Capítulo 11

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06 de junho de 2016

Na segunda—feira, fui trabalhar pela manhã. Neto me levou até a faculdade, coisa que nunca aconteceu nesses três anos de relacionamento. Ele carregou a minha mochila até a porta da sala, me deu um beijo e saiu. Quando abri a mochila, ele havia colocado algumas frutas, água, suco e um sanduíche. Acho que vai ser fácil conseguir que ele transfira a casa logo. Hoje à noite começarei a segunda parte do plano.

Ele me ligou na hora do almoço, perguntou se eu queria que ele fosse me pegar para almoçar, mas eu disse que não seria necessário, pois almoçaria na faculdade mesmo. Disse isto já no carro de Paty, indo me encontrar com as meninas e com Beto. A hora do almoço passou muito rápido, depois voltei para a faculdade e dei aulas a tarde toda.

Na saída, Neto já estava a minha espera. Carregou minha mochila, abriu a porta do carro e ainda colocou o meu CD preferido para tocar. Chegamos em casa e tudo estava limpo e cheiroso. A mesa estava posta e o jantar pronto. Acho que consigo me acostumar com estes mimos, só trocaria o acompanhante. Fui tomar banho e Neto entrou no banheiro.

— Neto... O que você está fazendo aqui? — gaguejei, com medo de que ele quisesse transar.

— A gente não pode sexo, mas eu posso te dar um banho, não? E posso bater uma te olhando nua. Você é tão gostosa, Duda... — sussurrou, tirando a roupa e vindo me beijar. Tive que me controlar para não vomitar. Mais uma vez, tive que deixá-lo me tocar, sem eu ter a menor vontade. Isso já tinha acontecido várias vezes no casamento, mas na época eu achava que tinha a obrigação de satisfazê-lo, mesmo que eu não quisesse.

Depois que gozou, ele me colocou no canto do chuveiro, tomou banho e saiu, sem me olhar. No banho tentei limpar qualquer vestígio do toque dele, chorando. Jantamos e eu fui para o quarto. De lá, fingi que atendia uma ligação de Romeu. Neto foi até o corredor para ouvir o que eu dizia.

— Oi, Romeu! Estava com saudades. Tudo bem contigo? – silêncio – Sim, tudo bem por aqui. Neto adorou a notícia! Estamos bem animados, ontem fizemos planos para a decoração do quarto. – silêncio – Ele tem certeza de que é menino. Mas eu acho que é menina. – silêncio – Sei que você também quer ter uma menina. – risos – Pois é, até nisto combinamos. – risos e silêncio – Romeu, eu estou grávida do meu marido. – silêncio – Mas eu não posso me deixar levar por uma forte conexão. Eu amo meu marido e ele me ama. – silêncio – Pare de ouvir o que eles dizem. Neto não está comigo só por dinheiro. Se estivesse eu me separaria dele agora mesmo. – silêncio – Sim, mesmo grávida dele, eu iria embora e ele nunca mais ouviria falar, nem de mim, nem desta criança. – silêncio – Mãe solo, com muito orgulho. – silêncio — Eu não vou pedir para ele colocar o ateliê no meu nome! – silêncio – Nem a parte dele da casa. Pare, por favor. Eu gosto muito de você, gosto da sua companhia, sinto esta forte conexão entre a gente, mas não posso. Eu sou casada e amo meu marido. – silêncio – Se ele fosse interesseiro, é claro que eu me divorciaria. Aí eu poderia pensar em ter algo contigo. Mas ele não é interesseiro. – silêncio – Romeu, eu estou esperando um filho. Ele pode me dar isto de presente, sim. Mas eu não vou pedir isto para ele, teria que ser algo que partisse dele e não de mim, não acha? – silêncio – Você não acredita que ele será capaz de fazer isto? Já eu tenho certeza de que ele seria. – silêncio – Vamos fazer uma coisa? Se ele fizer isto, você me deixa em paz? – silêncio – Então temos um acordo. Se Neto transferir o ateliê todo, ou a parte dele da casa para o meu nome, você desiste de me conquistar. Se ele não transferir, eu permito que você tente. Mas te aviso que, mesmo que ele não transfira, o que eu acho difícil, você vai ter que batalhar muito para conseguir me fazer olhar para alguém além dele. Combinado? – silêncio. Abaixo o tom de voz, fazendo charminho. – Eu sei, eu também senti, mas não posso. Pare, de verdade... – silêncio e risos de cumplicidade – Ok. Parei! Preciso dormir agora. – silêncio – Estou sim. Pronta para dormir. – silêncio – Não vou dizer com que roupa eu estou. A gente já sabe onde isto vai parar. – silêncio – Foi uma delicia, mas não posso fazer de novo. – silêncio – Não posso fazer pela quarta vez. Foi um erro, delicioso, eu sei, mas já complicou demais as coisas, porque agora eu tenho com o que imaginar... Romeu, você já viu e ouviu demais. Não farei isto de novo, ainda mais com Neto na sala, ele pode chegar aqui e nos pegar em flagrante. – silêncio – Temos um acordo, vamos ficar com ele, ok? – silêncio – Por que? – silêncio – Tudo bem, um café para fecharmos os detalhes do acordo. Nada além disso, em local público, e rápido! Aviso quando tiver algum tempo. – silêncio. Abaixo o tom, para uma voz provocante. – Outros, onde quiser. – desligo.

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