Capítulo 21

44 9 10
                                    


07 de dezembro de 2016

Uma semana passa numa velocidade incrível. Neto não apareceu e nem entrou em contato. Micaela sumiu do mapa, não conseguimos encontrá-la em lugar algum. Sem respostas no celular e ninguém atende na casa dela. Neto não apareceu na casa da mãe dele também. Felipe instalou algumas câmeras no meu apartamento. Se alguém entrar lá quando eu não estiver, um aviso vem direto para meu celular, para o de Felipe e para a central de vigilância. Um alerta é emitido e imediatamente as câmeras começam a gravar tudo. Quando eu chego em casa eu desligo o sistema, apenas depois de verificar se não tem ninguém mesmo na casa. Meus amigos já pararam de fazer revezamento de quem dorme na minha casa, mas a presença de Felipe está cada vez mais frequente. Ele vai lá todos os dias, seja para tomar café da manhã comigo, seja para jantar, seja para passar a minha tarde de folga lá. Estou gostando de ter ele por perto. Me sinto mais segura.

Estou fazendo aulas de defesa pessoal também, além de estar fazendo Muay Thai. Felipe insistiu nisto. Só não estou fazendo aulas de tiro porque achei que era demais, mas se dependesse dele, estaria no clube do tiro também. Aceitei o segurança por dez dias apenas, depois de muita insistência de Felipe e dos meus amigos, mas confesso que nem percebo se ele está me seguindo ou não, ele é muito discreto. Só o vi uma vez, quando um dos meus alunos resolveu fingir que estava roubando minha bolsa na cafeteria. Ele se aproximou do meu aluno e segurou o braço dele nas costas, discretamente, o conduzindo até a saída. Se não tivessem me chamado, acho que meu aluno estaria com problemas.

Durante todo este período, Felipe não falou sobre nós ficarmos, nem me chamou para um encontro. Acho que entramos na zona de amigos, o que é ótimo, pois gosto muito de estar com ele, de conversar com ele. Com ele me sinto leve, de um jeito bem próximo ao que me sinto com meus amigos. Beto e Ivana continuam se vendo, e ele continua reclamando da estagiária que colocaram no lugar de Cleide. Tereza e João estão namorando oficialmente. Eles não se desgrudam, dormem todos os dias juntos, ou na casa dela, ou na casa dele. Acho que vai dar casamento. Estela e Paty continuam muito bem casadas e felizes com seus maridos. Tudo em paz no paraíso. Mas sempre me pergunto: existe paraíso? Ou é apenas um período entre infernos?

***

Ontem foi o último dia com o segurança. Apesar de nunca perceber a presença dele, não me acostumei com a ideia de tê-lo por perto, por isto encerrei o período antes do combinado. Me sentia mais segura, mas sei que era só psicológico. Não tem porque eu ficar tensa. Ninguém está me seguindo, me observando. Ninguém vai me fazer mal.

Quando acabou a aula, eu dei uma passadinha rápida no shopping, para comprar uma roupa. O aniversário de Estela vai ser na sexta e todo ano a gente vai para o mesmo bar. Foi lá onde conheci Neto e esta vai ser a primeira vez que vou lá depois que me separei. Quero estar me sentindo linda e confiante.

Compro um vestido vermelho bem sensual. Parece que foi feito para mim. Paguei muito caro, mas valeu a pena cada centavo. Aproveito que estou no shopping, faço meu programa preferido, ler numa cafeteria, tomando um café delicioso e comendo um pedaço de torta. Fico por lá durante umas duas horas até que volto pra casa. Recebo uma cesta de queijos e vinhos, uma caixa de chocolate e um ursinho de pelúcia. Todos sem cartão. Fico curiosa, mas imagino que tenha sido Felipe, então mando uma mensagem.

— Oi, Lipe, tudo bem? Você vem aqui hoje?

— Oi, linda. Estive aí pela manhã. Agora estou entrando num jantar de negócios. Lembra que eu te chamei para vir comigo? Mas eu mandei uma surpresinha para você. Espero que você goste. É para você não se sentir sozinha com minha ausência.

DESILUSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora