Hey, pessoas!! Boa noite!
BOA LEITURA!!!
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_________________Camila
Quando anoitece os dois voltam, mas Raul sai em seguida e Liyah se tranca no quarto com dor de cabeça. O jantar é trazido, e eu guardo a refeição dela na geladeira. Fico tentada a bater no quarto do Shawn, mas decido por não ir. Ele sai de lá quando ouve a campainha, sabe que a comida chegou.
Sento-me numa banqueta no balcão e começo a me alimentar. Estou aprendendo a comer mais devagar, Liyah disse que posso passar mal e isso é a última coisa que quero.
Passar tanto tempo sem comer como eu fiz acaba nos dando medo de voltar a ficar sem comida. Estremeço, deixando meus pensamentos me levarem ao quarto onde Bertoni me deixava.
E todas as estradas que te levam até lá são tortuosas
E todas as luzes que iluminam o caminho nos cegam
A canção ressoa em minha mente enquanto os olhos da minha mãe surgem em meus pensamentos. O que ela está fazendo hoje? Todos os dias me pergunto a mesma coisa. Será que ela me esqueceu? Teve outros filhos? Será que perdoou meu pai por ter me trazido para o inferno?
Enrolo-me em uma bolha, tentando contar na minha cabeça e conjugar verbos. Isso me faz esquecer a fome. A dor hoje está insuportável, mas todos os dias eu penso o mesmo. Ela aumenta a cada amanhecer.
Deslizo minhas mãos pela minha pele suja e tremo, querendo tomar banho. Não sei por que papai não veio mais me ver. Ele sempre me manda tomar banho quando vem, e eu como muito. Hoje, até seu toque seria suportável. Eu não tremeria. Eu só preciso comer.
Arrasto-me para o cano pingando e me deito de lado, deixando meus lábios abertos, recebendo as gotas dágua. Meus olhos pesam e eu acabo desmaiando na poça dágua que os pingos fizeram.
Passos e uma voz distante me fazem acordar. Arregalo meus olhos quando a imagem de Papai surge. Ele mandou alguém vir me buscar. Graças a deus. Arrasto-me até a porta e bato nela. Em segundos, alguém devolve as batidas e eu me forço a bater, respondendo, e me afastar.
Percebo, com os olhos vidrados na madeira, que não são os homens que trabalham para Papai. Eles não batem, apenas entram.
Quando a forma grande de um homem, de olhos esverdeados arregalados surge, eu tomo uma respiração longa, temendo estar sonhando. Ele é meu anjo.
Ele veio me salvar.
Pulo, assustada com a mão de alguém em meu ombro. Quando me viro, vejo Shawn parado.
— Está tudo bem? Você não respondeu quando chamei.
— Desculpa. — Forço um sorriso de lábios fechados e baixo meus olhos para minha pele. Meu queixo treme quando sinto a necessidade de tomar banho.
— Eu preciso preciso usar o banheiro. Não quero incomodar a Liyah
— Claro.
Corro para seu quarto e retiro minhas roupas. Tranco a porta e abro o chuveiro, procurando a esponja. Assim que a pego, coloco sabonete e começo a esfregar.
Minha pele arde e eu dou um descanso ao braço, indo para a barriga, pernas e colo. Não percebo que estou chorando até que os soluços ecoam no banheiro. Deslizo pela parede e abraço minhas pernas. A esponja cai no chão e eu permaneço parada, tentando amenizar a dor em meu peito.
— Eu vou entrar. — Escuto as palavras ao longe e, em seguida, um estrondo. Shawn aparece pela porta arrombada, e eu arfo, arregalando os olhos.