Pov Leo
Se me perguntassem como é ser atravessado de um lado ao outro por uma espada, eu diria que é intenso, doloroso e rápido. Agora, se me perguntassem como é ser atravessado de um lado ao outro por uma espada e permanecer com ela no lugar, eu diria que é incrivelmente estranho. Imagina só: você olha pra baixo e vê a ponta de uma lâmina pontiaguda saindo do seu reservatório de comida, então você pensa “cara, tem uma espada saindo da minha barriga!”.
E, por incrível que pareça, eu não conseguia me preocupar com isso porquê ficava olhando encabulado para a espada dentro de mim. Okay, frase estranha. A questão é: eu não sentia mais dor alguma. Obviamente, isso não era nada bom, afinal, enquanto você sente dor você está bem. E eu não sentia mais nada!
- Tem certeza de que não está doendo?- Piper perguntou, tentando, e falhando miseravelmente, conter o desespero que se apossava dela.- Vai ficar tudo bem- ela murmurou, mais para ela do que para mim.
- Relaxa, Rainha da Beleza- comecei-, eu vou ficar bem. O problema imediato é: onde estamos?
Piper olhou em volta. Estávamos em uma sala fechada, como se quisessem dizer “vocês não podem sair!”. Sério, não havia portas ou janelas. As paredes tinham um tom branco, assim como o teto, e o chão era de porcelanato bege. Estávamos sozinhos. Ao meu redor, sangue manchava o piso e os joelhos de Piper. Dei uma risada fraca.
- Do que você está rindo?- Piper me encarou, nervosa.- Você está morrendo e nós estamos presos, sem qualquer chance de conseguir fugir!
- Não acha irônico?- ela me olhou confusa e eu expliquei.- Nós sobrevivemos a um dragão louco, feiticeiras furiosas, galinhas patrulheiras do Acampamento Meio-Sangue, Niceias vitoriosas, ciclopes, Cimopoleia, a própria Gaia e a tantas outras coisas, para morrermos em uma sala sem portas.
- Quem diria, hein- Piper sorriu.- Levamos a pior de um mero impostor.
- Não seria a primeira vez- eu ri. Eram muitas memórias boas e ruins. E tudo acabaria ali para nós.
Minha risada foi interrompida por uma crise de tosse e eu vi mais sangue saindo de dentro mim. Esse negócio de ficar perdendo a coisa vermelha que ajuda a nos manter vivos não é legal. O sorriso de Piper sumiu. O problema não era eu morrer ali. O problema era eu morrer ali na frente da Rainha da Beleza. Eu não queria que ela visse isso. Mas eu sabia que não adiantaria pedir para ela virar de costas, sua teimosia era surpreendentemente irritante.
Minhas forças estavam se esvaindo, eu tinha pouco tempo. Busquei a mão de Piper, que agarrou a minha com força, como se isso pudesse me manter em meu corpo. Lágrimas desceram por seu rosto e eu me sentia inútil por não poder acabar com a dor que ela sentia ao me ver assim. Olhei em seus olhos na esperança de passar tudo o que eu queria dizer e não podia. Paz me invadiu e eu dei o melhor sorriso que a fraqueza me permitia.
- Fique bem, Rainha da Bele...- tentei murmurar, mas fui novamente interrompido pela tosse.
Tudo começou a escurecer. Eu estava perdendo a consciência, indo embora, deixando a Piper. Mas pude ver quando uma porta surgiu do nada e Jason foi jogado para dentro da sala. Ele estava ferido e esfarrapado, não parecia o Jason de sempre.
Ele caiu perto de Piper, em cima do meu sangue, e nos olhou aterrorizado. Eu provavelmente estava com a aparência pior do que imaginava.
- N-Não- ele gaguejou, se arrastando para mais perto de mim. Jason olhou nos olhos de Piper, procurando algum apoio, mas ela também precisava disso. Então voltou o olhar para mim.- Não desista, Leo! Não desista ainda! Podemos salvá-lo, eu vou encontrar um jeito! Mas não...
Foi interrompido quando eu sorri. Se estava na hora de ir, então eu iria do melhor jeito possível.
- Eu sei que sou incrível e tudo mais- sussurrei, me esforçando para não engasgar-, porém vocês não vão ficar aqui comigo.- Olhei significativamente nos olhos de Jason.- Você vai tirar Piper daqui. Eu confio em você, Jason, para tirar a Rainha da Beleza daqui em segurança. E tentem não morrer de saudade de mim.
E, juntando toda a força que ainda me restava, levantei a mão na direção de onde a porta aparecera momentos antes e disparei uma bola de fogo. E mais uma. E outra. Até que a porta reapareceu e explodiu, dando vista para um corredor com janelas grandes e claras. Os dois ficaram parados, surpresos demais para processar aquilo.
- Jason- chamei, a escuridão crescendo cada vez mais-, tire ela...
Percy
Levei menos de um segundo para entrar em modo automático. Em um momento eu estava ao lado de Luke observando a longa queda até Annabeth e no outro estava caindo em direção à ela.
Nove dias. Essa é a estimativa de tempo que alguém leva para chegar ao Tártaro. Eu precisei apenas de nove segundos. Segundos que mais pareceram anos.
Talvez algum dia eu me arrependesse de tomar uma decisão tão precipitada e impensada. Mas naquele momento, tudo o que me importava era se Annabeth estava segura. Doze anos desapareceram de repente. Ela parecia tão desprotegida, sozinha, ali naquele lugar horrível!
Eu tive apenas uma certeza quando encontrei o chão: todo o planeta devia ter vibrado. Tártaro rugiu de dor e os monstros que cercavam Annabeth foram jogados no chão com o impacto. Lá em cima, os semideuses gritaram com o tremor. Qual o problema? Afinal, eu sou filho do deus dos terremotos, não? E eles não faziam ideia do quanto meu poder de destruição crescera.
Annabeth foi a única que permaneceu imóvel- um dos benefícios de ser a pessoa que vou salvar. Peguei-a no colo e olhei para cima. O buraco por onde entrei estava se fechando rapidamente, não dava para sair por ali. A saída mais próxima era pelo submundo. Mas eu não conseguiria chegar lá sem descansar antes. Meus braços pareciam chumbo e minhas pernas não aguentariam o peso por muito tempo. Amaldiçoei-me mentalmente por não ter ficado em Aureum por tempo suficiente para me recuperar. Agora, além de ter passado ainda mais do meu limite, estava preso no Tártaro.
Forcei minha memória. Tinha quase certeza de que tínhamos alguma filial ali, só precisava me lembrar onde. Ou como. Talvez eu não precisasse procurar, e, sim, chamar. Na minha mente fazia todo o sentido.
Os monstros começavam a se levantar, alguns mais perdidos e apavorados que outros. Logo eu teria mais problemas. Tentei entrar em contato com Luke ou qualquer outro guardião, porém Tártaro conseguiu cortar todos os meus meios de comunicação. Ou eu não tinha mais forças o suficiente. Prefiro acreditar na primeira opção, faz-me parecer menos inútil.
Comecei a andar. Um passo de cada vez. Era mais fácil na teoria do que na prática. Meus pés pareciam estar colados ao chão, que vibrava com vida. Tártaro estava bem mais vivo do que quando estive ali com Annabeth. Os batimentos eram fortes, mesmo tão longe do centro.
Minha máscara voltou e continuei a andar. Não seria interessante passear no Tártaro sem forças com o rosto à mostra. Com certeza alguns ali ainda se lembravam de mim. Definitivamente, não era porquê Annabeth poderia acordar a qualquer hora.
Ela se remexeu nos meus braços e gemeu de dor, devia estar ferida. Ela não mudou desde a última vez em que nos vimos- uma salva de palmas à imortalidade. Um sentimento de raiva me invadiu. Se ela não tivesse aceitado... balancei a cabeça minimamente. Eu também não aceitara a imortalidade no final das contas? O quão diferente dela eu era? A proposta só precisou ser feita por outra pessoa e eu nem mesmo hesitei.
Eu pulei no Tártaro por ela tantos anos antes... mas, naquela época, ela não teria feito o mesmo por mim? Se eu estivesse no lugar dela, na mesma situação, teria mesmo recusado a imortalidade? Bom, eu recusei. Duas vezes.
Os monstros abriam caminho para nós, como se fôssemos radioativos. Eu fazia de tudo para parecer mais forte do que estava. Afinal, os fracos precisam parecer fortes para conseguirem o que querem, não? Quem sabe, se eu fingisse o bastante, convencesse a mim também de que sou mais forte mesmo no meu maior momento de fraqueza. Talvez pudesse me refugiar na fantasia de que sou invencível e esquecer dos problemas.
Quando, depois de algum tempo, finalmente nos afastamos dos monstros- que permaneciam incrédulos-, murmurei as palavras “Iniciar a operação PNT” e esperei, torcendo para que Annabeth fosse merecedora de entrar em um dos refúgios de Aureum. Uma cabana surgiu do nada quando comecei a perder as esperanças.
Era uma cabana de madeira, caindo aos pedaços. A porta rangeu assim que a abri. Eu sabia que apenas eu podia vê-la naquele momento, mas, por precaução, ela tinha que parecer um lugar abandonado e medonho, para que, se houvesse algum engano, um estranho não merecedor não quisesse entrar.
Sorri e entrei, tomando cuidado para não bater a cabeça de Annabeth. O interior da cabana não parecia melhor do que o exterior. Estava sujo e manchas vermelhas marcavam as paredes, dando a impressão de que uma chacina ocorrera ali dentro. Eu sabia que era apenas ilusão, mas se eu acabasse ali na primeira vez que visitei o Tártaro, daria meia volta imediatamente.
Fechei a porta com um chute e esperei algo acontecer. Por alguns segundos, fiquei ali parado como um idiota, até que uma luz surgiu no centro da cabana. Aos poucos, ela se transformou na imagem de uma garota, como um holograma. Ela era pequena e tinha a expressão de quem ia morrer de tédio. Ela estava sentada atrás de uma pequena mesa cheia de papéis. O cabelo liso e escuro escorrendo pelo rosto branco. Destacados por óculos quadrados, os olhos negros brilhavam de nada. Sério, não havia nada que confirmasse que ela estava viva.
- Bem vindos à Embaixada de Aureum, localizada no Tártaro, Terra.- A menina não devia ter mais que vinte anos, mas a forma automática como ela falou me surpreendeu, como se trabalhasse naquele departamento há milhares de anos e achasse um saco. Ela manteve os olhos em um papel que tinha em mãos.- Gostaria de saber das novidades de Aureum? Ou talvez queira fazer um tour pelo Tártaro? Também oferecemos revistas com o que há de novo no mundo das celebridades de Aureum. E temos uma promoção imperdível...
- Apenas libere a nossa entrada- interrompi a garota, que levantou os olhos e me encarou com ódio.
- Nome, endereço e acesso de comando- ela resmungou.
Annabeth se mexeu novamente. Abriu os olhos e os fechou novamente, lutando contra a inconsciência. Eu não sabia dizer quem estava ganhando.
- Percy Jackson, Avenida dos Guardiões, número 1- comecei, torcendo para que Annabeth ainda estivesse perdendo para a inconsciência-, Ômega 188.
Se a garota ficou surpresa, não demonstrou. Continuou com a mesma expressão de “você não merece o meu tempo, idiota”. Perguntei-me se ela sequer sabia com quem estava lidando.
Observei enquanto ela se levantava e ia até um armário atrás de onde estava. Ela abriu uma das portas e eu me sobressaltei. Várias pastas com arquivos eram guardadas lá.
- Vocês não deveriam ter um computador ou algo assim?- perguntei. Na minha cabeça Aureum era tão evoluído quanto a Terra em tecnologia. Aliás, não só na minha cabeça. Aureum era mesmo.
- Nós tínhamos- ela comentou, fazendo uma careta e procurando meu arquivo.- Nosso departamento era bem abastado, até que vocês, grandes idiotas, cortaram nossas verbas. Tivemos que nos livrar dos gastos desnecessários.
- Espere um segundo- pedi, ajeitando Annabeth em meus braços quando ela voltou a se mexer-, de que planeta você é, exatamente?
Ela me olhou como se eu fosse o ser mais estúpido do universo.
- Eu vou fingir que você não fez essa pergunta- ela revirou os olhos e voltou a procurar o arquivo.
- Em Aureum não temos esse negócio de verbas ou salários- falei, tendo certeza do que estava falando.- Ninguém precisa pagar nada, é tudo doado pelo governo, tudo.
- Então você certamente não está a par da nossa real situação, senhor príncipe do universo.- A forma como ela falou deixou claro de que, para ela, eu não valia o chão que pisava. Tentei lembrar de alguma mudança nas leis, mas nada me veio à cabeça. Éramos habitantes felizes e ricos. Ninguém passava fome. Ninguém tinha contas a pagar.
- Acho que não estou entendendo.
- É claro que não- ela riu, sarcasticamente.- Vocês nunca entendem, não é mesmo? Não ligam se nós, “seres inferiores”- ela fez aspas com as mãos-, precisamos de algo ou se vivemos bem. Principalmente vocês, guardiões, que prestam mais atenção na sua preciosa Terra do que em seu planeta. Vocês são ridículos!
Permaneci em silêncio, pensando em suas palavras. Era verdade, eu prestava muita atenção na Terra, mas Aureum também era prioridade para mim. Para todos os guardiões, inclusive. Era uma de nossas casas, a sede do poder. A Casa Branca do universo. Como, por Caos, nosso povo poderia estar tão insatisfeito e infeliz?!
- Aqui está.- Ela voltou à sua cadeira, com uma pasta azul em mãos. Seu rosto estava vermelho de raiva e ela parecia uma criança emburrada.- Muito bem, segundo sua ficha, você pode assumir a ordem da casa, tem acesso liberado ao centro de comando...
- O que está acontecendo em Aureum?- perguntei, interrompendo-a. Ela levantou a cabeça e olhou em meus olhos. Pela primeira vez eu notei algo neles. Apenas não sabia dizer o que era.
- Você não sabe mesmo?- ela suspirou quando neguei com a cabeça.- Já há alguns meses que estamos sendo cobrados pelo Comandante White. Ele disse que, como era o responsável pela nossa área, não poderíamos desobedecê-lo, e isso implicava em trabalhar até cairmos e não abrir a boca. E toda vez que fizéssemos algo de errado, nossos luxos seriam tomados, como os computadores. Ele firmou um sistema econômico que dita se somos merecedores de receber algum agrado. As verbas são o que ele nos daria para mantermos as coisas funcionando, e, se não alcançássemos a meta, elas seriam cortadas.
Minha surpresa foi tanta que dei graças a Caos por ter uma máscara cobrindo meu rosto.
- Por que não vieram denunciá-lo para nós? Poderíamos ter dado um jeito.- Eu falei e ela deu um pequeno sorriso triste, balançando a cabeça.
- Você não conhece o Comandante a tanto tempo quanto nós. Sabemos que ele seria capaz de qualquer coisa para nos punir, além de ser um homem poderoso.
- Então- comecei, com medo da resposta-, por quê você está me dizendo isso agora?
Ela desviou os olhos e tive um vislumbre de uma lágrima caindo.
- Porque agora não há nada que ele possa fazer comigo, não há mais ninguém com quem eu me importe.
Fiquei estático. Como, por Caos, aquela garota não tinha mais ninguém?!
- Onde está sua família?- Perguntei. Milhares de perguntas rondavam minha cabeça, mas aquela me parecia a mais importante.
- Eu não conheci meus pais- ela deu de ombros-, não faço ideia de quem são.- Uma sombra passou por seu rosto, foi quase como se ela tivesse colocado uma máscara invisível, que me impossibilitasse de ver o que se passava em sua cabeça.
- Mas deve haver alguém...- comecei, sabendo que devia estar entrando em um território perigoso para ela.
- E há- ela respondeu.- Eu tenho uma irmã. Ou tinha... Eu não sei bem.
- O que você está querendo dizer?
- Minha irmã foi levada, Ômega- seus olhos brilharam de lágrimas que ela se recusava a deixar cair.- Ela foi levada pelos sombrios.
Eu não sabia bem o que dizer. Várias frases se formaram em minha mente, porém nenhuma parecia boa o suficiente para pronunciar em voz alta. Eu sabia o que era se sentir sozinho e sem saída. Sem saber a quem recorrer.
- Eu entendo. Como você se chama?
- Liliana.
- Muito bem, Liliana- comecei com a voz firme-, não se preocupe. Eu preciso que você consiga contato com um dos Guardiões, Beta, e me coloque na linha com ele.
- Tudo bem.
Ela começou a murmurar algumas palavras em tom baixo e, à medida em que ela falava, a cabana crescia. O chão de madeira se transformou em um piso liso e reluzente de cor clara. As paredes se afastaram e o vermelho da ilusão tornou-se o vermelho escuro de enormes e pesadas cortinas, que cobriam as paredes e janelas gigantes. À minha frente, uma escadaria coberta por um tapete vermelho subia até o segundo andar e se dividia para a esquerda e para a direita. Dos dois lados do início da escadaria estavam duas estátuas: uma de Silena e uma de Luke, em suas vestes de Guardiões. O salão onde estávamos era imenso. Um lustre de cristais brilhava acima de nós, iluminando o lugar magicamente.
- Você parece impressionado- Liliana comentou. Encarei-a, lembrando que ela ainda estava ali. Percebi que minha máscara desaparecera e eu devia ter uma expressão idiota no rosto. Sorri, sem graça por ter sido pego no flagra.- Sabe, vocês até parecem pessoas normais sem essa coisa horrorosa na cara.
Meu reflexo foi levar tentar levar uma das mãos à nuca, mas lembrei que ainda segurava Annabeth e isso foi o suficiente para o peso parecer quase impossível de segurar. Cambaleei e abracei seu corpo mais forte, para não derrubá-la. Ela gemeu e eu fiquei tenso. Ela não podia abrir os olhos agora que eu estava sem máscara!
Liliana percebeu minha dificuldade em me manter de pé e acenou para uma das estátuas na base da escadaria. Observei, enquanto a estátua de Luke começava a se mover em minha direção. A estátua fez menção de pegar Annabeth, mas eu estava relutante em entregá-la.
- Deixe que ele leve ela até um dos quartos, Ômega- Liliana disse, quase carinhosamente. Eu devia estar parecendo um animal encurralado.- Os empregados vão cuidar da senhorita Chase.
Senhorita... senhorita Chase?! Como ela sabia o nome da loira em meus braços? Hesitei por mais alguns instantes e deixei que a estátua de Luke a levasse escadaria acima. Olhei-a mais um vez antes deles desaparecerem na curva do segundo andar. Seu vestido branco estava em frangalhos. Os cabelos loiros e cacheados não possuíam a vitalidade que deveriam, estavam esbranquiçados e desgrenhados. A pele, suja de sangue dourado e poeira de monstros, tinha um tom estranhamente esverdeado. Segurei-me para não usar o último resquício de poder que ainda me restava para curá-la. Eu precisaria dele.
Virei lentamente para Liliana e vi compaixão em seus olhos escuros.
- Como sabe o nome dela?- perguntei, tentando me manter firme no lugar.
- Todos conhecem a história dos heróis do Olimpo- ela respondeu, abaixando os olhos, um tanto constrangida.- Não é exatamente um segredo.
Resmunguei algo relacionado a “novidade” e ela sorriu. O sorriso dela era bonito. Uma pena que ele não chegasse aos olhos, isso a deixaria muito bonita.
- Vou providenciar a ligação- disse ela, desmanchando o sorriso.
Aproveitei para pensar no que ela havia dito antes, sobre o comandante White. Eu nunca gostei daquele filho da mãe e, para ser sincero, essa atitude não me surpreendia totalmente. Ainda não sei o que levou Caos a levá-lo para Aureum. Se aquilo era um teste para nós, Caos devia estar muito inspirado.
E por falar em Caos, ele ainda estava preso pelos sombrios, junto à minha mãe, May, Ezequias e Andrômeda, namorada do Jacob. Eram muitos problemas para pouco tempo. E ainda tinha o idiota do Comandante White.
Uma imagem tremeluziu perto de Liliana e eu prestei atenção. Parecia um novo holograma. Ele estava piscando mais que o normal, então deduzi que a linha estava meio fraca.
- Liliana?- Jacob perguntou, quando a imagem finalmente estabilizou. A garota o encarou confusa.
- Não foi pra você que eu liguei!- Então ela trocou a confusão por uma expressão raivosa.
- Aconteceu algo? Você está bem?- Jacob perguntou, preocupado com ela. Ainda não tinha me visto ali.
- Vocês se conhecem?- perguntei, cruzando os braços para não tremer.
O Guardião virou-se para mim e me analisou da cabeça aos pés.
- Você está horrível!- ele exclamou. Revirei os olhos e olhei para Liliana.
- Esse idiota é namorado da minha irmã- ela respondeu, suspirando, como quisesse dizer o quão ridículo aquilo era.
Levei um tempo para processar suas palavras. A namorada dele era a Andrômeda e, pelo que eu me lembrava, a Andy não tinha uma irmã. Jacob me olhou como se pedisse ajuda. Permaneci calado, observando o desenrolar da história.
- Eu já disse que vamos trazê-la de volta, Lili...- ele começou, mas foi interrompido por ela.
- Mesmo? Pois eu ainda não vi resultados da sua busca!
- Eu...
- Você é um idiota!
- Mas...
Ela abriu a boca para interromper novamente, porém eu falei primeiro.
- Querem saber? Não foi pra isso que nós ligamos. Onde está o Luke?
- Foi atrás do semideuses sequestrados- ele respondeu.- E você sabe como é, ele não está no auge de sua força, enquanto passeia pelo Olimpo para roubar os novos brinquedos de Zeus... acho que ele não podia atender, então passou para mim.
- Ele foi sozinho?- Eu estava incrédulo. Nem eu iria até o Olimpo naquele momento, mas, se pararmos pra pensar, eu também não iria ao Tártaro.
- Silena está chamando os deuses para uma reunião- ele olhou para o lado, levou uma mão à têmpora e gritou para alguém à sua frente:- Mel, você tem que ficar aqui!
Ouvi a voz dela ao longe, dizendo que ele não mandava nela. Jacob suspirou, cansado.
- O que está acontecendo?- perguntei.
- Os semideuses estão em pânico, Luke está ocupado, Silena está ocupada, eu estou tentando controlar as coisas! Mas ela não coopera!- ele passou as mãos no cabelo, exasperado.- Quando você volta?
- Só tenho uma saída: caminhar até encontrar o submundo. Então eu posso sair daqui. No entanto, eu não posso deixar Annabeth aqui com Tártaro se fortalecendo cada vez mais.
- Entendo- ele murmurou.- Vamos cuidar de tudo até você voltar.
Assenti e fiz menção de dizer tchau, mas parei um segundo antes.
- Jake, pode me fazer um favor?- ele olhou para mim e esperou eu continuar.- Coloque o filho do Comandante White como braço direito de Silena, vamos ver o que ele deixa escapar dos planos do pai.
- Planos?- ele franziu a testa.
- Longa história- comentei, dando de ombros.- Depois falamos disso.
- Está bem.
Ele se despediu de Liliana, mas ela o ignorou e desligou a chamada. Olhei para ela.
- Se sua irmã namora um dos Guardiões, por quê não falar o que estava acontecendo? Jake ajudaria sem nem hesitar.
Ela encarou o chão, já devia ter pensado nisso.
- Porque quando alguém ameaça a única pessoa que você realmente ama, os pensamentos ficam nublados e o medo fala mais alto.~~•~~•~~•~~•~~
Voltei!!!!! E eu sinto imensamente pela demora amores, de verdade
Mas, de qualquer forma, muito obrigada pelos votos e favoritos, amo vocês <3
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Percy Jackson: O Vingador De Caos
FanficTudo ia bem na vida de Percy. Derrotaram Gaia e tudo estava indo conforme deveria. Percy ganharia uma irmã e iria estudar em Nova Roma com Annabeth. Tudo maravilhoso. Até que os deuses convocam os heróis para uma reunião, onde Percy, sem querer quer...