Capítulo 8 - Gabriel

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Assim que chego na sala onde ocorrerá a primeira reunião com o juiz, Rafael vem puxar meu saco. Embora seja um bom advogado, ainda é muito inexperiente e tem muito caminho a percorrer se quiser se tornar um sócio da empresa como eu.

Por exemplo, se tivesse os meus anos de vivência no Direito, saberia que nunca, jamais, se deixa de confirmar com o cliente sua presença na audiência. Porque eles vão esquecer. Ou, como é o caso de Sofia e Isabella, chegarão em cima do laço, sem dar tempo de dar qualquer aviso antes de começar a audiência.

Assim que as duas entram na sala, Isabella se senta ao meu lado e Sofia, sem nem me cumprimentar, vai se sentar nas cadeiras em um canto do lugar. Hoje está aqui apenas para dar suporte para a amiga, já que sua declaração só será apresentada para o juiz na próxima sessão.

Aceno para ela, mas minha pequena me ignora, fingindo não ver. Sem entender o que houve, continuo encarando-a em busca de respostas. Estávamos tão bem naquele dia da festa, porém Sofia sumiu sem se despedir e agora está sendo extremamente fria comigo.

Interrompendo meus pensamentos o juiz Kozlowski bate o martelo iniciando a sessão. Já o conhecia de outros casos e sabia que era um homem muito antiquado, o que me deixava ainda mais preocupado sobre as chances de ganharmos esse processo.

— Agora que todas as partes estão presentes, estaremos iniciando a primeira audiência Ferraz versus Albuquerque.

— Senhor Cavallero, sua cliente gostaria de abrir um processo contra o senhor Albuquerque por assédio, estou correto?

— Sim, Meritíssimo.

— Bom, como o senhor já sabe, esse tipo de processo requer o testemunho da vítima. A senhorita Ferraz está disposta a falar sobre o suposto crime?

— Sim, Meritíssimo. Informei minha cliente, a senhorita Isabella Ferraz, sobre a necessidade de realizar um relato para poder prosseguir com esse processo e ela consentiu.

— Muito bem então. Senhorita Ferraz, quando se sentir confortável, pode começar.

— B-bom meritíssimo, quando o senhor Albuquerque e eu nos conhecemos ele estava namorando minha amiga, que sublocava seu apartamento para mim. — Bella parece nervosa e suas mãos tremem, porém incentivou-a a continuar falando com um gesto. — À dois anos atrás, o senhor Albuquerque me assediou. Ele me encurralava e falava para mim coisas com conotação sexual que me deixavam desconfortável...

— Desculpe-me senhorita Ferraz, a quanto tempo o réu realizou o suposto crime mesmo?— Kozlowski pergunta e, imediatamente, sei que esse caso vai ser complicado. O tempo sempre foi um fator complicado nesse processo, porém isso poderia ter sido facilmente contornado se tivéssemos pego um juiz menos retrógrado, ou melhor, uma juíza.

Com um olhar desacreditado, Kozlowski pede para Isabella seguir em frente com seu relato e percebo o olhar superior que o advogado do filho da puta lança a mim. Ele sabe, tanto quanto eu, que seu cliente tem uma grande vantagem nesse caso.

— Como eu estava dizendo, o senhor Albuquerque me deixava desconfortável com suas atitudes tendo chegado a tentar me beijar a força, porém, como ele namorava a pessoa que sublocava o apartamento para mim, me sentia impedida de fazer algo a respeito. — diz Isabella e fico feliz por ter falado exatamente como treinamos.

Retribuo o olhar superior que meu adversário tinha me lançado antes. Com um testemunho desses, nossas chances de ganhar o caso aumentam muito.

Desvio os olhos para o seu cliente, o filho da puta, mas ele não percebe que estou encarando-o. Está muito ocupado olhando para Sofia.

Sinto a raiva e o ciúmes borbulhar dentro de mim. Não é possível que, depois de tudo que esse desgraçado fez a minha pequena, ainda ache que tem direito de olhar para ela.

Tento controlar a raiva na voz quando falo com o juiz. Do jeito que é antiquado, certamente aplicaria uma multa por falta de modos em uma audiência.

— Vossa Excelência, como ficou claro no testemunho feito, minha cliente, a senhorita Isabella Ferraz, foi vítima de assédio por intimidação pelo senhor Matheus Albuquerque e gostaria de abrir um processo contra ele.

— Muito bem senhor Cavallero. — e, se dirigindo ao advogado do filho da puta, continua — Senhor Provenzano, o senhor gostaria de fazer algum pronunciamento em favor do seu cliente?

— Meritíssimo, creio que, como eu, o senhor percebeu que o tempo entre o crime e o abrimento do processo foi muito maior que o ideal. Gostaria de pedir o fechamento do caso com base nisso. Meu cliente nunca cometeu tais crimes e, como um futuro advogado, seria muito afetado por tais afirmações caluniosas.

— Pensarei sobre os pedidos. Por hoje, está sessão está encerrada.

Assim que o juiz bate o martelo finalizando a sessão, pego a pasta com as anotações e me levanto. Contudo, antes que eu pudesse chamar a Sofia para que conversássemos sobre seu comportamento frio, ela sai apressada do lugar.

Desviando das pessoas que lotam o corredor do prédio do Tribunal, tento seguir Soso. Sua pequena altura faz com que ela se esconda entre os corpos altos ao seu redor e, em pouco tempo, a perco na multidão.

Meio irritado, rumo para o estacionamento. Porém, assim que entro no lugar, reconheço a voz doce e aguda de Sofia.

— Fica longe de mim Matheus! — ela fala irritada em algum ponto um pouco à frente de mim.

Preciso de toda minha força de controle para não expulsar a pontapés aquele desgraçado. Contudo, sei que, se partir para violência, ainda mais no estacionamento do tribunal que é cheio de câmeras, terei minha licença de advogado caçada pela OAB.

Enquanto me aproximo de onde eles estão, ouço a voz de Matheus se dirigir a Sofia. Aquele filho da puta merece queimar no fogo do inferno só por abrir sua boca de assediador para falar com minha pequena.

— Acha que eu não sei que está fazendo esse teatrinho só para conseguir minha atenção? Se queria voltar comigo era só me chamar amor, tu sabe que eu não nego uma gostosa como tu.

— Está incomodando minha cliente, senhor Albuquerque? — minha voz é fria e cortante e o filho da puta pula de susto ao ouvi-la. Não tinha percebido que eu estava ao seu lado. — Qualquer coisa que queira falar com a senhorita Barroso, poderá ser dita durante as audiências do processo. Agora, saia daqui, antes que eu tenha que pedir uma ordem de restrição ao juiz para o senhor.

Em poucos segundos, Matheus sai. É um covarde que não consegue enfrentar alguém do mesmo tamanho que ele.

Assim que o desgraçado se vai, Sofia me lança um olhar gelado. Com a voz contendo uma raiva que eu não entendia, minha pequena diz antes de arrancar o carro:

— Por que tu não continuo em Porto Alegre? Eu estava melhor contigo lá, Gabriel.

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