Capítulo 6 - Gabriel

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— Mas bem capaz que eu vou te deixar em casa neguinha. A melhor forma de superar ex é subir no cavalo de novo. Hoje, onze horas, eu, tu e a Jo vamos estar arrasando, dançando até o chão na República Mista de Pelotas. — a voz da amiga da Soso ecoa na minha cabeça.

O ciúmes invade a minhas veias só de pensar na minha pequena com algum piá que se acha gente grande. Não vim para cá para livrar Sofia de um perdedor, só para vê-la com outro.

Estou, agora, deitado na cama do hotel, tentando me convencer do porquê de não ir a essa maldita festa. Embora ainda a veja como a adolescente rebelde que ajudei a proteger, sei que é uma mulher inteligente que consegue se cuidar sozinha. Contudo, uma parte minha ainda quer botar para correr qualquer ser com pau que se aproxime dela.

Ligo a televisão e me obrigo a me concentrar nela, porém, a cada cinco minutos, vejo meus olhos correndo para o telefone em busca de notícias da Sofia. Preciso me controlar, não é possível que, mesmo depois de muito tempo, aquela baixinha tenha tanto poder sobre mim.

Soso sempre botou a mim e a César no bolso. Não tinha nada que ela não pedisse chorando que não fizéssemos sorrindo. Era impossível negar algo àqueles olhinhos pretos puxados.

Vejo uma mensagem do meu amigo chegar e penso se não devia ir naquela maldita festa. Embora meus motivos para ir sejam diferentes dos dele, imagino que ele fosse querer que eu o ajudasse a proteger sua irmã. Com a cabeça decidida, respondo à sua mensagem:

WhatsApp César - Gabriel

César: E aí cupinxa! To indo pra um bolicho perto do Centro, pilha ir junto?

Gabriel: Bah, cara, hoje não. To pensando em relembrar os tempos da facul e ir para uma festa de república. Tu sabe onde fica a Mista de Pelotas?

César: Bah, to fora. Meus tempos de cerveja aguada já foram. Sei sim onde fica. É num prédio cinza na esquina da rua da república da minha irmã.

Gabriel: Valeu, to te devendo uma.

César: Capaz! Se desistir dessa vibe universitária, me dá um toque!

Assim que consigo a informação que precisava, corro para me arrumar. Depois do banho tomado, fico uns quinze minutos na frente do guarda-roupa tentando decidir o que vestir. Pareço uma guriazinha no auge da adolescência.

— Porra, Sofia. Olha no que tu me transformou. — digo para meu reflexo no espelho.

Finalmente me decido por um suéter preto, jeans e casaco. Com a barba aparada, a roupa informal e o ar ansioso, quase me passo por um universitário de Direito, nervoso por ir encontrar a guria mais bonita. Embora, essa última parte, não deixa de ser verdade.

Desço até a garagem do hotel e entro no meu xodó, a Evoque que comprei ano passado. Diferente dos irmãos Barroso, que já nasceram chupando bico de ouro, não nasci com grana sobrando. Mesmo com a família de Gabriel basicamente me criando, nunca deixei que pagassem para mim nada que não fosse necessário. Por isso, meu carro é um grande orgulho para mim. Não ganhei ele com mesada de papai rico, mas sim com meu suado dinheirinho depois de muito trabalho.

Vou dirigindo pelas ruas de Santa Maria, sentindo a maciez das rodas no asfalto. A Evoque é realmente uma máquina de primeira categoria e poderia ficar a noite inteira no volante, porém logo estou em frente da Mista de Pelotas. Como de costume nessa cidade, não há nenhum lugar para estacionar.

Depois de duas voltas na quadra, finalmente libera uma vaga. Com o alarme do carro ligado, subo para o local em que está acontecendo a festa.

Umas cinquenta pessoas se amontoam em uma sala/cozinha não muito grande. Me sentindo em uma lata de sardinha, vou contornando os desconhecidos tentando chegar a um lugar menos apertado.

De repente, eu a vejo. Usando um vestido vermelho, curto e colado ao corpo que, definitivamente, não combina com o clima gelado e deixa pouco para a imaginação desses pirralhos, Sofia e um filho da puta dançam uma música que não conheço.

Com o sangue pulsando em meus ouvidos, me aproximo dos dois. Sentindo-me um homem das cavernas, chego bem perto do desgraçado que acha que pode tocar na minha pequena e reivindico o que é meu.

— Sai. — digo ao pirralho sem alterar a voz, mas deixando claro quem manda.

Soso franze a testa para mim quando vê o piá com quem estava se afastar, porém não fala nada. Interpretando isso como um consentimento, trago-a pela cintura para perto de mim. Nesse momento, um reggaeton começa a tocar e, cantando em seu ouvido, puxo-a para dançar.

Y quien te cuida sólo yo

Quien te mira sólo yo

Quien te abraza sólo yo oh-oh

Enquanto dançamos, vejo seu pescoço arrepiar e sei que o meu também está assim. Seus quadris se mexem contra os meus e agradeço mentalmente por estar com uma jeans grossa, se não Sofia já teria sentido como meu pau estava feliz em vê-la.

Meu peito bate acelerado e sinto uma vontade incontrolável de beijá-la. Quero isso a tanto tempo que tê-la tão perto de mim sem poder expressar meu desejo é uma tortura para mim. Porém, ao invés de me afastar, continuo grudado a ela, meu coração no mesmo ritmo do seu, sentindo o cheiro único e feminino que exala da sua pele.

Quando a música acaba, nos afastamos e nos encaramos por alguns segundos. Penso em sair daqui, sei que César não ia gostar se tivesse nos visto do jeito que estávamos, mas resolvo continuar. Já estou na merda mesmo, agora é só aproveitar.

Abrindo espaço naquele mar de gente, conseguimos uma cadeira na cozinha. Sem dar chance para ela se afastar de mim, puxo-a para o meu colo.

Minha pequena me lança um olhar questionador e entendo sua confusão. Embora sempre tenhamos sido próximos, nunca fui desse jeito com ela.

— Não tinha outra cadeira. — me explico um pouco desconfortável. Não deixava de ser verdade, mas não era nem de perto o motivo de eu estar com a irmã do meu melhor amigo no meu colo.

— Foi só por isso?

— Não — e, já que abri a torneira mesmo, resolvo falar tudo — Tu tá no meu colo porque é a guria mais linda e gostosa da festa e isso tá me deixando louco. Quero que todos esses pirralhos saibam com quem tu tá agora.

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