Capítulo 10

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30 de maio de 2016

Acordei cedo e saí antes que Neto percebesse. Quando voltei, ele estava na cozinha com uma xícara de café na mão, olhando meu computador, como se tentasse achar algo.

— Bom dia! O seu computador quebrou? – comentei, colocando uma sacola de compras na mesa da sala. Fui até ele e o beijei. Ele me segurou um pouco mais do que o necessário, me olhou nos olhos, fez um carinho no meu rosto. Eu tremi por dentro, de nojo, mas ele encarou isto como prova de que eu estava com tesão.

— Não, só vim dar uma olhada numas coisas aqui, verificando se tudo está como deveria estar. Sente e tome um café, se alimente. Você pode me contar o que está acontecendo? Você está diferente e eu não estou gostando disto.

— Eu não estou diferente. Minha melhor amiga estava internada, eu fui cuidar dela. Passei dias enfurnada em um hospital. Saí poucas vezes para tentar aliviar a tensão, mas o que eu queria mesmo era que ela ficasse boa e pudéssemos voltar para casa. Agora que voltei, meu corpo começou a cobrar tudo isto. Achei que meu marido seria uma pessoa mais compreensiva e que cuidaria de mim, mas ele está me cobrando por algo que eu nem sei o que é. Você estava tentando achar alguma coisa no meu computador? Você estava me espionando? Você acha que eu minto para você? Neto! – gritei, indo para o banheiro e batendo a porta atrás de mim. Tranquei a porta e fingi estar chorando. Neto tentou entrar no banheiro logo depois, mas não conseguiu.

— Duda, desculpa. Estou inseguro. Quero te ajudar e não estou sabendo como. Você chegou e nem me deu bola direito. Geralmente a gente teria transado na sala mesmo, assim que você me visse, mas até agora você nem me deu um beijo decente, nem me fez gozar. Estou precisando sentir o quanto você me ama. O quanto sente minha falta. Eu sou o único homem capaz de te fazer feliz e você nem tentou me agradar ainda. Eu confesso que achei estranho e fui dar uma olhada no seu computador, para ver se encontrava alguma resposta. Abre a porta, amor, vem para o quarto comigo. – Eu fungo como resposta, fingindo ainda estar chorando. – Amor, me deixa cuidar de você. Só eu posso te fazer feliz, te fazer relaxar. Vem! Você fica tão relaxada depois de transarmos. Vem! – Permaneço em silêncio, pensando em desculpas para dar. Mando uma mensagem para Tereza, que me liga em seguida. Atendo o telefone, ainda do banheiro, sabendo que Neto está do outro lado, ouvindo. Ele acha que eu não o percebo.

— Alô, Tereza? Como você está? – fico quieta, fingindo que estou ouvindo Tereza, que está sem entender o que está acontecendo. – Sim, eu deixei as compras aí. Fui com Romeu no mercado e depois fui fazer meu exame. – silêncio – Não, Neto ainda não sabe. Vou esperar o resultado sair. Daqui a pouco vou lá buscar. – silêncio – Sim, Romeu me ajudou muito. Ele tem sido uma boa companhia – digo isto, falseando um sorriso, para a voz sair mais doce. – Para! Sou uma mulher casada! – silêncio. Dou algumas risadas baixas. – Para! Por favor! – silêncio – Tá! Romeu é um gato, tem um corpão, é rico, bom papo... Mas eu amo Neto. – silêncio – Não vamos voltar neste assunto. É claro que Neto não está interessado no meu dinheiro. – silêncio – Não vamos falar disto novamente. Sei que vocês acham que ele só quer metade da casa, mas sei que ele me daria tudo, se eu quisesse. – silêncio – Tereza, Romeu é rico. Neto não. Romeu me chamar para jantar num restaurante caro em São Paulo não significa nada. Eu estava aí cuidando de você, ele só quis agradecer a gentileza. E um jantar não se compara com a metade da casa. – silêncio. Eu sussurro, sabendo que Neto vai ouvir. – Neto me daria a parte dele sim, com certeza! – silêncio – sim, esta seria uma excelente prova de amor! Mas ele não pensou nisto. Quem sabe depois do resultado do exame... Enfim, vou desligar. Mais tarde eu passo aí. – silêncio – Melhor, assim você não fica fantasiando. Prefiro que Romeu não esteja aí mesmo. Você fica tentando me jogar para os braços dele... Eu sou casada, muito bem casada. Beijos e até mais tarde – finjo que desligo. Suspiro e falo como se estivesse falando para mim mesma... – Sim, passar a casa para meu nome seria uma forma de provar o amor dele para mim. Se ele soubesse que eu passaria toda a casa para ele depois disso e colocaria a conta como conta conjunta... Mas é melhor ele nem saber, para que ninguém diga que ele fez isto por interesse. Meus amigos já acham que Neto só está comigo por conta do dinheiro. Isto iria calar a boca deles e provar o que Neto sempre disse... Que meus amigos estão tentando me afastar dele. Melhor eu não pensar nisto, senão eu acabaria me afastando de todos os meus amigos. Se bem que ficar só com Neto não seria nada ruim... Eu amo meu homem! – ligo o chuveiro, sabendo que isto fará Neto pensar, e muito!

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