Proteção - Sob o céu de Santa Maria

Capítulo 14 - Sofia

Sentada na cama box do meu quarto, encaro a parede com o olhar vago. Ainda estou um pouco aérea com tudo que ouvi na sala de Gabriel esta manhã. Eu estava sonhando ou ele admitiu que também está atraído por mim?

Não sei como consegui me concentrar em qualquer coisa depois daquilo mas, de alguma forma, fiz tudo o que me mandaram fazer. Vida de estagiária é brabo, só te passam as tarefas que ninguém mais quer.

Com um suspiro solto o cabelo que estava preso em um rabo de cavalo à base de milhões de grampos. Só assim para o meu cabelo fino e extremamente liso conseguir parar em um penteado.

Ainda com a mente vagando, tiro a maquiagem do rosto. Sem o rímel, o delineador e o batom pareço sem graça. Uma criança se comparada com as mulheres que ele fica. Duvido que alguma delas precisa se pintar para estar bonita, todas tem cara de quem já acorda parecendo a miss universo enquanto eu mal acordo antes das oito.

Obrigo-me a sair da cama, se deixar, fico o dia todo fazendo nada enrolada nos cobertores. Principalmente no inverno, quando o frio de Santa Maria gela nossa alma.

Enquanto bato uma nojeira verde no liquidificador que jura de pé junto que vai me fazer perder peso, escuto o som da porta se abrindo. Assim que vê o que estou fazendo, Bella faz seu drama:

— Quantas vezes já te falei que tu não precisa ficar fazendo essas dietas à base de grama? Tu é linda Soso, não precisa disso não!

Fácil para ela falar. A cacheada havia sido miss Brasil mirim quando pequena e acho que nunca se sentiu feia na vida. Com seus 1,71, corpo escultural, olhos verdes e um longo cabelo castanho cacheado, minha amiga é do tipo de parar o trânsito.

— Não é nada Bellinha, só tava afim de tomar uma coisa diferente hoje.

— Uhm, tu tá estranha guria... Tem alguma coisa que tu queira me contar?

— Acho que o Gabriel sente atração por mim...

— EU TE DISSE! Logo que eu te conheci e tu me contou tua história com ele eu te avisei que aquela possessividade toda era tesão enrustido. — e, fazendo uma cara dramática de sofrimento, continua — Ai tô só vendo, daqui a pouco vão tá namorando e eu vou perder minha companheira de balada!

— Vai com calma neguinha, ele nem admitiu que me quer direito. Só deu a entender que eu sou o tipo dele, mas não falou em nenhum momento que vai tomar uma atitude em relação a isso.

— Então toma tu a atitude Sofia. Século XXI, mulher, quando quer, também pode dar em cima de homem. Mostra para o advogado delícia como aquela piázinha que ele conheceu cresceu e tá gostosa demais.

Logo que ela termina de falar isso, escuto uma movimentação na entrada. Com o dedo, indico que fique quieta, não quero contar nada para as gurias enquanto não tenho certeza de nada.

Escutamos o riso doce de Aninha acompanhado do som mais grave de uma risada definitivamente masculina. Bella e eu nos entreolhamos curiosas e, depois de um segundo, voamos para sala para ver quem era.

Por um triz, conseguimos ter um vislumbre de um cabelo loiro antes da loirinha fechar a porta. Com a sobrancelha levantada, pergunto:

— E aí Aninha, não vai nos apresentar o namorado não?

Assim que digo isso, a caxiense cora. Pela porta, conseguimos ouvir a voz do desconhecido concordando:

— Verdade loira. Até quando tu vai esconder tuas amigas de mim, em?

Aninha nos olha feio e, com a mão, passa-a rapidamente pelo pescoço e depois aponta para nós duas, indicando que ia nos matar. Ainda nos encarando irritada, a loira abre a porta.