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- ME SINTO UM completo idiota - Nathan começou a falar. - Por não ter pensado em vir direto para um hospital primeiro.

Eu ri baixinho, bebendo um gole do café. Theo estava bem, mas precisava ficar uma noite em observação e apesar de Nathan ter insistido que eu podia ir para casa, eu optei por ficar.

- Que sorte a sua que eu penso rápido então - respondi, com a voz mais leve.

Ele ainda estava preocupado, claro.

Mas estava mais tranquilo também que o médico tinha dito que não era nada grave e que Theo iria ficar bem em algumas horas, pronto para ir para casa. Nathan avisou a mãe do menino, tranquilizando-a sobre ela não precisar pegar um vôo naquela madrugada e que iria mantê-la informada sobre qualquer novidade.

O hospital estava silencioso e quando Theo pareceu satisfeito dormindo, chamei-o para tomar um café e comer algo na cantina, onde estávamos agora. Um de frente para o outro na cantina quase deserta, exceto por um casal do outro lado, que comiam em silêncio.

- Você deveria ir para casa - Nathan voltou ao assunto e eu suspirei. - Mesmo.

- Conversamos sobre isso - alertei-o, lançando um olhar para ele, indicando que ele não deveria insistir mais naquilo. - Além do mais, eu não tenho nada importante para fazer. Fico mais tranquila em te fazer companhia. E para o Theo, claro.

Pigarreei baixo, percebendo que eu tinha falado algo sem pensar. Não era a minha intenção parecer que eu estava flertando com ele, mas quando Nathan sorriu, fiquei aliviada por ele ter entendido o que eu quis dizer.

- Você parece exausta, Candice - ele comentou, seus olhos me observando.

Pisquei meus olhos, sustentando o seu olhar. Em seguida, mexi meus ombros, fazendo pouco caso do meu cansaço ou o que fosse. Bebi mais um gole do café, infeliz que o mesmo tinha esfriado e acabei deixando o copo de lado.

- Eu me sinto pior do que pareço - murmurei, dando um sorriso fechado e claramente forçado.

Sem que eu esperasse, Nathan colocou as mãos em cima da mesa que dividia o nosso espaço e sua mão tocou a minha, acariciando a pele da minha mão levemente.

Pisquei meus olhos na direção dele, sem entender como eu estava me sentindo.

- Eu te amei, você sabe disso, não sabe? - ele sussurrou tão baixo, que se eu não estivesse perto o suficiente, não conseguiria entender com clareza o que ele tinha dito.

Meu coração saltou.

Eu com certeza parecia uma adolescente recebendo sua primeira declaração de amor, sem saber exatamente o que responder, porque parecia ser bom demais e eu temia que fosse um sonho. Mas eu não era mais uma adolescente.

Não estava mais na faculdade. Era uma adulta. Uma adulta que sabia reagir a aquele tipo de coisa, mesmo que eu perdesse o fôlego e meu coração batesse como se eu tivesse acabado de correr uma maratona.

- Eu sei - murmurei, finalmente, porque era a verdade.

Eu sabia. Sempre soube. Ele só não foi a minha escolha.

Desmanchei o meu sorriso, soltando a respiração pesada quando ele entrelaçou os nossos dedos, o silêncio recaindo sobre nós, enquanto eu me perguntava o que deveríamos ter sido.

Eu não podia me aprofundar naquela questão. Viajar para o passado no momento da vida em que eu estava era perigoso para mim e a última coisa que eu queria era remoer as decisões que eu não podia mudar.

- Devíamos voltar para o quarto - comentei, o tom de voz baixo, mas seguro.

Eu queria que ele entendesse que eu não o estava rejeitando uma segunda vez. Muito pelo contrário, eu rejeitava a ideia dele suprir a minha carência, que ele fosse a minha segunda opção, que ele curasse tudo de ruim que eu estava sentindo. Nathan não merecia ser o band-aid de ninguém.

- Tudo bem - ele concordou, compreensivo.

Seus dedos se afastaram dos meus e ele se levantou primeiro, escondendo as mãos nos bolsos do casaco.

Me sentindo a pior pessoa do mundo, eu o acompanhei.

BREAK FREE [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora