Visto a terceira saia enquanto me xingo mentalmente por me dar ao trabalho de me arrumar para Gabriel depois de tudo o que ele fez. O salto scarpin da Louboution tira aquele ar de criança magrela que minha altura e minha ausência de peitos me dá e fico com um jeito mais "adulta magra".
Além disso, ele me dá a confiança que preciso para enfrentar o dia de hoje. Nada como um sapato de sola vermelha para aumentar a poderosísse de uma mulher. Como diria a rainha Cardi B, "These expensive, these is red bottons, these is bloody shoes*".
Depois de colocar todos os itens necessários dentro da minha bolsa, entro no meu lindo carrinho e, após tirar os saltos e ficar descalça, dirijo até a sede de Santa Maria da Barroso Advogados. Com o vento gelado de maio entrando pela janela do Audi, me sinto a dona da porra toda.
Fico imaginando como que vai ser quando eu finalmente me formar na faculdade. Será que serei tão bem sucedida como meu irmão e Gabriel? Espero que sim. Embora ainda exista um pouco de preconceito no mundo do Direito, as mulheres estão abrindo bastante espaço e, com o apoio da Barroso, sei que posso chegar longe.
Assim que entro na empresa, a recepcionista já me leva até o RH. Pelo visto, meu novo chefe estava falando sério quando confirmou que já estava tudo certo. Só precisei assinar os contratos e deu.
Menos de quinze minutos depois, já estava na sala que trabalharia e dividiria com mais cinco funcionários, entre eles o Rafael. Logo que me viu, o carioca correu para me cumprimentar com um abraço caloroso, porém, sem a malícia que notava nele antes.
Apresento-me para os outros, mas oculto meu sobrenome. Sei que Rafael já sabe quem eu sou por conta do processo da Bella, todavia prefiro que meus colegas não me tratem diferente por causa do meu pai.
Todos parecem pessoas legais, mas não ficam de muito papo. Assim que as apresentações terminam, voltam-se para o trabalho e, de tempos em tempos, vão me passando coisas para que eu possa lhes ajudar. Logo, minha mesa está lotada de papéis.
O escritório de Gabriel fica dentro da nossa sala e, pelas paredes de vidro, consigo ver meu chefe digitando concentrado no computador. Seus braços fortes esticam o tecido da camisa branca e, quando ele afrouxa o nó da gravata, quase tenho um treco. Esse homem exala sexualidade, é impossível se manter sã perto dele.
Sinto um cutucão no ombro e tomo um susto, quase caindo da cadeira. Desvio os olhos do escritório de Gabriel e vejo o carioca me observando com um sorriso debochado no rosto.
— Limpa a baba, Soso. — e, me entregando uns papéis, completa — Te recompõe porque esse documento aqui tu tem que entregar para o nosso querido chefe.
Meio sem jeito de ter sido pega no flagra, sinto minhas bochechas corarem. Pego as folhas que Rafael me entrega e, após umas batidinhas, abro a porta do escritório de Gabriel.
Entro no lugar mas o meu querido chefe nem levanta os olhos. Apenas quando me sento na cadeira de frente para ele que o guri faz algum sinal de que sabe que eu estou aqui.
Depois de desviar os olhos do computador, me encara com um sorriso arrogante. Parece relaxado enquanto pega os documentos e fala com aquela voz arrastada de quem sabe que já ganhou a discussão.
— Pelo jeito minha pequena finalmente deu o braço a torcer e admitiu que eu estou sempre certo...
— Vai se foder Gabriel! — respondo brava. Impressionante como ele tem uma habilidade de me irritar.
— Olha o respeito pequena. Não esquece que sou teu chefe, eu que mando nessa merda.
— Não manda porra nenhuma!
— Tu vai querer ir por esse lado pequena? Quer tentar me desobedecer? — enquanto fala, Gabriel se levanta da mesa e se aproxima de mim.
Subitamente, fico muito consciente do seu cheiro de creme de barbear. Com a voz mais baixa, em um indiscutível tom de comando, ele continua:
— Tu vai fazer o que eu mando Sofia, tu sabe por que? Porque tu gosta disso tanto quanto eu pequena. Tu acha que eu não percebo que teu pescoço arrepiar quando falo contigo? Tu gosta desse joguinho tanto quanto eu.
Enquanto Gabriel vai falando, fico com raiva de mim mesmo por saber que tudo isso que ele diz é verdade. Como que eu ainda sinto tesão por esse guri depois de ter sido desprezada por tantos anos?
Infelizmente, não controlo por quem eu tenho atração. Corpo traidor, me deixa excitada por esse filho da puta! Contudo, felizmente, ainda resta um pouco de razão em mim que me impede de me jogar em cima dele. Mesmo sabendo que não é mentira o que Gabriel disse, meu orgulho nunca me deixaria admitir.
Cruzo os braços, escondendo os bicos dos seios que estavam começando a entumecer e me posiciono no modo "briga" que aperfeiçoei ao longo dos anos. Com a voz firme, digo:
— Não sei de onde tu tirou que eu gosto desses teus joguinhos! Se quer uma guria para jogar, chama aquela lá que tu ficou na festa.
— Que guria?
— Não te faz de desentendido, Gabriel! Eu te vi beijando-a na festa da Mista de Pelotas.
— Eu realmente não sei do que tu tá falando, pequena. Saí daquela festa tri cedo e acho que lembraria se tivesse ficado com alguém.
— Gabriel, se não era tu então quem era? Quando eu voltei com a cerveja vi claramente um cara de cabelo castanho, no lugar onde tu tava antes, beijando uma loira de perna comprida, bem teu tipo mesmo.
— Tu deve ter se confundido pequena. Fui te procurar logo depois de tu ter saído para pegar a tua bebida e, quando não te achei, voltei para casa. Foi um outro casal que tu viu se beijando. — e continua com aqueles olhos castanhos dele fixos nos meus — Além disso, já que tu mencionou, acho que meu tipo é muito mais asiáticas de cabelos pretos compridos. Com pernas do tamanho ideal para ficar em volta da minha cintura.
*These expensive, these is red bottons, these is bloody shoes - estes são caros, estes são de sola vermelha, estes são sapatos sanguinários (trecho da música Yellow Bodak da Cardi B)
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Proteção - Sob o céu de Santa Maria
ChickLit"Quando os sentimentos são reprimidos por muito tempo, tornam-se algo descontrolado." Sofia, uma estudante de Direito orgulhosa e dona de si, acabou de terminar um namoro, com um soco bem dado na cara do ex. Merecido diga-se de passagem. Seu irmão m...