Layla perambulava pela casa com uma garrafa de vinho nas mãos. Sentia-se inquieta; todas as noites eram assim.
Ouviu passos no topo da escadaria e ergueu a vista.
A velha senhora caminhava à passos lentos, revelando o peso da idade.Obrigou-se a sorrir para ela.
- Pesadelos, querida?- A senhora a inquiriu com um generoso sorriso.
-Esse não é o peso do nosso legado?
- Isso não é justo com você.
- Não me parece justo com nenhuma de nós, nona!- desabafou - Mas não se preocupe comigo, estou bem!- mentiu. - Volte a dormir!
Ver a avó mancar de volta para o quarto não lhe deu o alívio que buscava, pelo contrário. Ela se tornara apenas mais uma vítima do legado de seus ancestrais."Maldito legado". Pensou cerrando os punhos.
Realmente, precisava caminhar um pouco; uns dez quilômetros, talvez mais. Haveria espaço suficiente na propriedade para desvanecer sua irritação? - Pergutava-se.Não custava tentar. Seus passos a guiaram para além dos jardins: até o mausoléu de sua família.
Não importava a bela aparência da mansão e do suntuoso jardim, ainda sentia que vivia num cemitério.
Não se incomodou quando uma figura se aproximou parecendo trazer consigo o frio gracial do ártico.
- A tempestade logo vem! -Anunciou.
- A tempestade já está aqui, sempre esteve. - Suavizou o sentido e a irritação.
- Os pesadelos a tem mantido acordada?
- Acaso não é o peso da minha maldita herança?
- Eu gostaria de poupá-la...
- Então devia cuidar de seus defuntos! -Interrompeu-a.
- Layla...
- Não...nem mais uma palavra! - Foi incisiva.
Sair dali, às pressas, foi o melhor a se fazer. Especialmente, naquela noite queria briga e estava tentada a iniciá-la. Mas afastar-se da zona de combate foi mais difícil do que imaginava.
Atravessou o corredor que dava acesso ao seu quarto com passos suaves para não acordar Sophie, sua avó.
Embebedar-se parecia uma boa opção. Imaginou ao trancar-se em seu espaço privado. Olhou para a garrafa de vinho que trazia em mãos e percebeu que não teria o suficiente para tal feito e nem tinha energia para ir buscar outra.
Direcionou-se, então, à sacada; o vento forte sacodia, violentamente, o cortinado. A tempestade se anunciava ameaçadora. Tratou de fechar tudo e enquanto o fazia, um arrepio perpassou sua espinha dorsal.
Voltou à sacada e observou; havia algo estranho no ar, podia sentí-lo em cada poro de sua pele. De repente, soltou a garrafa no chão, sem se preocupar em quebrá-la; então, apoiou sua mão no parapeito e lançou seu corpo por cima sem aparente dificuldade. Caiu de pé no gramado, um andar abaixo de onde se encontrava.
Atravessou o jardim numa corrida desenfreada rumo ao mausoléu.
Deparou-se com Sophie caida sobre uma lápide com um intrincado de inscrições antigas.
-Nona? O que houve?
-Tentei salvá-la querida!
-Deus do céu, o que fez?
-Enquanto essa prisão existir, você também estará aprisionada. - disse chorosa.
A visão da mulher parada de braços cruzados antes elas foi um flamejante combustível para a fúria de Layla.
- O que você fez?- bradou.
- Tive de contê-la. A maldição deve permanecer enterrada.
- Sai da minha frente ou a enterrarei junto!- Esbravejou.
- Mantenha-na longe desse lugar! - disse em tom de ordem.
-Por mim nós duas estaríamos longe daqui, mas uma prisão não seria prisão se não tivesse prisioneiro e carcereiro. - retrucou ajudando a avó a se levantar.
Deu- lhe apoio e juntas se afastaram da tumba sem olhar para trás.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Guardiões E Vampiros
VampireLayla viveu a vida toda trancada num mausoléu vigiando a tumba de seu inimigo. Era o negócio da família, passado de geração para geração. Mas ela já estava farta dessa vida de servidão; desejava uma vida melhor para sua avó Sophie. Algo melhor qu...