Capítulo 27

1.1K 97 100
                                    

Percy

A Embaixada era, no mínimo, imensa. Sério, devo ter me perdido umas dez vezes enquanto procurava pelo quarto de Annabeth. Um mapa tinha-me sido entregue por uma estátua, junto com um papel que eu precisava assinar e alguns folhetos de propaganda sobre as atrações do lugar. 

Consegui chegar duas vezes a um cômodo que por algum motivo estava cheio de gatos. Não, eu não faço ideia do porquê disso. E, sinceramente, quanto menos pensar sobre, melhor. Algumas coisas não precisam de uma resposta.

E um quarto cheio de gatos em uma embaixada de outro planeta nos confins do Tártaro era uma dessas coisas. A gente só aceita e segue em frente. Tipo aqueles teoremas de matemática ou aquelas contas malucas de física. A gente só aceita que algum louco quis assim e segue em frente.

Então eu segui em frente.

E caí no mesmo quarto pela terceira vez.

Caralho.

Se continuasse assim, eu desistiria e dormiria lá mesmo, com teoremas de bichanos e tudo.

Mas, por sorte- ou misericórdia de uma estátua que se cansou de me ver passar por ela três vezes- finalmente desvendei o mapa. É, talvez a estátua tenha ajudado um pouco. Foi mais ou menos assim:

Ela apontou o lugar exato em que estávamos no mapa, mas seu dedo era muito grande, logo... eu não entendi porra nenhuma. Depois que percebeu minha cara de tapado, ela suspirou- estátuas respiram? Não sei, mas ela certamente tentou - e apontou em frente para o corredor. Aí moveu a mão para a esquerda, depois reto, para direita, e reto, para baixo, e reto, para esquerda, e reto, para cima, e reto...

Eu sorri em agradecimento e segui suas instruções à risca. Segui direto toda vida.

Em algum momento seguindo direto toda vida, achei a escadaria principal. Daí perguntei a outra estátua. Essa foi um pouco mais prestativa e me levou até o quarto pessoalmente. Economizamos muito tempo com esse método. Recomendo.

Annabeth ainda lutava contra a inconsciência, deitada em uma cama gigante e que parecia muito confortável. Havia uma estátua inclinada sobre ela, limpando seu rosto com um pano molhado. Era incrível como conseguia ser delicada mesmo sendo feita de pedra. Algumas pessoas deveriam ter algumas aulas com aquela estátua.

A estátua- vamos chamá-la de Apolestátua - estava usando um jaleco branco e tinha aquele olhar que só os médicos tinham. A senhora Apolestátua tinha cara de quem sabia muito sobre como cuidar de uma pessoa no meio do Tártaro, então eu tentei não atrapalhar enquanto ela- será que ela era do gênero feminino? Eu não sabia se devia perguntar ou não... será que estátuas têm gênero? - trabalhava.

Sentei em uma poltrona grande e confortável e fiquei observando Apolestátua indo e vindo pelo quarto. Em dado momento, começou a retirar o vestido destruído de Annabeth e parou de repente, lançando-me um olhar óbvio que dizia "Vai mesmo ficar aí olhando, seu pervertido?!" ou então "Vou ter que chutar sua bunda até o lado de fora, projeto de deus?!".

Juntei coragem, olhei no fundo dos olhos de Apolestátua com firmeza e quase perguntei "Eu posso pelo menos escolher qual banda você vai chutar?". Um movimento dela em minha direção foi o suficiente para que eu fosse, por livre e espontânea vontade, esperar do lado de fora.

Assim, nem sei por quê não podia ficar lá. Eu nem ia espiar! Diferente da maior parte da minha família por parte de pai, eu não era um tarado. Também não era como se nunca tivesse visto Annabeth nua. Fala sério.

Mas era melhor assim. Ali, encostado no batente da porta do quarto- não tive coragem de me afastar mais e acabar tendo que pedir ajuda a outra estátua-, pude colocar os pensamentos em ordem. Bom, pelo menos tentei.

Não fazia sentido aquela reação que tive ao vê-la novamente, depois de doze anos. Afinal, eu tinha superado Annabeth. Estávamos separados há tempo demais. Até tinha ficado com outras pessoas.

Tá, foi só a Reyna. Mas foi um namoro muito intenso... tá, nós só ficamos algumas vezes... okay, foram só alguns beijos.

De qualquer forma, eu tinha superado Annabeth... não tinha?

Suponho que a forma como eu literalmente me joguei no inferno dos monstros dê outra ideia, só que eu faria aquilo por qualquer um. Sim, não era por causa da pessoa em si.

Suspirei. Precisava parar de mentir para mim mesmo, já estava fazendo isso há tempo demais.

Mas. Aquela. Não. Era. Hora. De. Pensar. Nisso.

Eu precisava bolar uma porcaria de um plano para salvar aqueles que os sombrios levaram. Precisava encontrar uma solução para o problema com os deuses e semideuses. Precisava lidar com a situação envolvendo Liliana e o Comandante White. Precisava descobrir o que havia de errado comigo- literalmente falando. Ainda podia sentir aquela dor estranha. Era suportável, dava até para esquecer que estava ali. Só que nem devia haver dor para início de conversa. Talvez eu pudesse falar com Josh, nosso médico em Aureum. Mesmo que o sinal ali fosse horrível. Poderia tentar. Claro, também havia Apolestátua. Mas acho que eu não conseguiria entender seu diagnóstico. E acho que seguir direto não se aplicaria às instruções dela.

Algum tempo depois, Apolestátua abriu a porta e fez sinal para que eu entrasse. Sentei na poltrona de novo e fiquei olhando Annabeth. Sem a sujeira e o sangue, ela parecia muito melhor. Apolestátua tinha até limpado seus cabelos na medida do possível sem encharcá-los.

Ela vestia uma camisola branca com as escritas "Embaixada de Aureum, Tártaro, Terra" em letras pequenas do lado direito superior. Parecia mais tranquila também. Só que sua pele ainda estava esverdeada. Eu sabia o que era aquilo. Poucos tipos de veneno eram fortes o suficiente para derrubar uma deusa. Infelizmente, não havia nada que pudéssemos fazer. Eu não tinha força o suficiente nem para me curar, quem dirá curar outra pessoa. E Apolestátua também deve ter chegado à conclusão de que não havia antídoto para isso. Teríamos que esperar que ela melhorasse sozinha, da mesma forma que Jason havia se curado daquele ferimento de espada tantos anos antes. Por pura força de vontade.

Então, fiquei ali, esperando que ela melhorasse um pouco para que pudéssemos, enfim, conversar.

Eu de um lado. Apolestátua do outro, tricotando- porque Apolestátua é tão incrível que além de ser médica ainda tricota nas horas vagas. Vocês não têm uma estátua foda dessa, não é mesmo? Pois é, nem eu. Então vamos apenas seguir direto toda vida. 

~~*~~

Esse foi pequeno, mas é porquê ficou muito difícil para mim escrever nesse estilo kkk as coisas que ando escrevendo ultimamente são bem darks e nada parecidas com a vibe piadista do tio Rick. 

Espero que tenham gostado <3

Percy Jackson: O Vingador De CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora