Capitulo 3

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- Percy Jackson, meu filho, venha cá.- Poseidon me chamou, mas eu não queria me mexer, não podia. O que eu responderia agora? Annabeth tinha aceitado e voltado ao meu lado sem nem sequer olhar na minha cara. Mas eu tinha prometido que não aceitaria. Então eu NÃO aceitaria.

Forcei-me a dar alguns passos, mas não me ajoelhei. Tinha a impressão de que se eu me ajoelhasse não conseguiria mais levantar. Meu pai apenas deu de ombros e continuou, mas eu vi que Zeus não gostou nada disso.

- Aceita se tornar imortal? Ser o deus menor protetor dos animais marinhos? E viver eternamente ao lado de sua namorada?- Poseidon disse aquilo naturalmente, não devia ter percebido nada do que acabara de acontecer. Me olhava com esperança no olhos. E eu senti o peso dessa decisão mais uma vez. Só que desta vez Annabeth fazia parte de escolher me tornar imortal.

Parei para pensar. Talvez não fosse tão ruim ser um deus menor. Teria tudo o que quisesse, permaneceria eternamente na minha melhor forma, poderia viver ao lado do meu pai, e poderia ficar com a Annabeth. E isso tudo pela eternidade.

- Eu... Não aceito.- assim que pronunciei essas palavras, o lugar tornou-se um caos.

Pude ouvir um choramingo de Annabeth, um arquejo de alguns deuses e outros levaram a mão à própria testa balançando a cabeça.

Eu sabia o porquê disso. Já havia recusado uma vez e isso por si só já era ferir o orgulho dos deuses, agora, recusar uma segunda vez? Zeus deveria estar se corroendo, praticamente explodindo, e não demorou até que realmente aconteceu:

- Como ousa?!- ele estava ficando roxo de raiva.- Eu permiti que lhe fosse concedido um dom divino NOVAMENTE e é assim que você retribui?!- Zeus levantou-se brandindo o Raio-Mestre e veio em minha direção. Poseidon entrou na sua frente e barrou a passagem, ao mesmo tempo em que os outros deuses se levantavam já em posição de combate. Não me pergunte qual deus ficaria do lado de qual, na hora tudo estava uma confusão.

Meus amigos agora estavam ao meu lado. Todos com armas em punho e olhares do tipo "ninguém encosta nesse aqui".

Zeus estava furioso. Estava se formando uma tempestade no mundo mortal, dava para sentir. Ele me fuzilou com o olhar e disse:

- Não perde por esperar, garoto.- disse a última palavra com completo nojo.

Eu não havia me mexido. Continuava no mesmo lugar o encarando. Estava cansado disso. Ganhamos as guerras para ele e é assim que somos retribuídos. Agora eu é que estava transbordando de raiva. Senti os mares se agitarem, mesmo que estivessem tão longe. Pude ouvir as fontes do Monte Olimpo explodirem todas juntas e o chão tremia levemente.

- Como eu ouso?! Eu?! Nós os salvamos! Poderíamos ter deixado Gaia acabar com vocês, mas ajudamos! Enquanto vocês ficavam apenas olhando!- eu gritei para ele. Meus amigos me olhavam paralisados, com medo por mim e por eles, mas eu não ligava. Alguém tinha que dizer.

Eu não queria falar isso, mas simplesmente saiu. Eu explodi, cara. Foi isso. Eu era um semideus, as coisas nunca foram fáceis, uma hora ou outra alguém ia estourar. E fui eu.

Zeus nada disse. Ele estava pasmo. Todos estavam. Ninguém esperava que alguém dissesse isso em voz alta. Meu pai me lançou um olhar de "cala a boca, filho" e eu apenas cruzei os braços.

A tensão era grande. Todos esperavam uma resposta de Zeus, e todos temiam qual seria. Até que ele voltou ao seu trono e, lentamente, disse:

- Irá me pagar caro por sua insolência!

E tudo sumiu.

Quando finalmente me situei, estava no acampamento, ao lado dos meus amigos, que me olhavam assombrados. Dei de ombros e fui para o meu chalé, nem ligando para os campistas que nos olhavam completamente sem entender.

Naquela noite, tive vários pesadelos.  Em um, Zeus lançava seu Raio-Mestre em mim. Em outro, a Annabeth começava a brilhar e ia embora. Em outro, o acampamento era atacado e meus amigos caiam em combate.

Esse último foi a gota d'Água. Saí do meu chalé e fui em direção à praia, sem me importar com as harpias que rondavam por aí. Precisava espairecer e esquecer aqueles sonhos.

Ao chegar lá, vejo um homem que usava bermuda e camisa havaiana. Ele tinha um semblante sério e preocupado.

- Aquilo foi loucura, Percy.- disse ele.- Não sabe o perigo em que se meteu.

Parei ao seu lado e observei o mar. Foi realmente uma loucura? A julgar pelo olhar dos meus amigos de mais cedo, talvez tenha sido sim.

- O que vai acontecer agora?- perguntei e Poseidon olhou para mim, me virando e olhando em meus olhos.

- Eu não sei, filho. Eu falei com Zeus e acabamos brigando. Ele não vê a realidade, vê apenas o orgulho, que agora está ferido. Ele é insistente, não vai parar até conseguir o que quer. Mas eu o protegerei, não se preocupe.

- Eu não estou preocupado comigo. Estou preocupado com os meus amigos e minha família. Na hora eu não pensei neles, pensei apenas no que eu sentia. E se ele quiser me atingir por eles? Não posso estar aqui e na casa da minha mãe ao mesmo tempo, não posso protegê-los.

- Eu ficarei de olho em Zeus, se ele sair do Olimpo eu saberei. Vou tentar contornar a situação, mas mantenha os olhos abertos. Você é o meu orgulho, Percy, adoro poder falar que sou seu pai. Mesmo hoje, você me fez ter ainda mais orgulho. Tenho que ir agora, tentarei falar com meu irmão novamente.

- Obrigado, pai.

Então ele sumiu em uma luz azulada.

E pela terceira vez, senti que estava sendo observado por algo grande.

Percy Jackson: O Vingador De CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora