Após a despedida final do Valle da Prata nós seguimos rumo a mansão do traídor para cumprir nossa sentença de justiça. Aparentemente eu, Jeanne, Sadie e Aika tínhamos a mesma concentração pela missão. Ainda faltava muito para finalmente chegarmos a mansão Brianchi, mas já pensávamos sobre como iríamos cumprir nosso plano.
- Antes de invadirmos o território, precisamos de alguém de dentro para nos ajudar com a fuga e passar informações. - Pensou Aika.
- E vamos encontrar isso onde? Quem ajudaria piratas a sequestrar um homem da elite? - Questionou Jeanne.
- Talvez se ameaçarmos um funcionário ele nos ajude. - Pensou Sadie.
Naquele momento me lembrei da bela moça dos morangos, a morena bronzeada que trabalhava na casa de Antônio Brianchi. O nome de Zaya veio em minha mente quase que instantaneamente. Agora restava a dúvida se ela aceitaria nos ajudar. Ela não tinha motivo nenhum para o fazer, era impossível conseguir a ajuda dela, mas ainda sim era nossa melhor chance. Não podia dizer sobre como a conhecia as minhas companheiras, na verdade eu não podia dizer sobre ela, afinal, ainda era uma idéia praticamente nula. Deixei que as piratas pensassem em círculos, apenas as induzi a ficar sem resposta naquele momento.
Quando chegamos mais perto do porto voltamos ao estábulo anterior para devolver os cavalos. Na entrada era possível ver alguns guardas saindo da instalação, dando assim chance para que nós estrassemos. Fitei a expressão agradecida da mulher das tatuagens, aparentemente era algo raro os cavalos emprestados as piratas voltarem vivos. Pagamos algumas moedas aos donos do lugar e seguimos a uma pousada qualquer para descansar até a madrugada que íamos cumprir nossa missão.
Dei uma desculpa qualquer as minhas companheiras e sai do lugar sozinha, pensando em formas de falar com Zaya sem chamar atenção. Descendo por uma das ruas que conhecia do porto cheguei ao portão dos funcionários. A procurei ali um bom tempo até perceber a necessidade de a procurar dentro da propriedade. Por sorte encontrei um lenço capaz de prender todo meu cabelo rebelde e um chapéu qualquer, depois de disfarçada me camuflei entre alguns entregadores de cargas e entrei no lugar. Inúmeras pessoas entravam e saíam daquela propriedade a todo tempo, eram tantas que mal consegui reparar em seus rostos.
Rolei meus olhos por todas aquelas pessoas a procura de uma em específico por um tempo, foi então que a vi. A reconheci pelos fios pretos que brilhavam ao sol e pela franja que cobria parte de seu rosto. Suas orbes castanhas iluminavam tudo que viam, era incrível a observar de longe. Aquela moça ainda continha a beleza inexplicável que tanto me chamava atenção. Lá estava Zaya, a mulher que conheci nos dias que passei naquela mansão.
Demorou um tempo até ela me encontrar no meio da multidão, mas logo nós estávamos nos encarando em meio a todas aquelas pessoas. No começo a moça parecia perplexa, conseguia ver dúvidas em seu olhar, era possível saber o que ela estava sentindo apenas pelo brilho de seus olhos, e eu admirava completamente isso. Acenei discretamente com a cabeça para que Zaya me seguisse, sem esperar uma resposta caminhei até uma rua fora dos limites da propriedade. Não sabia se ela tinha me seguido, até a escutar falar.
- O que faz aqui? - Perguntou perplexa, fitando minhas vestes e voltando a encontrar meu olhar, a senti carinhosamente me abraçar antes de escutar sua doce voz de novo. - Fico feliz que esteja bem.
- Eu também. - Respondi sorrindo, voltando minha atenção ao princípio da visita. - Preciso da sua ajuda.
Zaya juntou as sobrancelhas esperando que eu explicasse desde o começo, e foi exatamente o que fiz.
- Nossa... Eu realmente não esperava tudo isso. - A morena diz, incrédula.
- Zaya, sei que parece estranho e você provavelmente não vai aceitar mas eu tinha que tentar, me desculpe por-
- Eu não disse não - A morena disse me interrompendo.
- Como assim, vai nos ajudar? - Perguntei, adotando o sentimento de surpresa que anteriormente se via na moça.
- Olha, ele foi o responsável pela morte do seu pai e traiu a sua confiança, a justiça provavelmente não pretende fazer nada a respeito, Brianchi foi responsável pela morte de alguém, deve pagar por isso como qualquer outra pessoa.
Sorri ladina, interessada no intelecto da moça.
- Não me importa o que farão com ele, eu ajudo vocês, mas com uma condição. - Acenei para que ela continuasse, logo depois ela o fez. - Quero que me aceitem no navio.
- Por que? Você não tem sua vida aqui?
- Tenho muitos motivos, tem coisas que passei aqui que desejo com todas as minhas forças esquecer, e eu não sinto que aqui é meu lugar, vejo a felicidade da liberdade nos seus olhos eu preciso sentir pelo menos um pouco disso.
Era com certeza uma péssima ideia, o trabalho de convencer as outras piratas a aceitarem ela na tripulação era demorado, e as possibilidades de a rejeitarem eram imensas. Uma pessoa com o mínimo de neurônios responderia um belo e educado não, era a única opção segura disponível, mas eu não podia simplesmente negar esse pedido encarando aquele olhar entusiasmado.
- Tudo bem, vou ver o que posso fazer. - Eu com certeza estava ferrada.
Estava insegura sobre perguntar as coisas que ela queria esquecer, então não o fiz, algo me dizia que em algum momento eu ia saber.
- No que precisa da minha ajuda? - Ela perguntou curiosa.
Expliquei tudo que sabia sobre o plano para ela, confiando que Zaya não contaria para ninguém. A princípio precisaria de ajuda para a fuga, e para vigiar os corredores. O plano estava pronto, a confirmação da ajuda de Zaya me deixava otimista. Conversamos ainda sobre inúmeros assuntos até eu finalmente me lembrar de voltar a pousada anterior, era simplesmente incrível conversar com ela, eu sempre me perdia no tempo. Tirando a parte de convencer a capitã, era bom saber que Zaya estaria comigo no navio. Eu me identificava com ela de alguma forma, mesmo sem a conhecer direito sentia um grande carinho por ela.
Voltando a pousada sem chamar atenção encontrei Aika me encarando logo na porta do quarto que estávamos usando.
- O que você foi fazer?
- Ah eu disse que ia procurar algo que nos ajudasse no plano.
- E encontrou? - Perguntou a mulher de olhos cerrados.
- Encontrei. - Respondi, sem hesitar. - Tem uma entrada de funcionários pelos fundos, podemos a usar para entrar.
A expressão da moça indicava dúvida, talvez ela estivesse pensando se acreditava em mim ou não. Se virando para entrar novamente no cômodo ela parecia ter aceitado minha resposta sem questionar. Entrei logo depois dela, encontrando minhas outras companheiras lá dentro. A ruiva agora limpava a arma, como em todos os momentos que parava para pensar. Jeanne encarava a janela sem piscar, sempre observando os arredores para nos deixar livre de perigo.
- E então? - Sadie perguntou, ainda sem tirar os olhos da arma.
- Entrada de funcionários, acredito que seja uma boa ideia a usar para invadir a mansão.
- Me parece uma boa ideia. - Jeanne respondeu encarando a janela. - Por que demorou tanto? - Perguntou perplexa.
- Eu estava observando o lugar, tentando encontrar brechas para arrumar um aliado.
- E encontrou? - Sadie perguntou.
- Provavelmente sim, mas ela vai querer algo em troca.
- E o que seria? Dinheiro?
- Na verdade é mais complexo que isso, mas eu pago depois. - Respondi, ainda pensativa sobre o que devia fazer em relação ao pedido de Zaya.
As piratas pareceram não dar importância a minha fala, e agradeço mentalmente por isso. Deixar essa questão para resolver depois era uma opção questionável, mas a mais aceitável no momento. Agora tudo que tínhamos que fazer era esperar a noite cair por completo, e então atacariamos. Eu estava completamente tomada por um senso de justiça incomum, pensativa e ansiosa sobre novamente encarar o homem de cavanhaque grisalho e avisá-lo sobre sua sentença. Finalmente tinha o pré sentimento de que tudo acabaria.
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Em um mar de estrelas
Adventure═════════ ❃ ═════════ Jade Fonseca, uma garota de família nobre. Tudo para ela era como num livro chato sobre casamentos, leis e tédio. Seu pai era como o mocinho, sempre fazendo o que acreditava ser o certo, um homem de coração bom. Talvez ela esti...