O Que Eu Escondo Por Baixo de Todo o Meu Sarcasmo

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Magnus passou a semana inteira observando Alec à distância.

Ele espiava o rapaz saindo para trabalhar de manhã cedo, através de uma pequena fresta aberta da porta. Depois ia para o próprio trabalho e ficava pensando nele o dia todo.

À noite, quando voltava para casa, Alec já tinha voltado do banco, então Magnus ficava mais uma vez de tocaia, esperando que a porta do apartamento dele se abrisse a qualquer momento e pudesse vê-lo lá dentro.

Depois do fiasco do último domingo, Alec não tinha mais lhe dirigido a palavra. O vizinho pareceu ficar muito ofendido com sua atitude e ele precisava admitir que tinha razões para isso. Alexander deve ter se sentido usado, como se fosse descartável e o único interesse que Magnus visse nele fosse o sexual.

Ele queria ter ido atrás dele, tê-lo impedido de sair de lá antes que se explicasse, contasse tudo que sentia. Porém simplesmente não teve coragem. Ficou congelado, arrependido e amedrontado demais para tomar alguma atitude.

Depois passou todos os dias ensaiando bater na porta dele, para pedir desculpas e uma chance de justificar o que fez. Só que mais uma vez ficou paralisado pelo medo.

Se Alec soubesse o que Magnus escondia por baixo de todo aquele sarcasmo e aquela pose de homem descontraído... Talvez o compreendesse melhor, talvez ficasse assustado e se afastasse de vez. Mas ao menos ele teria tentado.

Magnus sentia vontade de bater na própria cara cada vez que pensava no assunto. Estava indo tudo bem, por que ele tinha que estragar tudo? Por que não podia agir como um adulto normal, superar o passado e seguir em frente?

Sua mãe costumava dizer que os traumas eram como pedras em seu caminho: você tropeçava, se erguia, cuidava dos machucados e seguia em frente. Não fazia diferença o tanto de tempo que levasse todo o processo, a única coisa que importava era não apanhar a pedra do chão e passar a carrega-la no bolso.

Bem, o seu bolso estava bastante carregado de pedras naquele momento. E já tinha se tornado um pouco pesado demais levá-las consigo.

Ele sabia que não era certo depositar o peso de suas experiências passadas em Alec, que o rapaz não tinha nada a ver com o que tinha lhe acontecido. Mas, mesmo assim, era tão difícil não se retrair, não ter medo de se machucar outra vez.

"Argh, Magnus. Você merece o troféu de Ser-Mais-Confuso-e-Idiota-do-Universo".

Como será que Alec estava? Será que sentia sua falta ou sequer pensava nele? Será que ainda sofria com a solidão, depois que a irmã foi embora? Será que estava com ódio dele?

De tão perdido em todas essas questões, uma tarde ele acabou dando o troco errado para um cliente e precisou cobrir o prejuízo do próprio bolso. Os funcionários da loja já estavam comentando o quanto o gerente andava distraído e irritadiço. Magnus sempre foi muito profissional e nunca deixou que seus problemas pessoais atrapalhassem seu desempenho, portanto estava bastante irritado com o fato.

Nesse mesmo dia, ao voltar para casa no fim do expediente, encontrou um homem desconhecido batendo à porta do apartamento de Alec. Ele nunca o tinha visto antes por ali. Era alto, magro, tinha a pele bastante pálida e cabelos negros, como seu vizinho, mas tinha feições muito mais delicadas que as de Alexander.

Ao vê-lo do outro lado do corredor, se virou em sua direção, sorridente.

— Oi. Por acaso você conhece o rapaz que mora aqui? – perguntou.

Uma pontada de ciúmes atingiu subitamente o peito de Magnus e ele se surpreendeu com a sensação. Tentou disfarçar o incômodo antes de respondê-lo.

Stripper (Malec)Onde histórias criam vida. Descubra agora