Capítulo 3 - Sofia

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Levo-os para uma cafeteria chique perto da faculdade. Embora minha família tenha dinheiro, normalmente não sou de ostentar. Contudo, restaurantes são meu fraco, gosto de ir em lugares mais sofisticados de vez em quando. Hoje, em especial, a comida cara que eu vou pagar serve também para mostrar para o meu irmão que estou bem resolvida e independente dele.

Nos sentamos em uma mesinha redonda em um canto do salão e, assim que a garçonete chega, fazemos nossos pedidos: um chá de ervas para mim e dois espressos para eles. Como de costume, a atração que a dupla de amigos exercia afetou todos do sexo feminino da cafeteria, a a funcionária que nos atendia, por exemplo, ria abobalhada enquanto escrevia as bebidas em um caderninho. No passado, sentia ciúmes de toda essa atenção que Gabriel recebia, porém não posso negar que senti uma pontada de dor quando ele abriu um sorriso para a mulher. Por que ele nunca sorriu para mim assim?

Depois que a garçonete sai, por duas vezes, meu irmão abre a boca e fecha sem falar nada. Imagino que esteja em dúvida de como abordar o assunto "Matheus", então resolvo começar eu mesma.

— Bom, acho que vocês vieram aqui para conversar comigo sobre meu ex, certo?

— O que tu estava pensando, Sofia? O que tu queria namorando um assediador, em? Perdeu completamente o juízo, é?! — César explode irritado.

— Eu não sabia que ele era assim, ok? Tá certo que Matheus tinha seus defeitos, mas disso a assediar alguém tem uma grande diferença!

— Se tu sabia que o babaca não era perfeito, por que continuou com ele, Sofia? — meu irmão sem noção me pergunta.

Em que mundo o metido a sábio vive, para não saber que não existe essa de procurar perfeição nos homens? Ao ver meu olhar bravo, Gabriel, que até agora havia estado mudo, como costumava ficar durante nossas discussão, resolve falar em uma tentativa de nos acalmar.

— Soso, desculpa pela fala do meu amigo aqui, ele perde o senso quando se trata da irmãzinha dele. Tenta entender, pequena. Para nós, nenhum cara vai ser suficientemente bom para ti. A gente só estava tentando te proteger. Por que tu não conta o que aconteceu para que possamos saber como te ajudar? — penso em negar de birra, mas sei que isso não condiz com a versão madura e independente de mim que quero que meu irmão veja. Por isso, e não porque os olhos castanhos de Gabriel parecem excepcionalmente preocupados, falo:

— Bom, acho que vocês já sabem que chegou essa guria nova na república, a Dominga. Matheus estava assediando-a até que, um dia, cheguei em casa e os dois estavam brigando. Pouco depois, a Bella me contou tudo: que o filho da puta tinha assediado ela no passado e agora estava assediando a Domi. — dou uma parada para respirar, minha alma tagarela as vezes esquece que tenho que fazer outras coisas além de falar. César e Gabriel parecem irritados com a história e me lembro do tanto de vezes que deram umas sacudidas em caras por terem me magoado. Se faziam isso com aqueles lá, nem imagino o que pode acontecer com meu ex. — Aí eu fiquei puta, terminei com desgraçado, soquei ele no nariz e liguei para ti — digo, indicando meu irmão.

— O que vocês pretendem fazer com ele? Esse filho da puta precisa pagar pelo que fez! — Gabriel diz estressado. Os dois sempre foram protetores comigo e imagino como deve estar mal por não ter estado aqui. Embora nem sempre gostasse da sua atitude controladora com meus namorados, não posso negar que estava certo sobre o caráter de todos eles. Não entendo que imã para babacas é esse que eu tenho, porque parece que só atraio caras assim.

— Eu e a Bella queremos processá-los, mas ainda estamos vendo como vai ser. Nenhum dos advogados do escritório em que trabalho quer aceitar o caso e não estou conseguindo ninguém que queira trabalhar nele. — admito meio triste. Dominga, por alguma razão que desconheço porém vou respeitar, não quer testemunhar e, sem ela, vai ser muito difícil de ganharmos o processo.

— Eu sou advogado! — Gabriel diz parecendo indignado. — Sou o melhor advogado de crimes contra a mulher do estado, trabalho na firma dos teus pais e sou como um irmão para ti e, em nenhum momento, tu cogitou me chamar para ganhar esse caso?

— Ele está certo, Soso. — César fala defendendo o amigo. — Se tu quiser ter alguma chance de ganhar esse processo precisa ter ele como teu advogado.

Sei exatamente porque escolhi não chamá-lo para isso. Embora goste de fingir que o superei, tenho consciência que estou mentindo para mim mesma. Conheço-me o suficiente para saber que, se ficar muito tempo convivendo com o amigo do meu irmão, vou voltar a sentir por ele tudo o que sentia a tantos anos atrás.

— Não sei, acho melhor não. Pega mal eu trabalhar em um escritório mas chamar o advogado de outro para me atender em um processo.

— O que pega mal é eles não quererem aceitar um caso de assédio por medo de perder. — César imediatamente rebate. — Além do mais, nem sei porque trabalha lá se a firma do papai tem uma sede aqui em Santa Maria. Tu sabe muito bem que trabalhando conosco teria muito mais oportunidades de aprendizado do que em qualquer outro lugar.

— O Gabriel mora em Porto Alegre, não pode ficar vindo para cá o tempo todo. — insisto sem querer largar o osso.

— Nós vamos nos mudar para Santa Maria, vou passar uma temporada aqui com seu irmão. Essa sede tá precisando de uma maior atenção nossa. — A fala do amigo do meu irmão me pega de surpresa, não sabia que pretendia sair da capital. Embora aqui não seja pequeno, nem se compara com Porto Alegre e nunca pensei que ele fosse deixar para trás todos os benefícios de viver em uma cidade grande.

Vendo que os dois não iam largar o osso também, resolvo propor um acordo.

— Ok, Gabriel pode ser o advogado do meu processo, mas vou continuar trabalhando no meu antigo escritório — e, olhando fixamente para meu irmão, aviso-o — Nem pense em interferir no meu trabalho, César. Se eu ouvir que tu fez qualquer coisa para me tirar de lá, ligo para todas as gurias do estado para contar que tu transa mal e ainda tem pinto pequeno e fino.

 Se eu ouvir que tu fez qualquer coisa para me tirar de lá, ligo para todas as gurias do estado para contar que tu transa mal e ainda tem pinto pequeno e fino

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