Passado

1.5K 152 225
                                    


Quando Marcela chegou no apartamento da amiga, precisou de alguns minutos para se recuperar do susto. Rafaella estava uma bagunça. O cabelo preso de qualquer jeito, as coisas espalhadas pela casa, o que, por si só, já era um sinal de que algo estava muito fora do eixo. Mas o que mais a deixou alarmada foi o olhar perdido da amiga. Uma bagunça.

Então sim, estava chocada, estava confusa e levemente preocupada.

De início, não comentou nada. Apenas entrou devagar e analisou o ambiente. Em cima da bancada da cozinha, tinha uma garrafa de vinho pela metade, enquanto Rafaella preparava uma bandeja com alguns aperitivos com uma mão e segurava a taça com a outra. Ela fazia tudo muito rápido e no modo automático. Mesmo completamente desestabilizada, tinha muito cuidado e esmero.

- Rafa... - tentou chamar atenção da mineira, que tirava azeitonas da geladeira. - Tá tudo bem, amiga?

- Não tá, mas vai ficar. - virou para ela e lhe entregou a tábua de frios. Pegou a cesta onde ela tinha colocado pães e algumas torradas. - Vamo sentar que eu te explico.

Se acomodaram no sofá perto da janela, sentadas uma de frente para a outra, com as comidas apoiadas na mesa de centro que tinham puxado para perto. Se Marcela dissesse que não estava curiosa, ela estaria mentindo. Mas aguardaria a amiga dar o primeiro passo.

- Então. - virou de vez o resto de vinho que tinha em sua taça e se serviu novamente. - Você sempre esteve certa.

- Ok... - a paulista continuava confusa com o comportamento estranho da mineira. - Em relação a quê?

- Bianca. - soltou uma respiração pesada e, com o cotovelo apoiado no encosto do sofá, levou uma mão à testa, com os olhos fechados. - Ela me desestabiliza. Tipo muito. Muito mesmo.

- Vocês discutiram de novo? - aquela conversa já havia começado interessante.

- Sim, mas esse não é o problema. - era a hora da verdade para Rafaella. Estava diante da única pessoa que confiava no mundo, a única que poderia se abrir sem qualquer reserva. - A gente ficou ontem, na festa.

- Certo... - deixou aquela informação ser digerida, mas precisava de mais. - E por que isso é um problema? Por causa do Caon?

- Caon? - arqueou uma sobrancelha enquanto a encarava. - Você sinceramente acha que ele não dá as puladas de cerca dele?

- Ué, não sei. Cê nunca comentou nada... - encolheu os ombros, bebendo um gole do vinho em seguida.

- Ele tem muitas qualidades, mas você já conheceu algum homem que tenha tanta liberdade quanto ele e que nunca tenha traído? - falava aquilo sem qualquer mágoa ou constrangimento. O jeito que Rafaella enxergava o mundo, principalmente os homens, era diferente. - Se a gente transar três vezes no mês, é muito. Certeza que ele me trai. - gargalhou, lembrando das vezes que fez perguntas inocentes e ele ficou nervoso para responder. O namorado se entregava sem ela ao menos tentar. - Por isso que até hoje eu faço ele usar camisinha. - deu um sorriso maroto para a amiga, que a acompanhou.

- Essa é a minha garota. - deu dois tapinhas no ombro dela, parabenizando-a.

- Seria muita burrice minha se eu caísse nessa, né.

- Mas não ache que não acontece não, viu? Tem mulher que quando se apaixona... Esquece de tudo. E aí, minha filha, não existe idade e nem experiência. O que eu atendo naquele hospital, você não faz ideia.

- Marcela. - interrompeu a fala da amiga. - Você acha que eu sou apaixonada pelo Caon? - a paulista riu e negou com a cabeça. - Ah bom, já tava ficando preocupada. - relaxou um pouco. - Mas sim, o que me preocupa não é ele. Ou quem me preocupa, né...

AwakeOnde histórias criam vida. Descubra agora