Passaram-se dias desde o ocorrido e eu continuo na mesma melancolia de sempre. Ainda não sei o que fazer para evitar meu possível destino. Imersa no oceano estou impedida de fugir. Na Espanha vai ser impossível já que cada beco, cada rua é vigiada por dezenas de guardas reais. Me vejo sem saída em meio a tudo isso.
A companhia de Carlos me ajuda a aliviar a agonia de estar sendo levada para uma provável execução. Penso muito em meu passado também, talvez nem seja saudável, mas me sinto melhor quando lembro dos momentos calmos e felizes que já passei ao lado daqueles que são importantes para mim. Os pesadelos aos poucos estão se acalmando. Lembro de acordar algumas vezes de sonhos ruins e o som do mar acalmar meus pensamentos. Talvez fosse ele que me mantinha sã.
A calmaria e o silêncio repentinamente são quebrados por um estrondoso barulho. O barco balança quase que ao mesmo tempo. Numa segunda vez o barulho foi reproduzido mais perto, o que fez meus ouvidos gritarem por socorro. Quando abri meus olhos eu estava no chão de alguma forma. Eu via tudo em câmera lento depois disso, com um enorme zumbido no ouvido.
Lentamente me levantei, pude ver assim o enorme buraco que agora se encontrava na parede da janela. Por um pouco quase sou atingida por qualquer que seja o objeto peregrino. Me virei em direção ao lugar em que meu amigo se encontrava e o vi caminhar com dificuldade até mim.
— Você está bem ? — Foi o que escutei ele dizer em meio aos zumbidos.
— Estou. — O barulho então se repetiu pela terceira vez sob o deque superior — O que foi isso?
— Já vamos saber, vai ficar tudo bem.
Conforme o estrondo de repetia meus ouvidos zumbiam mais alto, era insuportável. Quando os barulhos finalmente pararam foi possível escutar um último som de algo se chocando contra o casco do navio em que estávamos. Depois disso só se escutava gritos, tiros e espadas se chocando. Guardas apressados passavam pelos corredores a todo momento. Logo deduzi que o navio em questão estava sob ataque.
— Carlos você tem que ajudar. — Um guarda disse na porta da cabine, depois sumiu pelos corredores de novo.
— Jade, eu tenho que ir. — Ele pensou por um instante e com uma expressão suave terminou — Tenho o pressentimento que essa não vai ser a última vez que nos vemos, apenas fique viva e não faça nenhuma loucura.
— Por favor, não ouse morrer antes de mim.
Ele riu antes de responder minha provocação.
— Não inventa.
Um último olhar sicero foi trocado com meu amigo, nele nós dizemos o quanto sentiríamos falta um do outro. Depois que o loiro saiu do cômodo senti meu coração apertar. Eu estava preocupada com Carlos, mas algo no fundo me dizia que o veria de novo.
O que aconteceu depois foram apenas repetições do som de espadas e tiros. Canhões e pequenas explosões apareciam vez ou outra fazendo o navio tremer. Pelo som, o convés estava um caos.Com o passar do tempo todo o barulho foi diminuindo, até que em um momento sumiu por completo. O silêncio que veio depois era assustador, era como se todos do navio tivesses sumido de repente. Parecia um daqueles pesadelos que me assombravam. Tinha a impressão de estar sozinha sob o navio no meio do oceano. Era possível ver os barris de pólvora jogados pelos corredores, mas não se via os homens que os carregavam.
Fixei meu olhar na escada do corredor na esperança de alguém descer, mas não se via ninguém. Foi aí que eu vi duas figuras desconhecidas descendo o deque. Tinham silhuetas marcantes, logo percebi que eram mulheres. Suas imagens iam melhorando de qualidade conforme eu focava mais.
Uma delas usava um lenço na cabeça, a outra tinha tranças por todo o cabelo. Suas roupas eram diferentes, mas ambas tinham o mesmo traço, como se nem ligassem para como estavam suas aparências, tinham botas unicamente diferentes. Exalavam sua aura intimidante. Foi aí que notei suas armas. Uma longa espada estava empunhada pela mulher de tranças, já a outra segurava uma pistola que refletia a luz de tão limpa.
Uma luz se acendeu em minha cabeça no momento em que percebi serem piratas.Fiquei em silêncio observando as tais mulheres. Tinha medo delas. Procuravam por algo nos cômodos. As vi descendo as escadas para os andares debaixo. Eu permaneci imóvel para não fazer qualquer barulho, não queria chamar atenção. Mas foi inútil, já que logo uma delas entrou no cômodo procurando seja lá o que estivessem procurando. A mulher do lenço agora me encarava de pé na entrada para a cabine.
— Por Poseidon. — A escutei retrucar, e depois gritou — JEANNE VEM VER ISSO.
A mulher das tranças logo apareceu na porta, se apossado da mesma expressão de sua companheira.
— Que merda. — Reclamou no mesmo tom que a outra. — A capitã não vai gostar nada disso.
As próximas palavras que saíram da boca dela foram em sua maioria xingamentos acompanhados de reclamações. Parecia que algo havia saído do planejado. A moça do lenço se aproximou devagar, me dando a chance de reparar bem no belo ruivo que cobria toda a extensão de seu cabelo.
— Muito bem moça, você fala? — Perguntou se abaixando para ficar na mesma altura, já que eu me encontrava sentada no chão.
— Falo. — Perplexa não pude deixar de perguntar. — Quem são vocês?
As duas riem da pergunta, e então a mulher das tranças que supostamente se chamava Jeannie voltou a falar.
— Milady, nós fazemos as perguntas aqui.
As duas então percebem a corrente que me segurava, mudando a expressão logo em seguida.
— Qual seu nome garota? — Pergunta a ruiva, num tom calmo e curioso.
— Jade.
— Jade...? — Ela continua, me induzindo a responder.
— Rodrigues Fonseca.
A ruiva então troca um olhar indescritível para a companheira.
— Jeanne... Ela disse Fonseca.
— Não acredito. — Responde a morena de tranças incrédula. — Temos que contar mostrar isso para a capitã.
Jeanne então abriu o gancho que prendia a corrente de alguns jeito me libertando. Porém antes que eu pudesse comemorar minha liberdade ela prende minhas mãos com uma corda.
— Nem pense em tentar alguma gracinha.
Concordo com a cabeça em resposta, naquele momento o medo que sentia delas superava qualquer vontade aprontar. Nós três subimos ao convés. Pude notar que estava completamente pior do que pensei que estaria. O chão estava repleto de corpos, e bem no meio do convés tinha um homem com um uniforme diferente dos outros. Era o capitão. Ele agora estava ajoelhado, tinha o rosto repleto de machucados e suas mãos presas nas costas.
Vasculhei o convés com os olhos na esperança de achar algum sobrevivente, mas foi inútil. Estavam todos mortos. Eu não vi o corpo de Carlos, o que me deu esperanças que ele estivesse vivo em algum lugar. Desejava do fundo do meu coração que ele ainda estivesse respirando, não queria o perder.
Perto do capitão pude notar a presença de mais duas mulheres, que logo em seguida levantaram o capitão com dificuldade e se direcionaram a rampa que dava para um outro navio ancorado ao Orca Dourada. As duas piratas que me seguravam iam na mesma direção e a medida que nos aproximavamos do outro navio pude perceber em seus detalhes.
Sua madeira era vermelha, seus mastros pareciam arranha-céus e suas velas eram belíssimas. O convés era a mesma bagunça do outro navio, agora eu acreditava que aquilo era normal. Depois que passamos a rampa até o outro navio olhei para trás uma última vez, de lá pude ver o estrago causado pelos piratas. Tinham buracos por todos os lados do casco, o que sobrou do navio afundava aos poucos. Eu não conseguia evitar de ficar preocupada com Carlos, meus olhos ardiam em pensar que algo de ruim havia acontecido ao meu amigo.
Quando me virei de novo para frente percebi uma imensa movimentação no novo navio, barris andavam por todos os lados, tinham pessoas limpando armas em cada canto livre. Um fato me chamou a atenção quase que completamente: todos os tais piratas eram mulheres.
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Em um mar de estrelas
Aventura═════════ ❃ ═════════ Jade Fonseca, uma garota de família nobre. Tudo para ela era como num livro chato sobre casamentos, leis e tédio. Seu pai era como o mocinho, sempre fazendo o que acreditava ser o certo, um homem de coração bom. Talvez ela esti...