Capítulo 21

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Pov Percy

- Mas ele vai acordar, não vai?- Escutei uma voz feminina e melodiosa perguntando.

Tentei abrir os olhos, porém pareceu uma tarefa impossível. Me repreendi mentalmente, esse não era o melhor momento para brincar de imitar o Jason, era o momento de estar acordado chutando a bunda de primordiais velhos e insuportáveis.

- Provavelmente- concordou outra pessoa, com a voz masculina carregada de sotaque.- Percy não gastaria tanto poder se isso fosse matá-lo, pode ficar tranquila- ele soou como se estivesse tentando se convencer disso também.

Fiz um esforço e tentei decifrar de quem eram as vozes. A primeira era a de Hazel. A segunda parecia a de um cara inglês que trabalhava na enfermaria. Já conversamos muito nas minhas idas até lá- que, aliás, foram muitas.

Josh e Hazel pareciam estar muito preocupados. Tentei me lembrar do que havia acontecido para eu ir parar na enfermaria, provavelmente em coma. Uma palavra me veio à cabeça: poder. Eu esgotara meu poder ao carregar Aureum e os outros planetas para fora da linha de fogo. Não ia demorar muito até que os sombrios descobrissem onde estávamos, e eu queria estar acordado quando isso acontecesse. E sem contar que a Terra ainda estava com problemas. Droga, que péssima hora para entrar em coma, hein, Percy!

- Ele já está assim há quase dez horas- Hazel fungou-, não quero perdê-lo de novo.

- Acredite, senhorita, ele vai acordar, o dever ainda o chama- Josh suspirou.- Principalmente com Caos sequestrado e a Terra chegando ao fim em uma guerra que vai liquidar deuses e semideuses.

Ouvi passos adentrarem a enfermaria e logo a voz da Melanie se fez presente:

- Sabe, Josh, seu otimismo é tão grande que até me dá vontade de desistir de tudo- ela pareceu sorrir ao final da frase.- Alguma novidade com ele?

- Nada ainda. Nossos remédios não surtem efeito, magia piora tudo e positividade também não está dando muito certo. Talvez seja hora de partir para o plano B.

- E qual seria o plano B?- perguntou Hazel.- Pela cara que vocês estão fazendo, parece algo horrível.

- Na verdade não é ruim... só é loucura, afinal, pode mandar o Percy para o vazio.

- Na minha cabeça não parecia tão ruim assim- Josh suspirou de novo.- Mas poderia aprofundar o coma dele e nunca mais falaríamos diretamente com ele.

- Você é um gênio!- Melanie bateu palmas animada com alguma coisa. Esperei que não levassem a sério essa ideia do plano B. Acho que seria um pouco desconfortável ir bater um papo com o vazio, lá provavelmente não tem tv a cabo.- Vamos falar diretamente com ele!

- Ah, claro- Josh falou com falsa animação.- E como você pretende fazer isso? Da última vez que eu chequei, Percy ainda estava em coma!

- Você é tãão mente aberta!- Mel se aproximou e senti o cheiro de seus cabelos quando ela chegou perto do meu ouvido.- É o seguinte, Percy: você vai me deixar entrar na sua cabeça e nós vamos conversar, okay?

A ideia dela entrar na minha cabeça não era exatamente boa, mas era a melhor que tínhamos se comparada ao plano B. Ela colocou os indicadores de cada lado da minha cabeça e caiu desacordada sobre meu peito.

Observei quando a cena escura onde eu estava mudou para a vista do precipício favorito de Melanie. Agora o mar se estendia até onde a vista alcançava e os peixes estavam de volta. Olhei para o lado e levei um susto. A pele de Melanie parecia queimada em muitos pedaços. Seu longo cabelo castanho estava espalhado esporadicamente em tufos aqui e ali. Suas unhas que sempre estavam perfeitas tinham se quebrado e faltavam algumas, deixando carne viva à mostra.

- O que aconteceu com você?- Perguntei, passando a mão por sua bochecha e tirando um pedaço dela sem querer. Procurei não me alarmar, mas aquilo, com certeza, me balançou bastante. Cortar as cabeças dos meus amigos era uma coisa. Outra completamente diferente era arrancar metade da bochecha deles sem querer.

- Usamos muito do nosso poder- ela prendeu a respiração. Se tinha uma coisa que Mel detestava, era parecer derrotada. Seus olhos se encheram de lágrimas, porém ela não permitiu que nenhuma delas caísse.- Você não está muito diferente de mim, na verdade, está até pior.

Resisti ao impulso de olhar para baixo e ver como estava.

- Como estão os outros?- perguntei, temendo a resposta.

- Você, eu e Jacob recebemos o maior prejuízo. Silena e Luke estão indo de planeta em planeta explicar o que houve. Nós três, bem... estamos nos recuperando ainda- ela olhou para o chão.

- Mas ainda que estejam se recuperando, você pode mudar sua aparência, não? Não quero dizer que você está feia e nem nada do tipo, apenas sei que você detesta não estar impecável.

Ela soltou um riso seco.

- Já fiz isso. Eu estava linda novamente.

- Então...

- Percy, minha aparência estava por um fio. Qualquer esforço poderia me levar de volta à estaca zero e, bem, não é nada fácil entrar na sua cabeça.

Assenti.

- Então nós temos pouco tempo antes de você começar a se desintegrar- falei e ela assentiu com dificuldade.- Alguma ideia sobre como eu posso sair do coma?

- A menos que você queira que façamos uso do plano B, é melhor confiar apenas na sua capacidade de acordar com a força de vontade.

- Vamos evitar o plano B, seja lá qual for... Caos mandou alguma mensagem?

- Não. Eu tentei dar uma olhada na nave, mas eles tem pedras de Shakam por toda parte. É impossível um de nós entrar lá.

- Está bem. E as coisas na Terra?

- Nada bem. Eu não olhei, quem me disse foi o Luke. Ele falou que tem um impostor virando todos os semideuses mais novos contra os mais velhos. Pura estratégia para conseguir o poder sem a interrupção dos heróis. Cada um deles está sendo mandado para a enfermaria aos poucos, delirando e tendo ataques. Não sei quem é o cara, mas que ele é forte, é.

- Daremos um jeito nisso assim que eu acordar. Até lá, continue se recuperando. E diga para Luke e Silena que eu quero eles parados cuidando de si mesmos também. Vamos precisar que todos estejam descansados e fortes para o que está por vir. Ah, e diga à Hazel e ao Josh que eu vou me recuperar. E nada de plano B.

- Então o senhor estava ouvindo nossa conversa?- ela perguntou com um sorriso travesso. Com todos aqueles machucados, Melanie parecia um zumbi do mal, sorrindo daquele jeito.

- Lógico, acha que eu vou deixar Hazel sozinha como dois loucos como vocês?

- Quanto amor!- ela suspirou e sumiu. Imaginei o susto que Hazel e Josh levariam ao ver o mais novo estado de Melanie.

Eu detestava não poder fazer nada por ela. Droga de coma idiota! Melanie fazia parte da família, assim como Hazel e minha mãe e todos aqueles amigos que eu deixara para trás.

Se meu corpo estava preso em um coma, provavelmente seria fácil sair do meu corpo.

A cena ao meu redor mudou, eu estava na enfermaria em pé ao lado do meu corpo. E a Mel tinha razão. Meu estado era deprimente. Parecido com o dela, porém eu ainda tinha minha bochecha no lugar.

Hazel pulou de susto ao me ver, exclamando “Percy” em um meio grito. Sorri para ela e observei Josh cair da cadeira com o grito dela.

Deixei os dois por lá e fui para a Terra. Isso exigiu um pouco mais de concentração, mas cheguei. Esperei que minha aparência ruim se limitasse ao meu corpo e deixasse meu espírito intacto.

O Acampamento Júpiter estava cheio, com quase dois mil semideuses gregos e romanos andando para lá e para cá. Os deuses estiveram ocupados nos últimos doze anos. Muitas crianças corriam e brincavam por ali. Lembrei de Ezequias. Infelizmente, ele não estava ali para brincar com elas. Imaginei que ele e Ally seriam bons amigos. Balancei a cabeça e comecei a andar por entre aquelas pessoas.

Vários lêmures pulavam de susto e sumiam quando eu passava por eles. Alguns murmuravam coisas como “eu disse que ele morreu” ou “isso não é bom”. Ignorei todos e continuei andando.

Já estava anoitecendo. O sol tingia o lugar de alaranjado, como se tudo estivesse pegando fogo. Algumas pessoas observavam o por do sol, possivelmente pensando que aquele seria o último que veriam. Pois estavam muito enganadas... O último provavelmente seria o do dia seguinte.

Silena e Luke usaram magia para que todo o Acampamento Meio-Sangue coubesse dentro dos arredores de Nova Roma. Nem mesmo a floresta escapou da mudança. Suspeitei que tivessem levado a floresta por causa dos espíritos da natureza dali, como Juniper, a namorada de Grover.

Continuei caminhando por Nova Roma, olhando tudo atentamente, atrás de qualquer indício de deuses sedentos por poder. Sem meu corpo, não podia simplesmente sentir a presença de algum deles, ou de espíritos ou de qualquer ser que pudesse entrar e se disfarçar entre os semideuses. Então teria que ficar atento e observar as pessoas que já conhecia, para ter uma ideia de por onde começar o limpa. A partir do momento que declarei que protegeria aqueles semideuses, heróis e os outros, quis deixar claro que não queria que ninguém mexesse com eles.

Considerando o discurso sobre Zeus e o grande Olimpo, supus que Zeus estava por trás do rapto de Jason. Apesar de não saber quem era aquele cara que precisava fazer algumas aulas de teatro. Jason não diria aquelas palavras nem sob pressão. Na verdade, era praticamente estúpido algumas daquelas pessoas pensarem que ele era o líder que eles tanto “amavam”.

Vi Quíron do lado de fora da enfermaria. O centauro conversava com a deusa Héstia, suas feições retorcidas pela preocupação. Parei atrás da deusa e tentei escutar a conversa. Ao redor deles, um grupo de heróis observava, trocando olhares uns com os outros de vez em quando. Semideuses que lutaram ao meu lado nas duas grandes guerras, todos chegando aos trinta anos de idade.

- Não podemos deixar que Zeus consiga controlar os acampamentos- Héstia olhou para o chão.- Ele mandaria os exércitos de heróis para uma chacina pensando que está certo.

- Mas, afinal, quem é esse cara?- perguntou Clarisse.- Vamos chegar lá e enfiar a cara dele em uma privada e fim de jogo.

- Você não tem um histórico muito bom com privadas, Clarisse- Drew alfinetou, com um sorriso cansado.- Não se lembra de quando Percy chegou ao acampamento?

Clarisse revirou os olhos e encarou Drew mortalmente.

- Aquele cara não é o Percy. Nós podemos contra ele, eu tenho certeza- ela continuou.- E se abrir a boca mais uma vez pra falar besteira, é melhor que esteja com o plano de saúde em dia.

O clima pareceu ficar tenso. Não foi por causa da ameaça, e, sim, pela menção ao meu nome. Já havia percebido há algum tempo, que o nome Percy Jackson era terminantemente proibido em conversas sobre batalhas ou guerras. Vez ou outra, alguém mencionava meu nome e eu escutava em Aureum, em alto e bom tom, como se me chamasse com um grito ou o famoso “fala aí, Percy”. É, eu tinha uma conexão muito boa com a Terra. Às vezes, eu escutava as preces do meus amigos para os deuses, pedindo que me encontrassem, que descobrissem o meu paradeiro.

Uma vez, Piper estava rezando para Afrodite e mencionou que esperava do fundo do coração que eu e Annabeth estivéssemos juntos em um lugar melhor. Na hora, aquela esperança me deu raiva, nojo até. Mas depois, uma dúvida foi surgindo dentro de mim. E se... não, eu e Annabeth não poderíamos mais voltar, assim como eu nunca soube seu real paradeiro. Das duas, uma: ou ela estava sendo escondida por algo extremamente poderoso, ou estava usando e abusando de seus artifícios de filha da sabedoria para se manter longe de olhos conhecidos, inclusive os do rei do universo. Fosse qual fosse a situação, aquela não era a minha prioridade no momento. Eu sabia que tinha dito que iria procurar saber o que acontecera à ela, mas infelizmente, o criador do universo fora sequestrado, eu estava em coma por tempo indeterminado e tinha um louco tentando ocupar o lugar de líder dos acampamentos. Acho, só acho, que talvez as coisas estivessem um pouco fora de controle.

Will Solace apareceu na porta da enfermaria, suas roupas estavam escondidas por um jaleco branco que inicialmente era branco, mas estava vermelho e suas luvas tinham manchas de sangue também. Suor escorria por seu rosto e pescoço e seus olhos tristes denunciavam o quanto nada estava bem.

- De quem é esse sangue?- Drew ficou pálida.

- A situação não está nada boa- Will enxugou a testa com um pano e lançou o olhar para o chão.- Tivemos que amarrá-las, ou teríamos alguns funerais hoje. Elas estavam arrancando os próprios cabelos e se arranhando.

- Alguma chance delas melhorarem?- uma semideusa perguntou. Lembro de já tê-la visto antes. Filha de Afrodite. Se não me engano, foi Silena quem a levou até o Acampamento Meio-Sangue, quando ainda era bem novinha.

- Pra falar a verdade, eu não sei- respondeu Will.- Nunca vi nada assim acontecer de uma hora para outra. Nem Dionísio deixava as pessoas tão desesperadas quanto elas estão.

- E se não acharmos uma cura logo- Nico apareceu junto de Calipso, atrás de Will-, elas não vão resistir.

- Isso é algum pressentimento de Hades ou você apenas acha?- Drew perguntou com uma pitada de esperança.

- Eu sinto que a hora delas está chegando, e não vai ser uma morte calma e tranquila...- ele deixou a frase no ar, enquanto todos digeriam suas palavras.

- Alguma notícia do Leo e da Piper?- perguntou Calipso, quebrando o silêncio.

- Nada ainda- respondeu Clarisse.- Procuramos em todos os lugares. Eu conversei com uma de minhas “irmãs”- ela fez aspas com os dedos-, e ela disse que Leo foi- ela olhou com cautela para Calipso, que assentiu, mandando que continuasse, os outros por perto desviaram o olhar para o chão, Calipso era a única que não sabia de algo que, com certeza, a magoaria- atingido por uma espada. Piper voou no falso Jason e de repente os três sumiram. Apenas quem ficou foi Thalia, que, definitivamente, não está bem. E quando ele reapareceu, estava sozinho, como se nada tivesse acontecido.

O esforço de Calipso para permanecer com a expressão neutra era visível. Suas mãos se fecharam e começaram a tremer. Seus lábios estavam em uma linha reta e o olhos marejados.

- Onde ele foi atingido?- ela perguntou, fazendo o possível para que a voz não vacilasse.

- Na barriga- respondeu Clarisse-, a espada atravessou.

E então Calipso não aguentou. Abraçou o próprio corpo e caiu de joelhos, soluçando e murmurando coisas do tipo “ele me salvou e eu não pude fazer nada!” ou “o que eu farei sem ele?”. A filha de Afrodite foi até ela e passou seus braços por cima dela, envolvendo-a em um abraço reconfortante.

Naquele momento, Calipso estava tão frágil! Me lembrei da jovem com milhares de anos que eu deixara em Ogígia, tantos anos antes. Ela estava tão triste, mais uma vez seu amor fora tirado dela.

Eu queria achar o falso Jason e matá-lo, não apenas por ferir Leo, mas também por machucar Calipso. Eu queria pegá-lo e... percebi um olhar em mim. Nico me encarava da porta da enfermaria, seus olhos carregavam um sofrimento que ele se recusava a mostrar. Ele deve ter achado que eu estava morto. Eu também acharia isso, se não sentisse tudo o que acontecia com meu corpo em Aureum. Comecei a andar em sua direção, mas algo me parou. Uma voz gritou na minha cabeça, uma voz que eu conhecia muito bem. Thalia estava me chamando, e eu atenderia. Comecei a correr e passei direto por Nico ao adentrar a enfermaria. Vários semideuses estavam ali, mas nenhum me viu. Thalia estava em uma das últimas camas, encolhida, respirando com dificuldade.

Me aproximei dela e sentei ao seu lado. Ela suava frio e seus olhos estavam longe. Sua voz não saía, porém eu conseguia escutar seus pensamentos com clareza.

“Percy, eu não sei onde você está ou o que está fazendo, mas nós precisamos de ajuda. Eu detesto admitir que estamos perdendo o controle. Então me poupe desse sofrimento e venha ajudar, Cabeça de Alga.”

Sorri e passei a mão por seu rosto.

- Já está mais do que na hora de ajudar, Cara de Pinheiro.

Ela pulou de susto, olhando em volta. Seus olhos vasculharam o lugar rapidamente, em busca da minha presença, mas apenas Nico podia me ver.

- Percy?- ela perguntou um pouco alto demais. Algumas pessoas olharam para ela como se fosse maluca.

- Ele está do seu lado- Nico apareceu.

- E-ele está morto? Mas...

- Eu não sei qual o estado dele, só sei que posso vê-lo como a qualquer outro espírito- ele me olhou com curiosidade e eu sorri.

- Não estou morto- falei para ele.- Apenas preso em um coma.

- Um coma...- repetiu ele.- E por onde andou esse tempo todo?

- Essa é uma longa história, mas logo eu vou explicar tudo- olho em volta e vejo muitos rostos conhecidos. Ninguém parecia estar prestando atenção no que acontecia ali. Hylla e Reyna estavam amarradas em suas camas, se debatendo. Reyna chorava e murmurava “ saiam daqui, ele já estava morto, ele era apenas um fantasma”.


Nos meus anos observando a Terra, descobri a história de cada um, e uma das que mais me assustavam era a de Reyna, que teve que matar o próprio pai. Acontece que não era mais seu pai, ele ficou louco e em seu lugar sobrou apenas uma mania. Ele atravessava objetos e os atirava longe. Certa vez, Reyna achou que o pai havia matado Hylla e acabou matando-o pra valer. Ela se culpava por isso, até que Nico a convenceu de que não fora bem assim, ela não matara o próprio pai, matara apenas o que restou dele.

- Antes de qualquer explicação, eu tenho que consertar isso- disse e voltei meu olhar para Nico. Ele franziu as sobrancelhas. Encostei na testa de Thalia e ela se acalmou, logo ela estava dormindo. Nico arfou, surpreso.

- Mas como...?!

- Eu não sou um espírito comum, Nico.

Levantei e me dirigi até a cama de Reyna. Nico me observava com um olhar sofrido, sentindo por não poder ajudar a amiga. Ouvi passos pela enfermaria e logo Will tinha voltado, junto a Quíron e Héstia. A deusa parou subitamente ao me ver, o que fez Quíron perguntar a ela se estava bem. Então ela sorriu docemente para mim e respondeu a ele que sim, que tudo estava melhor. Will checou a temperatura de Hylla e fez uma careta.

- Ela está queimando de febre- ele olhou para Reyna, preocupado em não conseguir salvar as duas.

- Elas vão ficar bem- Nico abriu um pequeno sorriso, surpreendendo a todos, menos a deusa, que ainda me encarava como se tivesse medo que eu fugisse.

- Não vejo como- Will olhou para ele em busca de respostas, mas elas logo vieram quando eu peguei a mão de Reyna e ela parou de se debater. Seu rosto se acalmou e ela até sorriu.

- Eu sabia que você viria, Percy- ela murmurou e entrou em sono profundo.

Will e Quíron observavam a cena incrédulos.

- Pensei que tinha me esquecido- Hylla resmungou assim que a tirei do sofrimento. Mas, ao contrário de Reyna, ela não dormiu. Seus olhos se abriram e ela tentou levantar, sendo surpreendida por amarras em seus pulsos e pernas.- Vão ficar parados aí, ou vão me tirar daqui?

Will saiu do torpor e correu a desamarrá-la. Ela se sentou, esfregando os pulsos e olhando em volta com ansiedade.

- Onde ele está?- ela perguntou, recebendo como resposta os dedos de Nico e Héstia apontados para mim.- Não consigo vê-lo.

- Quem?- Will olhou em volta, procurando o motivo da loucura dos presentes.

- Percy- responderam os três juntos.

Will e Quíron se entreolharam.

- Ele está...- começou o centauro, seu rabo balançando.

- Está em coma- respondeu Nico.

- Ah, claro- o centauro levou a mão às têmporas e apertou. Tudo aquilo estava exigindo muito dele.- De qualquer forma, seja bem vindo, Percy.

Sorri e cruzei os braços. Porém meu sorriso logo se desfez. Uma garota chorava baixinho atrás de mim. Levei a mão a testa e me repreendi por tê-la esquecido. Andei até a última cama do lado esquerdo e parei em frente à Alissa, a filha de Ares que eu levara a loucura por pura estupidez. Héstia prendeu a respiração, observando cada detalhe.

Sentei ao lado de Alissa e peguei sua mão. Seus olhos se voltaram para mim, como se ela visse o mundo pela primeira vez.

- Desculpe- murmurei, olhando dentro de seus olhos.- Eu sinto muito por tê-la feito passar por isso. Eu fui um idiota completo.

Ela sorriu e concordou com a cabeça. Ela abriu a boca para falar, mas eu o fiz primeiro.

- E eu vou trazer seu irmão de volta, mas preciso que você o convença a não permanecer no lado inimigo.

Ela baixou os olhos, decepcionada consigo mesma.

- Eu tentei- ela disse.- Me deixei ser levada para falar com ele, mas meu irmão não me ouviu.

- Nós daremos um jeito nisso, não se preocupe.

Olhei ao redor. Surpreendentemente, todos me encaravam, desde os meus amigos até os estranhos que eu nunca vira. Isso era uma boa notícia.

- Obrigada, Percy- Hylla olhou em meus olhos, deixando claro que teríamos uma conversa séria mais tarde. Engoli em seco e sorri amarelo.

- Percy?- Alissa me perguntou.- Você é Percy Jackson?

Assenti e ela se jogou em meus braços. Fiquei momentaneamente sem reação e depois envolvi a filha de Ares em um abraço.

- Eu não acredito que estou abraçando o grande Percy Jackson!

- Espera- Nico começou-, como ela pode estar te abraçando? Você ainda é um espírito, não?

- Minha força está voltando- respondi, deitando Alissa na cama com calma e fazendo-a dormir. Suspirei e me levantei.- Meu corpo está se recuperando bem, e, consequentemente, meu poder está voltando aos poucos. Ainda não é o suficiente para acordar, no entanto. Já é alguma coisa.

- Entendo.

- Bom, chega de conversa fiada- esfreguei as mãos.- Está na a hora de descobrir quem é o impostor- comecei a caminhar para fora da enfermaria.- Você vem, Nico?- ele acenou e se pôs ao meu lado.- Enquanto nós damos uma olhada no falso Jason, Hylla deveria avisar as Amazonas e acordar Thalia, devem estar atentas a qualquer coisa. Lady Héstia deve ficar e dar esperança a essas pessoas.

Todos assentiram e eu saí. Voltei a ficar invisível. Mais transtornos era tudo o que eles não precisavam naquele momento.


Já podia ver a lua levantando-se. Logo seria noite e ficaria mais fácil procurar o intruso, visto que todos estariam mais calmos devido ao sono. Fora um dia cansativo para todos.

- O que aconteceu com você?- Nico perguntou ao meu lado, enquanto caminhávamos atrás de impostores.

- É uma longa história- respondi, tentando atrasar o momento ao máximo.- Sabe a Ordem de Caos?

Ele assentiu e eu olhei em seus olhos.

- Eu sou o Ômega, líder da Ordem.

Voltei a andar e ele me acompanhou. Não parecia exatamente surpreso.

- Suponho que nada que eu disser, vai surpreender você, não é?- sorri.

- Não é mais tão fácil fazer isso.

- Ah, já ia me esquecendo- parei e fiquei de frente para ele.- Hazel está bem. Ela está sendo cuidada em Aureum, meu planeta, e Frank e seus filhos também.

- Obrigado- um alívio tomou conta dele, que respirou profundamente. Ele devia estar preocupado não apenas com Frank, mas também com os sobrinhos.

- Eu tenho uma ideia- falei, mudando completamente de assunto.- Já sei como podemos andar mais rápido com essa busca.




Olhei ao redor. A noite já se fazia presente e Nico fizera bem seu papel. A fogueira brilhava, grande o suficiente para iluminar as centenas de semideuses presentes. Todos se aglomeravam o mais perto possível dela. Os mais novos ganharam um lugar de destaque, bem nos arredores da fogueira.

Nico conseguira convencer algumas pessoas a se juntarem para a fogueira, e estas convenceram mais gente. A ideia era juntar o máximo de pessoas que conseguíssemos no mesmo lugar e observá-las. Todos pensavam que era uma última festança, com direito a música e histórias, como sempre fora. Possivelmente, a última noite.

O ânimo não era dos melhores, mas isso nunca impediu ninguém de fazer uma boa festa, principalmente depois que os romanos passaram a frequentar o Acampamento Meio-Sangue. Eles cantavam e dançavam. Casais se abraçavam e amigos ficavam juntos.

O sentimento de que não sobreviveriam quase era palpável. Héstia andava de um lado para o outro, sorrindo e cantando, bem mais confiante do que antes. Ares e Hades haviam chegado alguns minutos antes.

Eu observava cada um, desde os nenéns recém-nascidos, até os idosos caindo aos pedaços. Todos pareciam normais.

Depois de algum tempo, todos começaram a se juntar mais perto da fogueira, onde Héstia estava sentada em seu costumeiro lugar, e contaram histórias de heróis. Histórias de Hércules e o rei Midas, Dédalo e Ícaro, Perseu e a tripulação do Argo. Eu apenas escutava, sem realmente prestar atenção às histórias que eu já estava cansado de ouvir, passando por entre as várias pessoas sentadas, vendo a reação de cada uma.

- Como estamos falando dos maiores heróis e vilões da história, não podemos deixar de contar sobre os mais recentes também, aqueles que nos salvaram para que pudéssemos estar aqui hoje- começou um filho de Apolo. Devia ter uns dezesseis anos, e eu podia ver em seus olhos a bondade, a coragem e a honra dele. Meus poderes ficavam cada vez mais fortes, e eu conseguia distinguir algumas coisas.- Na primeira Grande Guerra, os titãs se ergueram contra nós...

Parei para prestar atenção. Ouvira essas histórias poucas vezes. E todos sempre evitavam mencionar eu ou Annabeth, o nosso fim e nossos desaparecimentos. Mas eu ouvia todas as vezes que eles falavam disso, tentando com todas as minhas forças ignorar o que quer que tivessem a dizer sobre mim. Ele contou toda a nossa trajetória, da mesma forma como eu me lembrava, cheio de detalhes. Ele não escondia nada. Não evitava falar nossos nomes.

- E foi assim que derrotaram os titãs- o semideus sorriu orgulhoso.- Luke foi o herói da profecia e Hades passou a ter mais importância no Conselho Olimpiano. Apesar de que o sacrifício de Percy, ao recusar a imortalidade, não surtiu tanto efeito. Os olimpianos continuaram ignorando deuses menores e seus filhos. Então começamos outra história.

- Mas como Luke pode ter sido um herói se foi tudo culpa dele?- um menino de doze anos perguntou.- Você sabe, Julian, tudo o que ele fez. Julian o olhou e sorriu mais ainda, explicando um pouco mais.

- Exatamente!- ele abriu os braços.- Ele lutava pelo que achava certo, estava cansado de ser ignorado pelo próprio pai, e não queria que todos tivessem que passar pela mesma coisa que ele. Luke ofereceu o próprio corpo para sua causa, mas mesmo assim, teve a imensa coragem de fazer o que viu que era realmente certo! Ninguém mais sabia de seu ponto fraco, Cronos ganharia a guerra, mas ele salvou a todos. Ele se matou para que os amigos sobrevivessem. Ele é um dos maiores heróis que já existiram! E temos quem comprove isso. Clarisse, Will e tantos outros. E também temos a participação romana.

Então ele começou a contar na visão do Acampamento Júpiter. Logo Julian terminou e passou para a Segunda Grande Guerra, sempre com os olhos brilhando. A fogueira tinha um tom roxo, que significava que todos ali prestavam atenção ao relato. As palavras dele eram boas e precisas, com certeza aquelas eram suas histórias preferidas. Uma pontada de orgulho surgiu em mim, ao ver que tantas pessoas admiravam nosso papel.

Nico parou ao meu lado e ficou escutando comigo. Eu podia ver que ele também sentia aquele orgulho, assim como Clarisse e Drew, sentadas mais distante dali, e Will e Austin e tantos outros. E eles também podiam pensar “eu estive lá, eu ajudei essa bagaça toda”. Quando Julian chegou na parte em que Hermes apareceu para nos levar ao Olimpo, muitos murmuravam coisas como “será que é como na primeira?” ou “vão receber os parabéns”. Percebi que várias pessoas não conheciam aquelas histórias, e era a primeira vez que ouviam, se deslumbrando com cada palavra ou gesto de Julian.

- Depois disso, nunca mais Annabeth foi vista. Há teorias do que pode ter acontecido, mas nenhuma é aceita, pois ninguém que a conhecia concorda. Dois anos depois, Percy também desapareceu, deixando para trás somente o apartamento destruído. Não havia sinal de sua família ou do que realmente aconteceu. Sangue pingava das paredes do quarto de sua irmã mais nova, canos jaziam estourados e móveis foram reduzidos a pó- meus amigos olharam para o chão e eu me mexi inquieto. Aquele geralmente era o fim da maioria dos semideuses, poucos conseguiam chegar aos trinta anos.- Os dois acampamentos se movimentaram para achá-lo, assim como fizeram com Annabeth. Porém, não houveram resultados. Nenhum foi achado. E dos sete semideuses da profecia, apenas cinco permaneceram. Agora, com a perda de Hazel, eles são quatro. Não estamos em uma situação boa, mas se esses quatro fortes semideuses conseguiram sobreviver a suas aventuras, nós conseguimos vencer esta fase de medo e terror. Afinal, somos todos uma família. Uma grande, forte e poderosa família.

Todos bateram palmas. Fui obrigado a fazê-lo também. Julian era diferente, um semideus otimista. Ele me lembrou a Piper, que sempre tentava levantar nosso ânimo, quando não tínhamos força para seguir em frente. Assim como Hazel. E Leo, que fazia piadas mesmo sabendo que não sobreviveria. Frank também. E Jason. Annabeth. Todos eles, meus melhores amigos. Reyna e Nico. Grover. Treinador Hegde. Hylla. Quíron. Todos eles. Luke e Silena, Melanie e Jacob, Charles e Andrômeda, Sally e May, Caos.

Eu não podia deixar todos eles na mão.

Um caminho se abriu por entre os semideuses, e por ele passou um grupo. Na liderança, estava o falso Jason, seguido por Piper e Leo e uma penca de semideuses idiotas que acreditavam nele. Nico seguiu meu olhar e franziu as sobrancelhas.

- Mas eles não sabem que aquele não é o Jason? Por que estão com ele?

Enquanto eles se aproximavam do centro do círculo, a fogueira, semideuses mais velhos se levantavam e se juntavam ao grupo. Praguejei mentalmente, vendo o real propósito dele. Todos eles, meus amigos, não estavam mais ali.

Reyna apareceu atrás de Nico, junto com Alissa e Thalia. Todas com o semblante preocupado.

- Você me perguntou por que estão com ele- falei para o Nico, com o olhar preso no falso Jason, me tornando visível para as meninas atrás-, e a resposta é: não são eles, nossos amigos. Foram tirados da jogada para que ninguém forte o suficiente o contradissesse. E já sei quem serão os próximos.

Eles se entreolharam. Todos sabíamos. Quem garantiria muito poder de uma só vez? Quem tinha um exército de guerreiros sob seu comando?

- Onde está Hylla?- Nico perguntou, chegando a mesma conclusão que eu.

- Ela foi até o acampamento das amazonas- Thalia respondeu.- Sozinha. Isso não é bom. Eu vou atrás dela.

- Eu vou com você- Reyna se adiantou.

- Vocês estão querendo ser pegas, não é?!- Nico bufou, cruzando os braços.- As três maiores líderes juntas e sozinhas, acredito que seja extremamente tentador.

- Ele não sabe que estamos bem- os olhos de Thalia brilharam-, temos a vantagem.

- Ele sabe- falei, me virando para eles.- Em menos de um dia, ele já conseguiu a maior parte daqueles que tem uma grande importância aqui. Ele tem espiões, com certeza. Deve estar apenas se perguntando quem conseguiu salvá-las. Apenas a força de um deus poderia tirá-las daquilo, e não é qualquer deus. Ele quer descobrir quem foi, para dobrar essa pessoa também.

- O que vamos fazer, então?- Reyna cruzou os braços. Ela ficava diferente sem sua capa de pretora. E ela devia estar odiando isso.- Não podemos deixar ele pegar Hylla também! Ele terá as amazonas na palma da mão.

- Podem ir, mas ao menor sinal de perigo, façam uma viagem pelas sombras para bem longe. Talvez fiquem seguros no mundo inferior, já que Hades está conosco- falei, tentando organizar os pensamentos.

- O que você vai fazer enquanto isso?- Nico me analisou.

- Eu vou descobrir com quem estamos lidando. Tomem cuidado.

Eles assentiram e correram dali.

Uma pontada no meu braço me assustou. De repente, uma dor terrível se fez presente em todo o meu corpo. Alguma coisa estava errada em mim, lá em Aureum. Talvez eu estivesse me recuperando, mas alguma coisa me dizia que era o oposto.

Respirei fundo e tentei esquecer a dor. Ela diminuiu, mas continuou ali. Eu tinha que ser rápido. Fui até Héstia, sem que ninguém pudesse me ver, e sentei ao seu lado.

- Talvez seja melhor você ficar de olho na Thalia e na Hylla- falei para ela, que me olhou entendendo.- Se elas realmente forem as próximas, não podemos deixar que consigam. Nenhuma caçadora ou amazona vai desobedecer sua líder.

- Você não está bem- ela franziu a testa, seus olhos pegando fogo.

- Nada que eu não aguente- sorri, vendo quando ela desapareceu para ajudá-los, caso fosse preciso.

Fiquei ali sentado por um tempo ainda, ouvindo um discurso terrível do falso Jason. Ele não parava de falar em deuses e vitória. Estava mais chato do que a própria deusa da vitória. Quando me levantei, ele pareceu sentir minha presença e se virou. Seus olhos encontraram os meus e ele sorriu.

- Por essa eu não esperava- ele comentou, mas antes de continuar, uma luminosa luz branca se fez presente, ficando mais e mais forte.

Logo, uma deusa de três metros de altura estava ali. Hera usava um vestido branco e seus cabelos estavam soltos, formando cachos que se estendiam até sua cintura. Ao seu lado, havia uma bela garota de quatorze anos de idade. Sua pele branca contrastava com os cachos castanhos e seus olhos eram da cor do chocolate. Me lembrava muito alguém.

Ela usava calças jeans e uma blusa branca. De sua cintura pendia uma espada muito parecida com contracorrente. Seus olhos brilhavam com preocupação e determinação, o mesmo olhar que minha mãe carregava quando eu saía para uma missão.

- Caros heróis- começou a deusa, que não tinha me visto-, a batalha se aproxima rápido e acredito que será extremamente difícil. Estamos nos preparando para a guerra, procurando formas de mantê-los seguros, apesar de não haver muitas maneiras. Porém, não é por isso que estou aqui- ela olhou para os dois deuses presentes.- Meu irmão, precisamos de você lá em cima, não deveria ficar aqui. E, meu amado filho, temo que você também esteja sendo requisitado. Junto à Héstia. No momento, não podemos nos dar ao luxo de brigar.

Hades e Ares se entreolharam.

- Não, irmã, nós fomos expulsos do Olimpo- Hades olhou nos olhos dela, as sombras vindo em sua direção-, e não queremos voltar.

- Talvez, Hera esteja certa- o falso Jason falou-, seria melhor para todos, se vocês fossem.

- Nós vamos ficar- rosnou Ares.- Não vai ser um projeto de deus que vai nos fazer mudar de ideia.

Então Ares já sabia quem era ele. De repente a terra começou a tremer, ficando cada vez mais forte. Uma risada alta e terrivelmente familiar ecoou, parecia vir de todos os lugares. Os semideuses se abaixaram para não cair, até mesmo os impostores.

- Ainda acham que podem me vencer?!- Gaia riu, derrubando mais algumas pessoas.- Não podem! Pensam que me derrotaram com aquela ideia idiota, mas não! Ninguém pode fugir da Terra!

O chão começou a se abrir em vários lugares. Um buraco surgiu perto de mim e eu pude ver com clareza- ou nem tanta- o caminho só de ida para o tártaro. Uma imensidão negra se estendia milhares de metros abaixo de mim. Outro buraco se abriu abaixo de Julian que se segurou nas beiradas com dificuldade.

- Levarei você, semideus, por idolatrar Perseu Jackson e Annabeth Chase e todos aqueles tolos do Argo II!- rugiu ela.

Uma garota ruiva correu e agarrou as mãos de Julian, desesperada em tirá-lo dali. Mas eu já vi isso. O Tártaro estava puxando ele, ela nunca conseguiria. Bom, não conseguiria... se eu não estivesse aqui.

Corri até ela. Suas lágrimas caiam no rosto de Julian, que já parecia ter percebido o que aconteceria se ela continuasse agarrada a ele. Uma única lágrima rolou por seu rosto, seus olhos brilharam em despedida e uma frase saiu de seus lábios antes de soltar a mão da moça: eu te amo.

Ela gritou quando ele escorregou por entre seus dedos e ele esperou a sensação de estar caindo. Mas ela não veio. A garota suspirou, tanto de susto, quanto de medo. Ela olhava para mim fixamente. Assim como Julian, cuja mão eu conseguira pegar na hora, antes que ele caísse para a escuridão.

- Não pense que sua vida acaba aqui, Julian, você ainda tem muito o que viver- falei, sorrindo.

- Ele está me puxando- ele falou, morrendo de medo, mas tentando não demonstrar.

- Sim, mas tem uma moça muito bonita querendo que você fique- comecei a puxá-lo para cima, usando a força que não deveria usar.- Vai por mim, nunca é bom desobedecer as ruivas.

- Não!- gritou Gaia.- Você não vai interromper os meus planos novamente, Perseu! Eu vou te pegar!

O chão se abriu debaixo de mim, mas eu não caí, permaneci segurando Julian. Estávamos flutuando bem acima do Tártaro. Qualquer distração nos faria cair.

- Já chega!- rugi e o mar se agitou muito longe dali. À distância, uma onda gigante começou a se formar, vindo em nossa direção, como se voasse. Ela não tocava o chão e nem a cidade. Apenas voou até nós, se espalhando pelos pés das pessoas. Um fina camada de água ficou sob meus pés e um braço surgiu dela, me ajudando a puxar Julian, que ficou de pé ao meu lado. Outros buracos começaram a se abrir, mas a água impedia as pessoas de caírem.

Caí de joelhos na água. Sentia minha força se esvaindo rapidamente. Logo, todos cairiam se eu não permanecesse concentrando meu poder ali.

Levei dois segundos para perceber a nova força que brotava em mim. As sombras começaram a se dobrar em minha direção e um sentimento de vingança apareceu. Os deuses estavam me ajudando. Não era apenas Hades e Ares. Héstia também me mandava ajuda de sabe-se lá onde estivesse, assim como Hera. Me perguntei se vacas viriam correndo para cá.

A força era bem vinda.

- Alpha, Beta, Batin, Aleph!- gritei. Eu precisava deles. Precisava da força deles também.

O primeiro a aparecer parecia uma estrela cadente, caindo diretamente em nossa direção. Ela ficava cada vez maior e mais rápida. Outras três estrelas vinham atrás. A primeira caiu com grande impacto, balançando tudo e todos, como se um caminhão tivesse colidido com a terra a mil por hora. Os outros três caíram mais devagar, porém com o mesmo impacto.

A primeira explodiu em uma luz branca, assim como as outras. Quando a luz sumiu, em seu lugar estavam quatro guerreiros vestidos com armaduras e capas negras. Suas máscaras cobriam todo o rosto, menos os olhos dourados. Todos com espadas nas mãos, esperando as novas ordens.

Alpha correu até mim, enquanto os outros permaneceram em suas posições. Ela se abaixou e me apoiou.

- Temos que tirar Gaia daqui- falei, recebendo a ajuda de Melanie para levantar.

- Acho que você gostaria de voltar ao seu corpo antes, não é?- ela disse com delicadeza e no mesmo momento outra estrela apareceu. Ela caiu ao nosso lado, sem causar problema algum. Ela explodiu em luz e quando as pessoas voltaram seu olhar para nós de novo, eu já estava de volta ao meu bom e velho corpo.

Minhas vestes eram iguais as deles, porém meus olhos eram negros como a noite, com uma única estrela no centro. Ao nosso redor, ninguém ousava respirar. Beta levantou sua espada e a fincou no chão. De início não houve nada, mas um tremor começou a crescer, junto a um grito horrível da primordial. Uma fenda do tamanho de um carro se abriu e ele retirou a espada. Seus olhos se voltaram para mim e percebi que ele vira algo ruim.

- É melhor você ver isso- Luke apontou para a fenda com a cabeça.

Fui até lá quase correndo, temendo o que veria ali. Lá no fundo do buraco, onde a vista mortal não alcançava, onde o chão possuía veias e vibrava, havia uma pessoa. Uma bela garota de cabelos loiros e cacheados. Ela estava desacordada, então seus olhos estavam fechados, mas eu sabia que neles havia uma tempestade cinza e intensamente maravilhosa.

E então, após tantos anos, eu finalmente descobrira o paradeiro da única mulher que eu realmente amei com todo o meu ser. E queria que tivesse sido de outra forma. Eu encontrara Annabeth, e eu precisava salvá-la daquele lugar horrível.

~•~
Heeey amores!!!! Eu voltei depois de muito tempo hehe aposto que vocês já estavam planejando um jeito de me matar kkkkkkkkk mas é que eu não estava conseguindo escrever esse capítulo :/ no entanto eu estou aqui agora p trazer mais um capítulo, afinal, eu não vou abandonar essa fic d jeito nenhum!!!
Eu quero agradecer a todos os favoritos e comentários extremamente maravilhosos de vocês. Sério, não tenho palavras para descrever a minha alegria ao ler a opinião de vocês, seus maravilhosos!
e desculpem pelos erros, não deu p revisar direito.
Enfim, vou tentar terminar o próximo o mais rápido possível.
Até mais, amores, e feliz carnaval p vocês <3

Percy Jackson: O Vingador De CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora