonar para o apartamento de Rafaella para pedir a autorização para a entrada de Bianca. A mineira aceitou e pediu para que ela subisse.

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