Capítulo 12 - Gabriel

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A merda estoura na manhã de segunda-feira. Eu estava tranquilo analisando uns contratos quando a porta da minha sala é escancarada e um furacão de olhos pretos puxados passa por ela.

Sofia está muito puta. Sua testa está franzida em uma careta de raiva e, se estivéssemos em um desenho animado, sairia fumacinha do seu ouvido.

Minha pequena começa a falar e sua voz está rouca e perigosamente calma, parecendo um poltergeist. Se não fosse por seu tamanho diminuto, Sofia estaria assustadora.

— Gabriel, eu não tinha pedido, claramente, para que tu e meu irmão não interferissem no meu trabalho?

Confirmo com a cabeça e Soso fecha os olhos com força, como se estivesse tentando controlar a raiva. Depois de alguns segundos, fala com a voz ainda perigosamente calma.

— E vocês fizeram o que eu pedi? Deixaram com que trabalhasse em paz sem que vocês interferissem na minha empresa?

Nego com a cabeça e, assim que faço isso, Sofia explode. Seu cenho está franzido e, junto com o rosto vermelho de raiva, estaria assustadora se não fosse sua baixa estatura. Quase um Pinscher bravo.

— ENTÃO POR QUE CARALHOS RECEBI UMA LIGAÇÃO DO MEU CHEFE AVISANDO QUE IAM TER QUE ME DEMITIR PORQUE A BARROSO ADVOGADOS PEDIU?!!

Tomo um susto com seu grito, Sofia está mesmo furiosa. Tentando acalmar minha pequena, que agora mais parece um diabo da Tasmânia, respondo com a voz tranquila e baixa.

— Soso, seu irmão só quer o melhor para ti. Ele achava que a tua antiga empresa não estava te dando o valor que tu merecia e por isso mexeu uns pauzinhos para ti vir para cá.

— E tu acha que eu vou concordar com isso? Que eu vou simplesmente aceitar o que o César acha que é melhor para mim? Porque, se tu acha que isso vai acontecer, então precisa me conhecer melhor.

— Pequena, nunca achei que tu fosse aceitar isso facilmente, mas tu tem que concordar que é a melhor opção. Eu e teu irmão estamos nessa a bem mais tempo, a gente sabe o que faz.

— Ah, sim, desculpe-me ó sábio senhor — Sofia responde sarcástica parecendo muito puta da vida — Esqueci que vocês dois são tão mais velhos que eu e por isso tem muito mais experiência que eu. Quantos anos tu tem mesmo? Vinte cinco né. Realmente, Gabriel, cinco anos de diferença é um absurdo. Desculpa-me por falar nesse tom contigo vovô.

Me irrito com seu desprezo por nossa diferença de idade. Sei que para ela pode não parecer muito, mas para mim sempre foi um peso a mais na minha consciência.

— Soso, tu vai estar melhor trabalhando na Barroso, acredita em mim. Eu vim para cá e olha só, agora sou um sócio sênior.

— Ah pelo amor de Deus, né Gabriel! Tu não é sócio porque a empresa sabe "reconhecer potencial". Tu conseguiu isso porque é melhor amigo do herdeiro disso tudo. É assim que as coisas funcionam no Brasil, à base do nepotismo! Se teus pais tivessem uma empresa também, certeza que tu já estaria como chefe lá, mesmo com eles não gostando muito de ti.

A menção dos meus pais me machuca e perco a paciência. Com a voz dura e seca, respondo-a sem dar chances para seu chilique.

— Deu de birra Sofia. O fato de teu chefe ter te demitido só por César ter pedido já é a prova que eles não te façam o devido valor. Cinco horas tu vai estar aqui para tua entrevista de emprego.

— Mas...

— Sem mas Sofia! Tu vai vir e ponto. Não te esquece que tu tá no último ano da faculdade e ficar sem um estágio agora pode acabar atrasando tua formatura.

Minha pequena assente com a cabeça, porém ainda parece contrariada. Não seria Soso se não fosse teimosa de qualquer jeito. Ainda resmungando, a chinesa sai da minha sala, os quadris balançando de um lado para o outro me deixando hipnotizado.

Agora, só me resta torcer para que Sofia apareça aqui na hora da entrevista. Nós dois sabemos que a Barroso Advogados é sua única opção se quiser se formar a tempo. Ela precisa de um estágio para ontem e, mesmo sendo uma cidade relativamente grande, Santa Maria não tem tantas empresas de advocacia, ainda mais grandes o bastante para contratar estagiários. Contudo, minha pequena é cabeça-dura, e quando teima com algo é difícil fazer com que volte atrás.

 Contudo, minha pequena é cabeça-dura, e quando teima com algo é difícil fazer com que volte atrás

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O relógio já está marcando cinco e meia quando me convenço que Sofia não vai vir. Irritado, começo a arrumar as coisas para ir embora, mas, no momento em que me levanto da cadeira, Rafael entra no escritório.

Perfeito, simplesmente perfeito. Tudo que eu preciso quando já estou de mau-humor é ficar ouvindo o sotaque irritante do carioca que não perde oportunidade para trovar minha pequena.

— E aí chefe! Vi que a senhorita Barroso tava bolada com você hoje! Qual foi a parada?

— Não te interessa, carioca! Larga de ser folgado e vai trabalhar tchê! Não encho tua guaiaca para tu ficar mosqueando ao invés de fazer o serviço.

— Relaxa chefe! Se ela é tua garota, eu não mexo, sacou? Não sou alandelão não!

— Sim, ela é minha e não quero mais te ver de arreganho para cima dela, entendeu?

— To ligado, chefe! Fica sereno que se a garota é sua eu não vacilo!

— Acho bom, carioca!

Enquanto converso com Rafael, vejo que recebi um novo e-mail. Ainda ouvindo o fluminense tagarelar do meu lado, clico na notificação e, quando vejo do que se trata, não consigo conter uma risada pelo seu atrevimento. Uma coisa não posso negar, Sofia tem coragem.

De: Sofia Barroso <sosobarroso@gmail.com>

Para: Gabriel Cavallero <gabrielcavallero@barrosoadvogados.com.br>

Querido futuro chefe,

Já que meu amado irmão fez a gentileza de me demitir, sem o meu consentimento, diga-se de passagem, estou contando que o senhor também irá fazer a gentileza de me contratar sem que eu precise ir aí e perder minha hora com a Netflix. Começo amanhã, espero que já esteja tudo certinho com o RH.

Atenciosamente,

Sofia Barroso.

Proteção - Sob o céu de Santa MariaOnde histórias criam vida. Descubra agora