Capítulo 7

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23 de maio de 2016

Estava saindo do trabalho quando vejo a Micaela, minha madrinha de casamento, à minha espera no portão da faculdade.

— Oi, Duda, tudo bem? – Ela estava bem estranha, com uns óculos enormes no rosto, olhando sempre para os lados. – Podemos conversar um pouco?

— Oi, Micaela, tudo bem? Eu tenho que correr para casa e ainda vou ao mercado. Que tal marcarmos um café na quarta à tarde? – respondi lembrando o que Neto me falou sobre ela.

— Desculpe, mas preciso que seja hoje. Agora. Venha, por favor... – havia um tom de desespero na voz dela.

— Mas é que eu... – Ela mostrou o olho roxo, que estava escondido atrás dos óculos.

— Preciso de ajuda, precisa ser agora, precisa que seja você... Por favor! – ela insiste, quase chorando.

— Vamos para o café aqui ao lado. Esta hora não tem quase ninguém. Só preciso ligar para Neto e explicar que vou atrasar.

— Não! Por favor, não fale que estou aqui... Eu te imploro!

— Calma, vou dizer que terei uma reunião de emergência do trabalho. Vamos...

Ao nos sentarmos à mesa o café, peço um expresso duplo, prevendo que teria um fim de tarde difícil...

— Em primeiro lugar, quero sinceramente te pedir desculpas por tudo, Duda. Entrei numa jogada arriscada, pensei que estava no controle da situação, fui estúpida e escrota... Estou tentando mudar e isto é o resultado desta tentativa. Desculpa... Eu tentei te avisar e isto aconteceu...

— Vamos com calma. Eu não estou te entendendo. Beba um pouco e respire. Comece do começo... Do que você está falando?

— Desta agressão que eu sofri. Isso aconteceu porque eu tentei te avisar, tentei sair desta merda em que me meti e agora eu estou atolada até o pescoço. Mas você ainda tem uma chance de sair ilesa. De conseguir se salvar e salvar o que é seu...

— Você poderia ser mais direta? — pedi.

— Vamos lá... Eu e Paulo temos um caso há muito tempo, mais de três anos. Começou como uma brincadeira, mas eu acabei me envolvendo de verdade, me apaixonei e acabei contribuindo com ele nos golpes. Quando percebi que ele não pretendia me assumir, como disse que faria, comecei a pressioná-lo. Ameacei contar tudo para você algumas vezes, mas ele sempre disse que você nunca acreditaria em mim. Então eu passei a registrar tudo em vídeos, fotos e gravações. Mas ele acabou descobrindo e me espancou... Fez ameaças, me perseguiu. Eu tive que sair do ateliê, onde a gente morava. Sim, morávamos juntos no ateliê que você deu para ele. Ele rasgou as fotos, apagou os filmes e as gravações que encontrou, mas eu tinha cópias. Aqui estão. Pode fazer o que você quiser com elas, tenho mais cópias. Já o denunciei na polícia, me mudei para um lugar seguro, mas tenho muito medo do que pode acontecer comigo e também com você... Você precisa pensar bem no que vai fazer porque ele é muito violento. Não durma em casa hoje, vá a delegacia, procure um advogado, um padre, um exorcista... Procure alguém! Mas arranje um jeito de se proteger dele! – ela começou a chorar.

Fui olhando as fotos, sem acreditar no que estava ouvindo. Meu mundo desabou... Nada daquilo poderia ser verdade...

— Você está mentindo. Isso só pode ser montagem. Neto jamais faria... – vejo o Boletim de Ocorrência com o Exame de Corpo de Delito, a cópia das conversas por mensagens, fotos de viagens, deles fazendo sexo... Só pode ser algum tipo de brincadeira! Eu não me enganaria desta forma.

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