Unexpected Fall

Prólogo

ANGEL

Quando se é criança, os adultos costumam nos perguntar o que queremos ser quando crescermos. Existem aqueles que dão as respostas típicas como "Quero ser médico" ou "Quero ser professora", existem os engraçadinhos que dizem que querem ser gente grande. E existem as crianças criativas, que dizem que sonham em serem astronautas ou escritores de grande sucesso. Eu sempre fui do grupo de crianças criativas.

Enquanto meus coleguinhas diziam que queriam ser jogadores de futebol ou veterinários, eu dizia que meu sonho era ser fotógrafa. A maioria das pessoas não entendia de onde uma criança de quatro anos havia tirado que queria seguir uma carreira profissional onde o trabalho seria tirar fotos. Na verdade, nem mesmo as crianças entendiam o que aquilo queria dizer, sempre falavam que era um trabalho chato e entediante, mas eu sempre vi a fotografia como a obra de arte mais bela do mundo.

Quando me perguntam quando seguir a carreira da fotografia se tornou meu sonho, nunca sei responder. Isso porque não me lembro de um momento da minha vida onde não quisesse tirar fotos, onde não amasse tirar fotos. Porém sei de onde esse sonho veio. Foi do meu avô materno, Harry Stuart. Ele era fotógrafo e, além disso, minha pessoa favorita em todo o mundo.

Me lembro de que, desde pequena, meu avô me fazia surpresas me buscando na escola e me levando para o parque para observar as pessoas e fotografá-las, o que, quando cresci mais um pouco, evoluiu para criar possíveis histórias para a vida delas. Foi aí que a minha paixão por tirar fotos surgiu, e quando ganhei minha primeira máquina fotográfica, aos oito anos, soube que era o que eu queria fazer pelo resto da vida.

Porém, quando sonhamos com algo, tudo parece muito distante. Tudo parece surreal e fora da realidade, principalmente quando todos dizem que seu sonho não te trará estabilidade financeira e que sempre viverá às custas dos outros. Ainda bem que nunca fui o tipo de pessoa que é facilmente influenciada pela opinião alheia. Caso contrário, não estaria vendo o meu sonho se realizar. Bom, na verdade, não estaria vendo o começo da realização do meu sonho.

Senhorita Angel Liz Stuart

A Universidade de Chicago tem o prazer de informar que a senhorita foi aceita no curso de Fotografia de nosso programa de graduação.

As informações sobre orientação, materiais e curso serão enviadas por anexo neste mesmo e-mail.

Cordialmente,

Emilia Fabbri, Universidade de Chicago.

Reli a carta dezenas de vezes para ter certeza de que eu não estava errada, ou de que não era mera ilusão de ótica. Mas não, era real. Como a maioria dos estudantes do último ano do ensino médio, apliquei para diversas faculdades que apresentavam um curso de fotografia que me agradasse, a maioria em cidades no estado da Califórnia, ou até mesmo cidades vizinhas à Healdsburg, onde fui criada. A Universidade de Chicago é a única que fica extremamente longe do Condado de Sonoma. Também era a faculdade dos meus sonhos. E eu entrei.

O problema é que meus pais sempre me disseram que ir para a UChicago estava fora de questão pelo simples fato de ficar praticamente do outro lado do país. Por algum motivo, eles preferem que eu vá para uma faculdade que fique na Califórnia, ou pelo menos em um estado vizinho como o Arizona ou o Oregon. Mas mesmo assim, me inscrevi na Universidade de Chicago, sem realmente acreditar que passaria. Aparentemente, eu estava errada.

A porta do meu quarto é aberta bruscamente e na mesma hora eu fecho o computador. Lucas, meu irmão mais novo, entra e encara a cena, extremamente confuso.

– Por que você fechou o computador quando eu entrei? – Ele cruza os braços, encostado na porta.

– Não te interessa, enxerido – falo ao me levantar para colocar o computador na escrivaninha.