Unexpected Fall

18

JUAN

Morar com uma mulher é ter consciência de que, um dia ela estará feliz e calma, no outro estressada e no outro, talvez acorde a casa toda ao cantar uma playlist antiga da Taylor Swift em plenos pulmões às nove da manhã de um sábado. Infelizmente, estou sendo uma vítima da última opção nesse exato momento. Por algum motivo, Angel decidiu que cantar os álbuns Lover e Speak Now seria a melhor maneira de começar o dia.

Derrotado, passo as mãos pelo rosto e me levanto da cama. Coloco a primeira camiseta velha que encontro no chão e saio do meu quarto. Ao chegar na cozinha, vejo Angel com o cabelo preso em um rabo de cavalo mal feito e um fuê na mão direita, que está usando como microfone enquanto canta Paper Rings. O fato de eu saber todos os nomes das músicas da Taylor Swift ainda me assombra, ter minha irmã mais velha como babá durante grande parte da minha infância resultou em dias seguidos de "aulas" sobre a "rainha da indústria do pop".

– Angel, são nove da manhã! – Ela se assusta com minha voz, apontando o utensílio de confeitaria como uma arma letal. – Por que raios você está cantando Taylor Swift às nove da manhã!?

– Por que não cantar Taylor Swift às nove da manhã? – Ela responde animada, com um sorriso no rosto.

– O que deu em você, hein? – Abro a geladeira, procurando pelo leite.

– Estou feliz, só isso.

– E o que te deixou tão feliz?

– Seu irmão está vindo pra Chicago.

Ah.

É óbvio. Óbvio que Miguel iria aparecer agora, estava tudo muito bom para ser verdade. Angel finalmente não me despreza e agora vou voltar a ser invisível porque o Senhor Rostinho Perfeito vem para Chicago.

Mas que merda de ciúmes!

– Vem, é? – Despejo o leite em uma tigela, fingindo não me importar.

– Vem. Ele não falou com você?

– Sou a última pessoa que saberia que ele vem. É bem capaz que ele nem me avise, acho até melhor assim.

– Você não tá falando sério. – Ela me encara triste.

– Tá tudo bem, Angel. Miguel não se importa comigo, nem nunca se importou. Ele é bom demais pra ligar pro irmão mais novo fracassado. – Jogo o cereal por cima do leite.

– Juan, isso não é verdade! Claro que ele se importa, ele é seu irmão. – Solto um riso irônico.

– Quando você descobrir que seu namoradinho não é perfeito como você imagina, acho que sua cabeça explode, Angie. – Pego meu café da manhã e volto para o meu quarto.

Mais tarde, depois do almoço, Angel bate à minha porta, abrindo uma fresta logo em seguida e colocando seu rosto ali.

– Ei.

– Ei. – respondo ao tirar os olhos do livro que estou lendo. – Tá tudo bem? – Angel parece relutante, como se estivesse se perguntando se deveria perguntar o que quer que fosse.

– Seu irmão me chamou pra sair para jantar na sexta. – É claro que chamou. – Vamos em um restaurante chique. E eu meio que não tenho nada para vestir e eu vim pedir pra você me acompanhar e opinar. – deito a cabeça no travesseiro.

– Não, valeu. Tô bem aqui.

A próxima coisa que sinto é meu braço sendo puxado por dedos finos, mas firmes, e meu corpo colidindo parcialmente com o chão.