O proprietário da biblioteca e contos de fadas

221 9 2
                                    

Capítulo 55
"E ele me pegou com um movimento fluido e me deitou de costas na mesa.
...
Rhys tirou os lábios de minha boca, foi até meu pescoço e ali roçou os dentes e a língua pela pele conforme deslizou as mãos por baixo de meu suéter e..."

Desvio o olhar do livro e observo o dono da biblioteca passar por mim. Ele acena. Já me conhece de vista de tanto que passo meus dias aqui. Eu aceno de volta enquanto minhas bochechas esquentam pelo que eu estava lendo e o que vi quando desviei o olhar.
Ele é no mínimo extremamente lindo. Alto, magro com músculos firmes, cabelos castanho claro ondulados, olhos azuis, lábios finos e nariz reto. 

Cruzo minhas pernas e volto a tentar ler o livro.
Depois de instantes e uma mísera tentativa de me concentrar novamente, decido que não vou conseguir terminar de ler aqui. Fecho o livro para levar para casa, mas não quero sair da biblioteca ainda. Não com o dono aqui. Resolvo ir procurar outro livro pelas infinitas prateleiras desse lugar.
Vi o dono ir em direção a parte de trás da biblioteca, em direção ao arquivo, eu acho. Então vou na direção das prateleiras mais próximas de onde ele deve estar.

Chego na seção de "contos de fadas" onde encontrei a maioria dos livros de fantasia feérica que li, inclusive o que eu estava lendo a poucos minutos atrás, se é que pode-se chamar isso de contos de fadas.
Uma porta se abre a esquerda de onde eu estou e sr. Hiddleston sai por ela, magnífico como sempre. Ele me olha e vem na minha direção. Fico completamente imóvel. Finjo ler a sinopse do livro mais próximo da minha mão que alcancei na estante. Consigo ver ele se aproximando pelo canto do olho.

- Você vem muito por aqui. - Ele fala quando chega próximo o bastante. - É difícil encontrar pessoas tão interessadas em ler hoje em dia. O que está segurando?
Ele está falando comigo e eu preciso processar por um segundo o fato de que eu tenho que responder.
- É... hm... é um livro de fantasia. Estou tentando achar alguma coisa nova para ler. Já li quase todos dessa seção.
Ele estende o braço até a prateleira mais alta me dando tempo suficiente para o olhar de perto, e então agarra um livro em meio aos seus longos dedos e o analisa.
- Já tentou esse? - Ele estende o livro para mim.  Eu pego e encaro a capa dura e preta com letras prateadas que mesclam em direção a um dourado conforme caminha pelo título. Parece antigo e é lindo. Nunca tinha lido, nem ao menos o tinha notado.
Balanço a cabeça em negação respondendo a pergunta que ele me fez.
Minhas bochechas estão super quentes e imagino que estejam tão vermelhas quanto. 
- Bom, perdoe minha intromissão. Fique a vontade para continuar sua busca por novas leituras, e diga a bibliotecária que eu deixei você levar os livros que quiser por tempo indeterminado. Não se preocupe com taxas... Até mais... como se chama?
Percebo que ele está me fazendo uma pergunta, mas não tinha entendido de fato. Por um instante me perdi encarando seus olhos penetrantes.
- Sim... É me chamo Cordelia.
- Foi um prazer, Cordelia.
Ele se afasta e noto agora o quão desconfortável eu devo o ter deixado.
Num impulso que eu mesma não sabia que tinha vou atrás dele, que agora já está atravessando a biblioteca. Com pernas daquele tamanho não deve ser tão difícil.
- Tom... É sr. Thomas... Quer dizer, sr. Hiddleston... - Sinto que minha língua não obedece mais ao meu cérebro e, por um instante, quase tropeço tentando alcançar ele. -  Obrigada por... pelos livros e a... pela indicação. Muita gentileza de sua parte. - Inclino levemente a cabeça em agradecimento. Respiro e tento dar um leve sorriso.
Ele me olha com uma leve surpresa e parece sorrir ao notar minha confusão.
- Não foi nada, querida. - Seu sotaque e sua voz são extremamente penetrantes e envolventes.
- Obrigada pelos livros, mas eu realmente prefiro ler a maioria deles aqui. A biblioteca me deixa muito confortável.
Ele me observa por um instante então acena levemente com a cabeça, sorri e sai.

Corro direto para o banheiro da biblioteca quando já não consigo mais ver ele. Preciso de ar.
São 20h45 da noite. O tempo voa quando estou aqui.
Saio da biblioteca com o livro que estava lendo e peço para Vivi, a bibliotecária, reservar aquele outro que sr. Hiddleston me indicou.

Chego em casa com nada diferente do que eu havia deixado. Tudo tranquilo num bairro mais tranquilo ainda. Não tenho muito o que fazer então deito e abro o livro que trouxe comigo.
Enquanto a cena que eu lia passa novamente por meus olhos, com Rhys e Feyre assumindo sua parceria em um frenesi de tintas e corpos, sinto um leve formigamento no fim da minha barriga, continuo lendo e imagino sr. Hiddleston na cena.
Acabo fechando o livro e o guardando. Ele é muito mais velho que eu e por mais que a ideia não me assuste nem um pouco, é simplesmente impossível que ele se interesse por mim. Não tem porque nutrir uma vontade impossível. 
Sr. Hiddleston parece saber o que quer, centrado e seguro de si. Além de rico. Não iria querer uma garota de 20 anos com hábitos um tanto infantis, entrando em sua vida para acrescentar... Nada. Não conseguiria acrescentar nada na vida dele.

 *

Acordo às 5h da manhã. Não gosto muito de dormir. Moro sozinha em Londres a quase dois anos e ainda aproveito para fazer tudo o que não fazia quando morava com minha família, então saio para correr. Amo essa parte da manhã.
No caminho, passo pela biblioteca. Faz cinco dias que sr. Hiddleston falou comigo pela primeira vez.
Depois de quase uma hora correndo pelas ruas silenciosas do fim de uma noite em Londres, volto para casa.
Trabalho de casa como correspondente para algumas agências. Me mudei para Inglaterra apenas com minhas economias de anos atrás. Queria algo diferente para minha vida e isso incluía não viver até morrer em uma cidade chata, movimentada demais e com memórias ruins que ameaçavam me sufocar todos os dias. 
Minha casa não é grande. Meu emprego me dá uma boa renda mas nem tanto. É o suficiente para eu pagar minhas despesas essenciais. Não tenho televisão, meu celular é péssimo e quase não tenho eletrodomésticos, apenas o necessário. Mas não me incomoda. Eu preciso apenas de luz solar, uma casa iluminada, livros e pelo menos três lugares para sentar confortavelmente enquanto os leio.

No fim do expediente cogito ir na biblioteca. Dá última vez que fui peguei alguns livros e preciso devolvê-los, por mais que o proprietário tenha me dado permissão de ficar com eles. Eu já terminei de ler e acabei não avisando Vivi de que tinha... Passe livre?
Prometo a mim mesma que amanhã eu vou. Quero tentar ver sr. Hiddleston mesmo que de longe. Quero e não quero. Eu fiquei muito fora de mim, não consegui me manter normal perto dele e não gostei de sentir isso. 

Uma ou duas histórias a maisOnde histórias criam vida. Descubra agora