Capítulo 2

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- Ela está em fase terminal.

Eu desmoronei, literalmente. Era isso, ela estava em fase terminal. Eu não sabia se desmaiava, ou se chorava, ou se gritava... Aquilo não podia estar acontecendo, ela só tinha a mim e era como uma segunda mãe. Resolvi juntar o resto das forças que me restou e decidi perguntar quanto lhe resta de vida.

- 9 a 10 meses de vida - ele disse, com uma expressão de dó - Eu realmente sinto muito, senhorita Anna.

Decidi voltar pra casa e pegar algumas coisas, eu iria passar a noite com ela, iria passar o tempo que precisasse com ela. Não me importei em ligar para alguem e avisar, eu não estava com cabeça pra nada. Novamente peguei um táxi e cheguei em casa em 15 minutos. Peguei apenas o necessário e rapidamente voltei ao hospital. Eleonor ainda dormia serenamente, e meu coração apertou. Ver ela assim, tao frágil, tão sensível... Vi aquela pele clara mais pálida que o normal, seus cabelos curtos e negros, e de repente bateu uma vontade de abraçá-lá e nunca mais soltar.

Passaram dois dias ate ela receber alta, e em momento algum eu saí de perto dela. Ela não sabia que estava em um momento muito delicado, e eu pedi ao médico para não contar sobre sua situação à ela, pois saber quanto tempo de vida se tem não é algo legal, principalmente quando esse tempo é curto. Saímos do hospital e sua gerente do escritório decidiu nos dar uma carona ate em casa. Clair se aproximou com o carro e nós entramos, e ficamos em silêncio o caminho todo. Eu e minha madrinha agradecemos a Clair e entramos em casa;

- Poxa, já estava com saudades de casa - Eleonor disse num tom divertido; - nada melhor como a casa da gente, não é Anna?

Eu não concordei. Eu sabia que minha verdadeira casa não era ali, e não achava que lá era o melhor lugar do mundo. Ajudei minha madrinha a ajeitar um pouco a casa até que ela foi se deitar. Eu fiquei ali, naquela casa enorma, sozinha, escutando apenas o som da minha cabeça, que, pela primeira vez desde que cheguei em Miami, estava cheia de verdade, mas não eram de coisas boas. Fiquei um bom tempo olhando pela janela da sala observando o tempo frio e escuro que estava lá fora, e de uma certa forma, me identifiquei com aquele cenário. O medo e a tristeza dominavam meu coração novamente após dois anos. Decidi comer alguma coisa qualquer e me deitei no sofá, ligando a TV e parando em um canal não muito interessante. Eu estava entediada, cansada, e de repente eu caí no sono, um sono profundo e pesado. Passou algum tempo e de longe eu ouvia um barulho, era alguem batendo na porta. Então rapidamente me ajeitei e me levantei, abrindo a porta e levando um susto com um ser raivoso que estava a minha frente:

- Caralho Anna, quer me matar mulher? - Era Lauren falando num certo tom de desespero enquanto entrava em casa.

- Oi Lauren, me desculpe - foi tudo o que eu consegui dizer.

- Primeiro você sai correndo sem nem falar nada, depois você some por dois dias, seu celular não atendia minhas ligações... - ela disse ainda num tom de desespero e foi aí que eu lembrei do meu celular.

Peguei-o para ver e percebi que haviam sete chamadas perdidas de Lauren, duas de minha mãe, cinco mensagens de Lauren e uma mensagem de um numero desconhecido, mas não me importei com esse número e nem se quer abri a mensagem.

- Nossa Lauren, eu esqueci mesmo de te avisar, me desculpe. - eu falei e depois voltei a olhar para ela. Meus olhos vermelhos e inchados novamente começou a lacrimejar depois de dois dias chorando sem parar. Algumas lágrimas teimosas insistiram em cair, e então ela se assustou ao me ver assim. Eu sentei no sofá e simplesmente abaixei minha cabeça. Ela sentou ao meu lado e disse:

- Anna, me fala o que ta acontecendo, por favor.

Eu não queria falar nesse assunto, mas não era justo não dar explicação alguma a ela.

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