Camila
Lambendo os lábios, eu o encaro com mais seriedade. É por pouco tempo, é claro. Quem consegue ser dura com um garotinho incrível de apenas um ano? Ninguém.
— Espero que tenha entendido que não pode derrubar a comida assim, Matteo — murmuro e ele sorri, colocando a mão inteira na boca.
— Ele está entendendo apenas “blá-blá-blá-blá”. — Raul desce as escadas da sua casa.
Atrás dele Liyah sorri, dando de ombros quando franzo as sobrancelhas. Sua mão descansa na barriga imensa e eu suspiro.
— Raul está certo. Deixe o garoto em paz!
Reviro os olhos e me ergo, limpando Matteo. Eu o deixo no chão brincando com Raul e caminho até a janela. A aérea da casa onde Raul e Liyah moram é arborizada e bem tranquila. Gostei daqui. É a primeira vez que viemos visitá-los e eu adorei.
Shawn não pôde vir, é claro, mas fiz questão de passar um tempo com Liyah enquanto ela está de resguardo. A qualquer momento ela pode ter o bebê, então vim ontem para me preparar. Shawn cobriu nossos passos e eu, diante dos olhos dos amigos e seguranças, viajei para minha mãe.
— Como ele está? — ela questiona aos sussurros. Eu sorrio, vendo seu suspiro prolongado.
— Bem. Você o conhece. Nada abala aquele homem — brinco tentando aliviar.
— Não aguento mais. — Seus olhos se enchem de lágrimas e eu a abraço. — Preciso ver ele. Não acredito que minha menina vai nascer e ele não estará aqui. — Os soluços começam e eu agradeço por Raul estar longe.
— Eu sei. — Mordo meu lábio e beijo sua bochecha. — Ele só quer que seja feliz. Seja feliz, Liyah, e ele ficará satisfeito…
— Eu estou, de verdade, eu estou feliz, mas preciso dele, Mila. — Ela me encara e eu acaricio seus cabelos castanhos.
— E ele precisa de vocês dois — afirmo, pois sei que Shawn sofre calado a falta dos irmãos. — Mas se acalma, pois… — Ela se afasta encarando o chão, e eu suspiro. — Ela pode nascer — completo vendo que sua bolsa estourou.
— Raul! — Aaliyah grita e logo o homem surge. Seus olhos se arregalam ao ver a água no chão.
— Fez xixi, amor? — Ele ri, mas vejo seu pânico.
— Leve-a para o hospital, seu bobo, e me avisa se precisar de algo — digo já subindo as escadas depois de pegar meu filho dos braços dele.
Pego a mala dela e volto, entregando-a para Raul.
— Vai dar tudo certo, Liyah. — Beijo sua bochecha e ela sorri. — Traga minha sobrinha logo. — Dou tchau para os dois quando entram no carro e saem.
Assim que fecho a porta, pego meu celular e ligo para Shawn. Demora e engulo em seco quando ele não atende. Não aconteceu nada. Repito isso em pensamentos diversas vezes. Shawn sempre briga comigo pela minha paranoia.
Nem sempre ele pode atender e logo eu crio milhões de coisas na minha cabeça.
— Seu pai é ocupado. Só isso — murmuro e Matteo ri, batendo palmas.
Raul liga assim que Liyah dá à luz. Mando mensagem para Shawn novamente, mas ainda assim ele não me liga. Quando é madrugada, ainda estou com o celular tentando falar com Shawn.
Estou tremendo, e uma fúria silenciosa me invade, pensando que ele deve estar naquela boate nojenta. Tem dias que ele fica naquele lugar a noite quase toda, e isso está me deixando bem puta.