Capítulo 29

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Melanie

Era ele.

Depois de 50 anos, ele voltou para infernizar minha vida mais uma vez. Mas eu não deveria estar surpresa, afinal aquele cara era uma barata.

Meu coração batia tão rápido e com tanta força que imaginei que ele explodiria. E eu agradeceria se isso acontecesse.

Estava tudo voltando de uma vez. Os gritos, o choro, os pedidos de misericórdia... o sangue. E meu peito doía. Doía muito. Respirar parecia uma tarefa impossível enquanto aquelas cenas continuavam se repetindo em minha cabeça.

Podia ouvir a voz dele, como se estivéssemos um ao lado do outro e não em diferentes planetas. "Amo você" ele disse uma vez. E eu acreditei. Gritos se seguiam a essas palavras tão simples e tão necessárias. Eles imploraram. Eu implorei.

Fiquei de joelhos e jurei fazer qualquer coisa. Eu gritei que me tornaria o que eles precisassem, qualquer coisa.

Implorar não foi o suficiente.

"Eles estão bem", repeti o mantra que permitiu que eu não enlouquecesse durante os últimos anos, "eu sou forte, posso protegê-los, nunca mais serei fraca".

Mas não importava o quanto eu dissesse aquilo, ainda tinha feito papel de idiota na frente de toda uma multidão. Ele me humilhou mais uma vez. Fui humilhada em frente à minha própria família.

Como eu poderia olhar nos olhos deles depois daquele fiasco? Talvez aquela vozinha no fundo de minha mente estivesse certa. A Ordem de Caos só perdeu tempo ao me treinar, ao me tornar parte da família. No fim, só seria preciso uma única visão para me desequilibrar, para trazer de volta aquela menina fraca e inútil que pensei ter sido enterrada tanto tempo atrás. Mas ela estava viva, apenas esperando por um passo em falso.

Sentei-me sobre o telhado da casa de Jacob e fiquei olhando para dentro da casa ao lado. Minha casa. Uma figura passou pela janela de um dos corredores, provavelmente meu irmão mais novo. Ele estava sempre andando de um lado para o outro, nunca se aquietava. Tinha TDAH, mas não era um semideus. Já era um homem feito, mas sempre seria meu irmãozinho.

Eu os trouxe para minha casa quando o ataque dos sombrios começou. Aquele não era o lugar mais seguro no momento, porém a casa era grande o suficiente para que coubessem todos os membros da nossa família. E ainda sobraria espaço.

Tinha espaço para minha mãe e seu novo marido, assim como para minhas duas irmãs e suas respectivas famílias. Meu irmão até poderia trazer sua noiva, grávida de seis meses.

Todos eles tinham seguido em frente com suas vidas. Construíram famílias lindas e incríveis.

Eu fui a única que ficou para trás.

Com todo aquele treinamento da Ordem, nunca tive tempo para coisas triviais como relacionamentos ou o tipo de mobília que eu queria para minha casa. E isso era bom. Eu não me relacionaria com ninguém mesmo que quisesse.

Inevitavelmente, os gritos ficaram mais altos. Não adiantava ficar sentada ali, vendo com meus próprios olhos que estavam todos seguros. As lembranças podiam ficar mais borradas com o passar do tempo, só que ainda eram mais fortes que eu.

-Sei que você me ama- disse Jacob, atrás de mim-, mas ficar plantada no meu telhado parece psicótico demais até pra você.

Dei de ombros, como se não ligasse para aquilo, e passei as mãos pelo rosto discretamente, limpando as lágrimas.

-Deveria ficar honrado... - comecei, queria entrar na brincadeira, zoar a cara dele e depois rir de alguma idiotice que ele obviamente soltaria. Só que minha garganta fechou completamente e precisei me esforçar para lembrar de que havia ar o suficiente ali, que eu não sufocaria.

Percy Jackson: O Vingador De CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora