A Prisioneira

Mentiras

David:

08:00 da manhã, eu já deveria estar fazendo minhas coisas, mas ainda estou deitado pensando em diversas possibilidades de mentir para que Lis fique, afinal, ela começará a se lembrar...

É claro que eu não vou deixar que isso aconteça por mais que seja difícil.

Me levanto na intenção de esquecer meus pensamentos. Me troco, escovo meus dentes e dou uma boa olhada no espelho, gosto de me ver.

Indo em direção a cozinha, franzo o cenho ao ver Lis dormindo no sofá

-O que faz ai?- pergunto mas parece que ela não escuta

Vou em sua direção e a cutuco vendo se remexer um pouco

-Lis?- ela murmura um "hum" me fazendo saber que está ouvindo

-O que você tá fazendo aí?

-Dormindo!?

-Porque não foi dormir no quarto? Ele existe pra quê?

E porque você tá se preocupando tanto?

-Eu acabei pegando no sono aqui - ela se levanta calmante coçando um dos olhos

-Você vai pra onde?- me pergunta arqueando uma das sobrancelhas

-Ali.

-Ali onde? Porque você não pode me levar? Eu não posso ficar presa aqui pra sempre, sabia?

Fico em silêncio

-David me responde! Porque não posso sair com você? Porque não me deixa ligar a televisão? Porque não me conta o que realmente aconteceu comigo?

-Tudo tem sua hora Lis, pare de apressar as coisas!

-E quando essa hora vai chegar, hum? Quando você me matar?

Isso não seria uma má idéia

Mas não é isso que você quer

Vejo que ela logo se arrepende do que disse. E eu estranhei, porque ela comentou em matar, sendo que eu nunca dei algum tipo de pista do meu verdadeiro eu?

-Você disse que era meu amigo não disse? - concordo com a cabeça - um amigo não deixaria outro nessas condições. Não é verdade?

Respiro fundo em busca de me acalmar antes de fazer qualquer coisa que me arrependa

-Você está certa, merece explicação, mas agora não dá, preciso sair.

Abro a porta antes de ouvir qualquer outra coisa. Passo pelo lado de fora da casa sentindo todo aquele ar. Estava precisando respirar, acabou ficando um clima pesado nessa casa

As ruas estão sempre vazias, o único barulho perceptível é do vento frio causado pela chegada da primavera.

Ando mais a frente já arrancando as fotos de Lis espalhadas pelos postes de desaparecida.

Aquele velho não vai cansar mesmo

Tento ser o mais ágil possível, sempre tem alguém olhando pelas janelas das poucas casas dessa cidade.

Esse é um dos motivos por não trazer Lis para fora de casa, eu sei que um dia ela não acreditará nas minhas mentiras mas até lá, talvez o velho do pai dela se tocará que ela está morta. E eu darei conta de tirar todos esses cartazes.

-Bom dia jovem - um policial encosta com a viatura ao meu lado da calçada, com um tom de voz totalmente sarcástico já que eu não aparentava ter a idade de um "jovem". continuo andando