Dentro daquele carro, Bianca se perguntava de trinta em trinta segundos se havia feito a escolha certa. Sabia que não iria se arrepender, porque era o que queria. Mas não tinha, de fato, pesado as consequências daquele convite que, estranhamente, foi aceito. Se estava sendo imprudente, pelo menos não estava sendo sozinha. E, obviamente, teria quatro dias para aproveitar tal imprudência.Quatro dias.
Suspirou. Era bastante tempo para estar ao lado de uma pessoa que tinha pouca intimidade. Não conhecia os hábitos, as manias. A carioca não era difícil de conviver, não tinha excentricidades e, pelo pouco que conhecia da mulher ao lado, achava que ela também não. Se sentia um pouco nervosa e não tinha vergonha de admitir para si mesma. Mas, para aquele feriado dar certo, precisava voltar para a sua personalidade extrovertida que conseguia se encaixar em qualquer situação.
Por isso, à medida que a distância entre São Paulo e Campos do Jordão diminuía, Bianca deixava os pesos e aflições serem arrastados pelo vento da estrada. E, ao contrário do que a morena achava, deixar as preocupações de lado não foi difícil. Tudo, ali naquele carro, contribuía exatamente para isso. A música ambiente, o carinho contínuo em sua coxa e os tons de verde da estrada faziam tudo de ruim ir desaparecendo aos poucos. Tanto que, quando estacionaram em frente ao chalé onde ficariam hospedadas, Bianca já se sentia bem melhor. Quase cem por cento relaxada e capaz de voltar a sua melhor versão.
- Chegamos. - Bianca sussurrou enquanto observava o chalé e todo o ambiente ao redor dele.
Todos os chalés eram bem afastados um dos outros e, entre eles, existiam pequenos bosques com alguns ipês, arbustos e canteiros, o que deixava a estadia ainda mais privada. Pelo o que Bianca havia observado, o chalé onde ficariam hospedadas era o maior e, talvez, o mais bonito. Seus olhos estavam encantados pela estrutura de madeira com algumas janelas de vidro.
Não precisaram de muito tempo para se sentirem à vontade no lugar. O interior era tão confortável quanto o exterior e a sensação era de que a natureza se integrava perfeitamente à construção. Olhou ao redor, admirando a decoração que mesclava perfeitamente os móveis rústicos com os utensílios modernos. Em cima da bancada da pequena cozinha, que era integrada com a sala, notou uma cesta com alguns queijos e uma garrafa de vinho, ao lado, um papel com a logo da rede de hotéis guardava um breve recado que desejava boas-vindas às hóspedes recém-chegadas.
- Mais um agradecimento para a doutora mais legal do HC. Obrigado, doutora Bianca. Que sua estadia seja excelente e a primeira de muitas! - Rafaella leu o cartão antes de estender para Bianca. - É... Essa doutora tá fazendo sucesso mesmo, né?
- Encantar corações é muito fácil, Rafa. Um dia eu te ensino. - piscou para a mulher, que riu e tirou a garrafa de dentro da cesta. - Vamo abrir logo?
- Já? Não são nem... - acendeu a tela do celular para ver a hora. - Dez horas da manhã ainda.
- É? - a carioca rebateu e se aproximou da loira, colocando a mala de mão no chão, encostada na parede. - A gente não precisa beber tudo agora. Vamo tomar enquanto a gente se acomoda, pode ser?
- Não tá muito cedo pra isso, Bia? - ainda não estava convencida.
- Um golinho só, Rafa. Só pra gente chegar bem, não precisa ser uma taça inteira. - apelou para um sorriso encantador, sem saber se funcionaria com aquela mulher.
Rafaella apenas assentiu, enquanto mantinha os olhos fixos na carioca. Existia uma animação e uma esperança ali que a loira havia visto, pela primeira vez, no primeiro dia de residência. Bianca estava extremamente feliz. Tão feliz que contagiava até os objetos inanimados do ambiente. Rafaella havia achado tudo muito bonito quando viu pela primeira vez, mas, naquele momento, onde a carioca se misturava com o ambiente, ele havia ficado ainda mais aconchegante. Tudo parecia mais vívido e real - e a risada da carioca, que tentava abrir a garrafa, era a trilha sonora daquela cena que a loira assistia.
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Awake
FanficOs caminhos que escolhemos viver nos constroem e nos destroem. Nem sempre na mesma proporção, é verdade, mas os fardos sempre estão lá, assim como as conquistas. Cedo ou tarde, todo mundo é forçado a assumir o controle da própria vida, trilhar sua p...