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Poucos passos faltavam, avistava o poste de luz amarelada que falhava constantemente, alguns dos carros de moradores do prédio e das outras casas, incluía o de Anna. A rua estava calma, sem barulhos que incomodassem, era apenas o barulho do vento, que mesmo com fone conseguia o ouvir.

O céu estava escuro e com estrelas que conseguiria contar nos dedos, a luz amarelada da cidade a permitia desejar por uma vista limpa dos vastos pontos brancos brilhantes.

Chegou na porta velha e comida por cupins, a empurrou, permanecia aberta sempre, segundo o porteiro não havia risco de roubo ou invasão naquela área, mas o problema era que Anna estava lá, achava um perigo e precisa tomar cuidado, todo cuidado era pouco.
Parou na frente do homem desacordado, estava feliz dormindo, pela sua feição não poderia dizer com o que sonhava.

— Futakuchi! – O chamou a atenção, o tirando a força de seus desvaneios. — Acorde!

O menino despertou sonolento, com uma feição incomodada pelos seus sonhos terem sido interrompidos, o fazendo esquecer.

— Céus – o menino reclamou, esfregou os olhos e se espreguiçou, a cadeira velha de madeira com a qualidade duvidosa rungiu com o esforço. – Dando suas caminhadas noturnas? – Perguntou tomando consciência de quem era.

— Sim – suspirou pela respiração ainda descompassada. — Algum movimento suspeito? – Perguntou com afinco para repreender o menino pelo cochilo que tirara.

— Já disse que não há movimento por aqui, apenas os moradores e vez ou outra alguma visita inofensiva de algum esquilo – falou dando de ombros e se escorando na mesa que estava em uma situação deplorável.

— Certo, mas não durma, bata na minha porta e peça café, mas não durma – com um sorriso simples e repreensivo Anna falou e seguiu para as escadarias que estralavam a cada peso colocado nas tábuas frágeis de madeira.

Futakuchi, um menino na casa dos 20 anos, sua mãe era a antiga síndica do prédio velho, quando seu falecimento chegara o menino fez questão de manter o legado do prédio Kenji.
Fizera amizade com o menino na noite de sua chegada, uma chegada noturna que não chamava atenção. Conversou um pouco com o garoto enquanto procuravam um apartamento não tão deplorável para sua moradia com tempo indefinido.

O menino virou seu amigo, era o único com quem conversava abertamente, mas sem falar quem realmente era e o que fazia, sobretudo. Era um bom garoto.

— Boa noite – Futakuchi falou antes de ver sua silhueta sumir pelo escuro do prédio.

A cabeça de Anna doía, o álcool revirava em seu estômago, precisava de um cigarro.

Caminhava rápido pelos corredores, entrar em seu apartamento e se jogar na sua cama era o plano, precisava descansar, não que não tivesse feito isso constantemente durante os últimos dois anos.

— Anna! – Ouviu o chamado, virou na direção da voz.

— Senhora Kobayashi! - Sua vizinha, a única que mantinha mais contato. – Como vai?

— Esperava visitas, querida? - A senhora perguntou curiosa, nunca vira uma pessoa nos seus 67 anos de moradia, que não fosse você, entrar no apartamento 207.

— Não espero, por que diz isso? - Uma pergunta duvidosa e temível, aquela senhora sabia de tudo que aconteceu e acontecia naquele prédio. A típica fofoqueira, a amava.

— Alguns homens fizeram uma visita surpresa então - a senhora falou divertida.

Seu coração palpitou e errou algumas batidas, mas não temia nada, aquele apartamento era apenas um apartamento comum, sem provas de seus atos que lhe condenassem ao pior.

— É mesmo? – Perguntou num suspiro, a senhora assentiu. —  Certo, obrigada pelo aviso. Boa noite senhora Kobayashi.

Anna virou na direção da porta do apartamento 207, a acharam mais rápido do que pensou, chutava mais alguns anos para que sua localização fosse descoberta. Que infortúnio!

A senhora de idade avançada ainda a encarava, informações, queria informações sobre o que você fazia. Era um mistério para todos ali sua profissão, e o que uma brasileira viera fazer nos bairros desconhecidos do Japão?
Kobayashi perguntou para todos da rua e do bairro, ninguém sabia nada, mal sabiam que tinha alguém novo naquela rua, segundo os moradores, faz anos que não recebem um turista.

A porta estava destrancada, suspirou, se virou para a senhora que permanecia de butuca na porta do apartamento 205 e sorriu, logo entrando no apartamento.
Fechou a porta atrás de si, e a trancou, ficou parada olhando para o pequeno corredor. Começou a andar, nada fora do lugar, tudo permanecia como estava antes.

Profissionais haviam feito o trabalho, qualquer um fora desse nicho deixaria algum fio de cabelo, não viu nenhum que não pertencesse a ela mesma. Pelo que viu quando passou os olhos correndo pelo apartamento mixuruca, não havia nada.

Largou o celular e fone de ouvido no pequeno balcão de dois lugares, foi até o quarto em passos rápidos. Nenhum móvel fora do lugar, mas podia perceber que remexeram suas poucas roupas, suspirou e empurrou a cama do lugar. Quem visse diria que não havia nada, mas duas tábuas soltas podiam fazer milagres.

As puxou com força, poderia pegar alguma farpa que custaria a tirar depois, mas essa não era a principal preocupação. Uma caixa de metal enferrujado nas bordas, envolto num pano escuro. Jogou o pano no chão do quarto. Abriu a caixa, um pequeno computador portátil, útil que conseguira nos anos em que podia sair e se aventurar pelas ruas do Brasil sem se preocupar se estava sendo perseguida ou não.
Colocou algumas das senhas que precisava, acessou câmeras que havia pelo apartamento, pequenas, mal podiam ser vistas, colocadas em lugares estratégicos que algum invasor não procuraria.

Pegou o computador e foi para o que chamava de sala, se sentou na poltrona velha que a senhora Kobayashi a dera antes de pensar em jogar fora. Digitava alguns códigos e abria algumas pastas, seus olhos doíam pela escuridão e a luz forte, pensou em ligar a luz que havia pendurada no teto, pela falta de vontade a ideia foi logo descartada.

Chegou em uma pasta com o código "18124", digitou a senha que a protegia e teve acesso a pequenas telas com nomes de seus respectivos "cômodos". Voltou alguns minutos antes de sair, começou a observar a partir daí, tinha a visão de sua saída para a caminhada e cerca de 3 minutos depois, presenciava a imagem de três homens desconhecidos, vestindo preto pelo corpo inteiro, não tinha a visão da etnia, cor do cabelo, peso, equipamentos, não tinha nenhuma informação daqueles que pisaram no apartamento 207 na noite do dia 16 de junho de 2028.

Fechou a tela do computador angustiada, nem se quisesse poderia ter alguma informação útil que levaria até aqueles que invadiram seu pequeno e aconchegante apartamento.

A única coisa que passava pela cabeçinha de Anna eram perguntas como.

"A quanto tempo eles vêm me vigiando?"

"Onde eles ficam?"

"Conseguem me ver agora?"

"Para quem eles trabalham?"

"Quem são eles?"

Perguntas sem respostas que a encucariam pelo resto da noite, tentaria conseguir ao menos uma informação com um amigo que perdera o contato, mas não a localização, a alguns anos. Ele teria respostas e talvez informações a mais que lhe fossem úteis e a fariam não ser pega por quem quer que fosse.

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Espero que tenham gostado :)

Enfim foi isso, baibai.

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