Bianca, naquele mesmo dia que foi obrigada a ver Rafaella beijar Caon num momento que era pra ser única e exclusivamente delas, decidiu ir embora para evitar acabar com o clima do casal. Se despediu deles e caminhou pelo corredor, na direção do elevador, para esperá-lo.
A carioca não estava com raiva da loira e nem da situação, já que eles eram namorados e ela era apenas um divertimento de Rafaella - era bom, sincero, único e intenso, mas ela entendia que deveria saber separar as emoções da realidade e respeitar os limites do vínculo carnal que elas tinham. Mas, apesar disso, Bianca tinha um incômodo que não sabia descrever. Há alguns minutos ela sentia uma grande indiferença por Caon, um sentimento neutro que pendia para o lado negativo, mas nada muito incisivo. Porém isso mudou depois daquela cena na porta do apartamento de Rafaella… um estalo, que Bianca não sabe descrever bem, aconteceu. O sentimento de indiferença se transformou numa confusão incontrolável que crescia dentro de si. Não era raiva, não era rancor… Bianca não sabia descrever! Talvez fosse um tipo de desconfiança? Aquele sentimento de que algo estava muito errado ali, mas ela nunca saberia o que seria?
Ela havia conhecido a versão leve e feliz de Rafaella. Sabia que aquela faceta da loira era rara, sabia perceber quando a mulher estava confortável ou não, sabia entender o que acontecia mesmo sem saber de nada… Bianca sabia. Ela sabia que tinha algo que deixava Rafaella desconfortável ali, no meio do abraço e dos beijos do namorado. E ele, por sua vez, não parecia nem conhecer a linguagem corporal da namorada, não parecia nem conhecê-la! Era tão… artificial? Frio?
Balançou a cabeça mais uma vez, afastando os pensamentos. Poderia ser só uma má impressão que teve, já que Rafaella é uma mulher ciente de tudo o que faz e, de forma alguma, ficaria com alguém que a deixasse desconfortável. Era esse o pensamento que Bianca usava como embasamento teórico para derrubar seus achismos. A loira era inteligente o suficiente para saber onde estava pisando. Não se envolveria com Caon se não se sentisse confortável na presença dele.
Talvez esses seus pensamentos fossem só uma pontinha de chateação e ela não sabia nem se tinha o direito de se sentir assim por não ser a prioridade da loira naquele momento, já que, desde o carro, as duas trocavam olhares e toques que se concretizariam num tempo posterior - que, obviamente, não aconteceria, já que Caon estava ali, atrapalhando. Mas estava sentindo algo muito próximo a frustração, pois já tinha se acostumado com a ideia de ter Rafaella só para si nesses momentos. Ela mal lembrava que a mulher tinha um namorado.
Afastou os pensamentos, balançando a cabeça e encarando a tela do celular, procurando o aplicativo da Uber. No mesmo momento, ouviu alguns gritos ecoarem de dentro do apartamento e se estacionou na porta.
- Eu queria saber que porra que tinha acontecido quando a gente transou! Queria saber porque você me mandou parar, porque você me mandou embora e ainda ficou com aquela cara de choro olhando pra mim! Como se a porra da culpa fosse minha. - a voz de Caon apareceu e Bianca tentou entender o que aquilo significava.
- Claro que não você fez… - a voz da loira apareceu e, apesar de tentar manter um autocontrole, a voz da mineira estava alterada. Bianca não a reconhecia ali. Bianca já estava ouvindo a mulher há um tempo, mas naquele momento sua voz estava tão alta que a morena era capaz de ouvir todas as palavras com muita clareza. - Porque nesse dia você tava com o ego abalado demais, porque eu não deixei você me comer! Eu não queria e o motivo que você tem é esse. Eu não queria transar como você. Pronto! Você tem sua explicação!
Bianca conteve o impulso de bater na porta, na tentativa de chamar Rafaella. Ao mesmo tempo que queria conter a situação, talvez tirar a loira dali de alguma forma, sabia que essa ação não lhe cabia e, também, não queria ver o estado em que Rafaella estava. Sabia do controle que a mulher tinha sob as emoções e ele estava sendo explicitado bem ali, ela estava retrucando, se defendendo e se impondo, como sempre fazia… Mas Bianca não queria ver o pós - sabia, muito bem, como ele funcionava. Ela sabia que essa era a parte mais dolorida e ela não estava pronta pra dar de cara com a Rafaella que fazia com que ela se lembrasse de sua mãe.
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Awake
FanfictionOs caminhos que escolhemos viver nos constroem e nos destroem. Nem sempre na mesma proporção, é verdade, mas os fardos sempre estão lá, assim como as conquistas. Cedo ou tarde, todo mundo é forçado a assumir o controle da própria vida, trilhar sua p...