JUAN
Hoje é segunda. Se você não sabe o que isso significa, é porque você é um filho da puta sortudo. É o primeiro dia de aula de Angel e, teoricamente, isso não seria um problema. A questão é que são 05:00 da manhã, uma hora antes do meu despertador tocar e eu realmente ter que acordar para ir trabalhar.
A criatura divina, além de me acordar com seu despertador super alto e exagerado, que parece uma sirene de emergência, coloca a sua playlist no volume máximo, não me deixando dormir pela manhã. Eu arrumei um emprego no mercado do bairro para que ela parasse de me pressionar, mas não adianta nada se eu for trabalhar parecendo um zumbi e sendo zero produtivo porque minha colega de apartamento não me deixa descansar!
Eu até consegui dormir mais um pouco enquanto ela estava com a música em seu quarto, com a porta fechada. Mas quando ela saiu e foi para a cozinha, ficou impossível. Mas foi só quando ela ligou o liquidificador – aumentando ainda mais a música – que perdi completamente a paciência.
Me levanto da cama, vestindo uma bermuda de moletom e saindo do meu quarto, indo direto para a cozinha. Quando chego no cômodo, vejo Angel fazendo café e escutando alguma música do Shawn Mendes, se não me engano, e ela cantando, obviamente.
– Angel!
A chamo mas ela não percebe, ou está se fazendo de surda. Vejo seu celular em cima da bancada da cozinha e o pego, desligando a música alta.
– Angel! – Ela se vira para mim, me encarando brava.
– Por que você desligou? Eu estava ouvindo!
– Angeline, querida – ela me interrompe.
– Meu nome não é Angeline! E você sabe muito bem disso, Clements.
Eu sei.
Mas sempre que a chamam assim... melhor, sempre que eu a chamo assim, ela fica furiosa. E eu obviamente não iria perder a chance de fazer com que ela ficasse irritada.
– Que seja, Angeline. – Ela respira fundo. – Sua música me atrapalhou. Eu preciso dormir para conseguir me manter de pé no trabalho. Meu alarme só toca às 06:00 e eu tinha o direito de dormir por mais uma hora!
– Sua música me atrapalha todos os dias e eu não encho o seu saco por causa disso.
– Não princesa, não atrapalha. Porque eu tenho educação e não toco de manhã cedo e atrapalho seu sono. Além do mais, meu quarto tem isolamento acústico.
– Para de ser dramático – ela cruza os braços encostando na bancada. – Te fiz um favor. Você não faz nada o dia inteiro. – Meu sangue começa a ferver. – Só toca o dia inteiro e trabalha de manhã o que, convenhamos, é o mínimo. Você nem estuda! Como quer que eu te leve a sério se você nem se esforça? Poderia pelo menos procurar um emprego melhor, um que pagasse melhor.
– Como se trabalhar em uma cafeteria fosse o melhor emprego do mundo.
– A diferença é que eu estudo. Faço algo útil–
– Chega!
Bato a mão na bancada da cozinha, já de saco cheio. Esse discurso antigo e repetitivo dela já me cansou. Minha ação me surpreende, mas acima de tudo, surpreende Angel, que pula de susto e arregala os olhos.
– Escuta aqui. – Me aproximo dela, a raiva tomando conta de mim. Por mais assustada que estivesse, não demonstrava tanto, mantendo sua máscara confiante. – Você se acha melhor que eu, né? Só porque é toda academicamente inteligente, passou numa faculdade fodida e tudo mais. Mas deixa eu te contar uma coisa, que talvez seja uma novidade pra você, perfeitinha: você não é melhor que ninguém. Você diz que eu não faço nada o dia todo, que sou um vagabundo, imaturo e todas essas merdas. Mas o que você não percebe é que sou esforçado e corajoso o suficiente para seguir o meu sonho. E sabe o que eu acho? Acho que a minha força de vontade te assusta. Te assusta porque a ideia de um cara que, segundo as avaliações acadêmicas desse sistema de merda, seja tão ambicioso quanto você e se esforce tanto quanto você, talvez seja tão bem sucedido em sua carreira quanto você. Eu sei que é um caminho perigoso, mas é o meu sonho, é o que me faz feliz, e eu sou corajoso o suficiente para ir atrás dele.

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Unexpected Fall
RomanceAngel havia sido aceita pela sua faculdade dos sonhos para cursar fotografia. O problema? A faculdade fica em Chicago, longe da cidade pequena em que mora e longe de seus pais, que nem pensam em deixar a filha se mudar sozinha para uma cidade grande...