Classificação de 14 Anos
Autor: Jean Cllaude
21° Capítulo
Últimas Semanas
Paula
Acordo mais cedo, na verdade quase não dormi, quando tinha enfim adormecido tive o pesadelo que vem se repetindo com frequência. São tantas coisas passando na minha cabeça, tantos sentimentos confusos, que me sinto perdida, sem saber como agir.
Dói dizer, mas confesso que estou apaixonada por Théo. No início achei que era atração sexual, mas não é só isso. Gosto dele, gosto de conversar, de estar ao seu lado e me sinto perdida ao imaginar uma vida longe dele. Sei que é errado sentir o que estou sentindo, estou traindo a minha família, apaixonada por aquele que destruiu todos que eu amo.
Arrumo-me para o trabalho e antes de preparar o café acordo Alice, outra que também venho me preocupando. Ainda tem o pesadelo, toda vez que o tenho acontece algo, sempre é um aviso, mas está querendo me avisar sobre o quê? Quem está em perigo?
Tomo o meu café e vou em busca da Alice, para apressá-la, senão iremos chegar atrasadas. Encontro uma Alice triste e com o olhar distante.
O trajeto para o trabalho é feito em silêncio, tento puxar assunto, mas aquela Alice falante e alegre sumiu. Não sei ao certo quando aconteceu, mas ela está bem mudada, calada, preocupada, quase não sorri. Já a questionei inúmeras vezes e suas respostas são sempre as mesmas: a faculdade, trabalho ou que está cansada.
Chegamos na agência e cada uma segue o seu caminho.
Théo ainda não chegou, entro na sua sala para deixar os papeis que me pediu no dia anterior. Olho à minha volta e me sinto uma inútil.
- Bom dia, linda! - Théo entra na sala sorridente.
Estou me enganando, amando quem destruiu todos que eu amo e ainda estou feliz a custa das vidas de todos da minha família. Sinto raiva de mim. Como pude deixar me levar dessa maneira? Como pude ser tão egoísta? Estou traindo não apenas a mim, mas todos que eu amo e que perderam a vida. Théo está apenas me enganando, como fez com Paloma, daqui a pouco quando descobrir que estou apaixonada vai acabar comigo.
Théo se aproxima e quando vai me beijar viro o rosto e abaixo a cabeça, sei que ele me olha confuso, nunca neguei um beijo. Está na hora de tomar as rédeas da minha vida, está tudo errado, não posso continuar com essa farsa, tenho que acabar com ele e não amá-lo.
- Está tudo bem? - questiona com a voz suave.
- Está. - Levanto a cabeça e encaro os seus olhos.
- Certeza?
- Por que não estaria? - indago ríspida.
- Tudo bem, já entendi. Hoje você não está em um bom dia.
Mesmo eu sendo rude, ele é suave. Não encosta em mim e dá o espaço que eu preciso. Sinto-me culpada e com raiva ao mesmo tempo, raiva de mim, das minhas atitudes, de tudo que vem acontecendo.
Amo o Théo e o odeio, amo por ser assim, me trata bem, é carinhoso, um homem perfeito. E o odeio pelos mesmos motivos.
Paloma morreu, minha família morreu.
- Por que está chorando, linda?
Passo a mão em meu rosto e dou conta que estou chorando, faz tempo que não sabia o que é chorar na frente das pessoas.
- Nada - minto.
Não posso dizer o porquê do meu choro, não posso confessar que ele é o único culpado e eu sou uma idiota por amá-lo da forma que eu o amo.
- Não fique assim, estou aqui. Posso te ajudar? - Théo se aproxima e eu me afasto.
- Não.
- Paula. - Dá um passo na minha direção e eu dou um passo para trás. - Está assustada. Aconteceu algo e não quer me contar?
- Desculpa por não ser a pessoa que você pensa. - Choro.
- Você é a mulher que eu amo. A mulher que eu quero ao meu lado hoje e sempre.
- Não pode me amar. - Coloco a mão na boca para abafar o meu soluço. - Você não pode me amar - repito.
- Paula. - Tenta se aproximar novamente e eu me afasto. Não posso sentir o seu toque.
- Não toca em mim - peço -, não toca em mim.
Tampo o meu rosto com as mãos. O que está acontecendo comido hoje? Deixar minhas emoções tão afloradas, deixar as minhas fraquezas evidentes.
- Tudo bem, vou me sentar e você fala quando estiver melhor. Vou te dar espaço.
Théo senta em sua mesa e fica em silêncio, me observando.
Estou ofegante, zonza, fraca, perturbada com tudo, preciso de ar. Está me sufocando. Tudo está fora do lugar.
- Preciso respirar - digo, saindo da sala dele.
Ele diz algo que não entendo, que não compreendo, quero apenas me afastar de tudo, me afastar dele.
Saio sem rumo, sem saber qual caminho seguir. Está tudo confuso, escuro, parece que estou no pesadelo que vem me acompanhando dia após dia. A diferença que esse pesadelo é na minha vida real.
- Aí - digo ao embarrar em uma pessoa.
Olho para o chão, vejo uma agenda caída e em volta vários bilhetes. Conheço essa letra.
Abaixo-me e pego os bilhetes. As sensações são substituídas pela raiva e perplexidade. A minha visão fica limpa, minha respiração se normaliza.
Começo a entender tudo
- Não leia.
Alice toma os bilhetes da minha mão, os seus olhos estão vermelhos e assustados.
- Alice? - Tudo fica claro agora. É ela que tem que ser salva, está acontecendo de novo, debaixo do meu nariz e eu não estava vendo. - Ele me paga.
Levanto-me do chão, decidida a acabar com tudo.
- Paula, não é isso que você está pensando. - Chora.
- Escute. - Seguro os seus ombros. - Eu vou cuidar de você. Ele não vai tirar você de mim, eu juro.
Deixo Alice no corredor e saio em direção ao culpado por tudo de ruim que aconteceu na minha vida. Ele destruiu minha família, não irá destruir a única pessoa que restou e que amo. Eu não vou permitir.
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Web Novela " O Outro Lado da Vingança "
Mystery / ThrillerSINOPSE Paula nunca entendeu o motivo de sua irmã tirar a própria vida de forma brutal. E tudo o que aconteceu a seguir só ajudou para que sua vida se tornasse cada vez mais sem sentido. Até que o motivo de tudo vem à tona e uma ânsia por vingança n...