Capítulo 01

835 109 12
                                    

Layla perambulava pela casa com uma garrafa de vinho nas mãos. Sentia-se inquieta; todas as noites eram assim.

Ouviu passos no topo da escadaria e ergueu a vista.
A velha senhora caminhava à passos lentos, revelando o peso da idade.

Obrigou-se a sorrir para ela.

- Pesadelos, querida?- A senhora a inquiriu com um generoso sorriso.

-Esse não é o peso do nosso legado?

- Isso não é justo com você.

- Não me parece justo com nenhuma de nós, nona!- desabafou - Mas não se preocupe comigo, estou bem!- mentiu. - Volte a dormir!

Ver a avó mancar de volta para o quarto não lhe deu o alívio que buscava, pelo contrário. Ela se tornara apenas mais uma vítima do legado de seus ancestrais.

"Maldito legado". Pensou cerrando os punhos.

Realmente, precisava caminhar um pouco; uns dez quilômetros, talvez mais. Haveria espaço suficiente na propriedade para desvanecer sua irritação? - Pergutava-se.

Não custava tentar. Seus passos a guiaram para além dos jardins: até o mausoléu de sua família.

Não importava a bela aparência da mansão e do suntuoso jardim, ainda sentia que vivia num cemitério.

Não se incomodou quando uma figura se aproximou parecendo trazer consigo o frio gracial do ártico.

- A tempestade logo vem! -Anunciou.

- A tempestade já está aqui, sempre esteve. - Suavizou o sentido e a irritação.

- Os pesadelos a tem mantido acordada?

- Acaso não é o peso da minha maldita herança?

- Eu gostaria de poupá-la...

- Então devia cuidar de seus defuntos! -Interrompeu-a.

- Layla...

- Não...nem mais uma palavra! - Foi incisiva.

Sair dali, às pressas, foi o melhor a se fazer. Especialmente, naquela noite queria briga e estava tentada a iniciá-la. Mas afastar-se da zona de combate foi mais difícil do que imaginava.

Atravessou o corredor que dava acesso ao seu quarto com passos suaves para não acordar Sophie, sua avó.

Embebedar-se parecia uma boa opção. Imaginou ao trancar-se em seu espaço privado. Olhou para a garrafa de vinho que trazia em mãos e percebeu que não teria o suficiente para tal feito e nem tinha energia para ir buscar outra.

Direcionou-se, então, à sacada; o vento forte sacodia, violentamente, o cortinado. A tempestade se anunciava ameaçadora. Tratou de fechar tudo e enquanto o fazia, um arrepio perpassou sua espinha dorsal.

Voltou à sacada e observou; havia algo estranho no ar, podia sentí-lo em cada poro de sua pele. De repente, soltou a garrafa no chão, sem se preocupar em quebrá-la; então, apoiou sua mão no parapeito e lançou seu corpo por cima sem aparente dificuldade. Caiu de pé no gramado, um andar abaixo de onde se encontrava.

Atravessou o jardim numa corrida desenfreada rumo ao mausoléu.

Deparou-se com Sophie caida sobre uma lápide com um intrincado de inscrições antigas.

-Nona? O que houve?

-Tentei salvá-la querida!

-Deus do céu, o que fez?

-Enquanto essa prisão existir, você também estará aprisionada. - disse chorosa.

A visão da mulher parada de braços cruzados antes elas foi um flamejante combustível para a fúria de Layla.

- O que você fez?- bradou.

- Tive de contê-la. A maldição deve permanecer enterrada.

- Sai da minha frente ou a enterrarei junto!- Esbravejou.

- Mantenha-na longe desse lugar! - disse em tom de ordem.

-Por mim nós duas estaríamos longe daqui, mas uma prisão não seria prisão se não tivesse prisioneiro e carcereiro. - retrucou ajudando a avó a se levantar.

Deu- lhe apoio e juntas se afastaram da tumba sem olhar para trás.

Guardiões E Vampiros Onde histórias criam vida. Descubra agora