A cada hora que passava meu coração estava mais tomado pela ansiedade, batendo como se pudesse parar a qualquer momento. Esperávamos a chegada da hora certa concentradas em como faríamos tudo. Sadie ainda limpava a arma, Jeanne e Aika permaneciam vigiando as ruas perto da mansão pela janela, e eu repassava o plano com todas elas a todo momento. Precisava pensar em como falaria sobre Zaya e seu pedido, me parecia uma péssima ocasião e ainda sim ficava mais nervosa por ter que contar depois. Então eu simplesmente contei tudo que sabia sobre aquele homem e suas façanhas, recebendo algumas críticas por não ter contado antes mas nada pior do que achei que seria.
- E a minha aliada pediu... Bem, pediu para se juntar a tripulação. - Disse, encarando as faces incrédulas e surpresas de todas no cômodo.
- Como disse?
- Ela pediu para que fosse junto comigo.
- E para que? Jade, sabe que não podemos aceitar isso.
- Sim, eu sei mas pense bem, ela aceitou ajudar piratas a sequestrarem um homem da elite.
- Pode até ser, mas não podemos confiar nela, nem a conhecemos. - Respondeu Aika num tom sério, me lembrando então o quanto eu mal conhecia Zaya.
- Não temos mais espaço na tripulação, é quase impossível isso acontecer, a capitã nunca aceitaria.
- Não se preocupe, vou falar com a capitã sobre isso assim que pisarmos naquele convés. - Terminei, saindo do cômodo logo em seguida.
Andei rápido até a frente da pousada, esperando minhas companheiras e tentando fugir de suas perguntas. Na escuridão daquela noite encontramos Zaya no portão dos funcionários, prontas para iniciar o plano. Silenciosas, sutilmente adentramos a imensa casa logo depois de atravessar o terreno. Os espaços estavam vazios, assim como Zaya tinha dito que estariam anteriormente. A decoração da casa estava diferente, tinha algo fora do normal em todos aqueles quadros caros, mas não sabia dizer o que era. Tudo estava calmo, e eu agradecia silenciosamente por isso. Graças aos inúmeros passeios dados pelo terreno e pela mansão eu conhecia cada canto como a palma de minha mão. Tudo era extremamente familiar.
Assim que chegamos a porta do escritório vi Zaya confirmar a presença do dono da casa colocando o ouvido sob a porta branca. Fitei as faces de minhas companheiras e com o sinal delas me aproximei da fechadura para a abrir. Num ato rude abri a porta, fazendo Brianchi rapidamente encarar nossos rostos. Sua expressão aterrorizada me dizia que aparentemente o homem entendia o que o aguardava. Com a arma de Sadie apontada para o meio de sua testa ele levantou as mãos em sinal de rendição, enquanto eu e Jeanne nos aproximamos para prender suas mãos.
- Que bom rever o senhor, espero que esteja tudo indo bem por aqui - Disse encarando os olhos aterrorizados de Brianchi. - Eu disse que ia voltar, não disse?
- Andem logo com isso - Alertou Zaya enquanto vigiava o corredor.
Saímos do cômodo e percorremos todo o caminho até o portão de saída com o homem a nossa frente, sempre o segurando pelos braços para que não fugisse. Aika nos seguia vigiando nossas costas enquanto Zaya abria caminho pela frente nos desviando de qualquer obstáculo. Sadie tinha apenas o trabalho de assegurar que Antônio não fugisse, apontando uma arma para a base das costas de Brianchi o conduzindo. Em pouco tempo estavamos fora da mansão, ainda perto do portão dos funcionários. Uma carroça nos esperava a fim de nos levar ao navio. Colocamos o homem de joelhos nela, cobrindo seu rosto com um saco de fibra que encontramos e assim partimos. Tudo conforme o planejado.
Eu observa as ruas pelas quais passávamos com o máximo de atenção possível, e por sorte não havia ninguém em nenhuma delas. Minha mente rodava em lembranças antigas sobre sensações parecidas com a que eu sentia naquele momento, mas nada chegava perto. Aquele sentimento de dever comprido pela promessa que fiz para o traídor era insuperável. O ambiente em minha volta encorajava ainda mais esse sentimento. Vi as barracas de vendas aumentarem de quantidade a medida que chegavamos mais perto da praia, por sorte sem haver nenhuma pessoa.
Já na praia eu escutei vozes vindas de fora di veículo, mas eram longe demais para me preocupar. Subimos no bote e pude ver Aika e Jeanne remarem rumo ao navio. Zaya me fitava aparentemente preocupada com sua situação atual, parecia com um leve medo do que as piratas fariam com ela. De novo eu tinha a certeza que ia fazer o que fosse preciso para a proteger. Algo nela era familiar para mim, isso a fazia importante em minha vida, por mais que mal a conhecesse. Poucas pessoas me importavam, mas ela era uma delas.
Quando estávamos na metade do caminho pude ver Eleonor apoiada na beira do navio, visivelmente olhando para onde estávamos. Seu cabelo loiro refletido pela luz da lua a fazia parecer ter fios quase brancos. Chegando mais perto pude a encarar com mais detalhes, foi então que percebi a presença de outras duas mulheres com ela. Depois de jogar uma corda nos ajudaram a subir a bordo do Sereia Escarlate, tratando Brianchi nem com um terço da delicadeza que nos foi dada. Por último Zaya subiu, encontrando as orbes verdes da capitã sob ela. Eleonor não disse uma palavra, apenas olhou para Sadie e então com seu sinal me encarou por alguns segundos. Algo me dizia que teria que resolver mais tarde. Fitando rosto por rosto a loura parou seu olhar sob o homem de rosto coberto, tirando o objeto que o cobria em seguida.
- Até que enfim pude lhe conhecer pessoalmente Sr. Brianchi, em outras circunstâncias eu até apertaria sua mão. - Vi o sorriso que permanecia anteriormente no rosto da loira sumir no momento que ela terminou. - Mas eu não comprimento traidores.
O levaram para o centro do convés, o prendendo no meio do navio. A capitã fitava Zaya perplexa, mas não dizia nada, parecia intrigada. Já Zaya enrijecia a postura cada vez que isso acontecia, ela visivelmente se sentia intimidada pela capitã. Outras piratas se aproximaram de onde estávamos aos poucos, todas permaneciam com a mesma expressão enquanto encaravam Brianchi, o que me dava uma leve dó do que fariam com ele.
Vi a moça ruiva que me acompanhara na missão se aproximar do homem lentamente.- Por que ficar de cabeça baixa senhor? Não me diga que está com medo. - A escutei dizer num tom provocativo. - O grande senhor Brianchi está com medo de meras bandidas? Não me faça rir. - Sua gargalhada ecoou pelo silêncio do convés em seguida. - Este não me parece o homem que foi capaz de trair o próprio amigo, para onde foi toda a sua coragem?
Sussurros e conversas paralelas calaram qualquer silêncio antes existente ali, mas tudo sumiu quando Jeanne começou a falar.
- Aqui temos o pior tipo de ser humano, o que é capaz de trair os próprios aliados por dinheiro. - Enquanto ela encarava os olhos de Antônio Brianchi vi uma raiva incomum nos olhos da moça. - E ele ainda se coloca em um patamar acima de nós, acha que é melhor do que nós.
Escutei risos e gargalhadas por todo o convés, até uma outra pirata começar a falar.
- Um membro da elite, alguém que nunca seria sequer desconfiado, quem dirá julgado. - A morena começou, passando seus olhos escuros por todos os rostos ali presentes. - Mas aqui temos leis que nunca falham, as leis do mar julgarão esse homem como culpado ou não. O que vocês acham que devia acontecer com ele?
Os sussurros retornaram, mas logo se tornaram mais altos, unificando-se num único som. "Execução" era o que todas gritavam em união. A capitã Eleonor caminhou até o prisioneiro, calando assim qualquer voz a sua volta. O respeito que todas tinham por ela era incrivelmente único, nunca jamais tinha visto algo como aquilo. A loira agachou para ficar do mesmo tamanho que o homem, encarando bem os olhos de Brianchi nesse meio tempo. As orbes verdes da capitã me intimidavam até quando ela sorria, por isso eu não conseguia imaginar o terror que aquele homem sentiu naquele momento.
- Bem vindo a bordo senhor, espero que esteja confortável, aproveite bem o seu passeio. - Escutei a capitã dizer, e terminando logo depois de arrumar seu chapéu sob a cabeça. - Porque vai ser o último. - A loira ameaçou se levantando em seguida.
Gritos e comemoração brutas foram escutados pro todos os lados. As leis que piratas tinham apesar de poucas eram absolutas, nada estava acima delas. Trair aliados por dinheiro era um crime imperdoável, ainda mais quando isso acontecia ao homem que pagava o salário dos bandidos do mar. Eu não sabia se aquilo estava mais como justiça ou vingança, mas meu coração estava sereno por saber que Antônio Brianchi finalmente pagaria pelo que fez com meu pai.
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Em um mar de estrelas
Aventura═════════ ❃ ═════════ Jade Fonseca, uma garota de família nobre. Tudo para ela era como num livro chato sobre casamentos, leis e tédio. Seu pai era como o mocinho, sempre fazendo o que acreditava ser o certo, um homem de coração bom. Talvez ela esti...