Para onde vou quando fujo?

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Eu e Vivi passamos o dia nos entupindo de líquidos cafeinados e tentando ficar acordadas. Saio da biblioteca antes das 20h, que segundo Vivi, é quando tem mais pretensão de sr. Hiddleston chegar. Não quero que ele me veja assim.

Assim que saio, recebo um ligação:

- Delia, você o perdeu por apenas alguns minutos.

Fico estranhamente atordoada como assim "EU O PERDI?"

- Vivi, como assim eu o perdi? O que aconteceu?

- Meu deus como você é desesperada, ele acabou de chegar, depois de alguns minutos que você saiu.

- Mas ele está com alguém?

- Por que?

- Me diga logo Vivi, ou vou ter que voltar agora pra verificar?

- Então essa é a face do amor hoje em dia? - Ela diz, soando poética - Não, ele está sozinho.

Sinto uma vontade imensa de voltar lá apenas para poder olhar para ele, me sobe um frio na barriga.

- Eu volto?

Vivi não responde.

- Já estou longe e estou cansada, o verei outro dia... - Continuo, tentando me convencer.

- Tudo bem Delia, tudo bem se sentir assim.

- ...

Depois que desligamos, me sinto oca.

Começo a correr pela rua, não sei onde estou indo, meu coração bate forte. Não posso continuar assim, não posso. Não entendo o que estou sentindo e está me corroendo. Minha cabeça gira conforme corro por ruas e mais ruas, passo por casas, pessoas, vidas, tudo está girando. Me concentro nos meus pés e no vento gelado soprando em meu rosto.

O que está acontecendo dentro de mim? Corro como se não tivesse mais tempo de vida, apenas o suficiente para chegar perto dele. Como se ele fosse exatamente o meu ar.

Corro. Corro sem saber pra onde. Minha visão está muito borrada e me falta o ar, mas coloco a culpa desse no exercício e na noite mal dormida.

Quando percebo, estou na porta da biblioteca e entro correndo. Deve ser 22h agora. Vivi não está mais no balcão de entrada. Começo a correr pelos corredores da biblioteca agora na penumbra do anoitecer. 

Por que estou fazendo isso? Não aconteceu nada entre a gente. Ele está sendo só gentil. Não deve ter nem a metade dos sonhos que eu tenho com ele. O que estou fazendo nesse lugar? Nesse horário? Fazem mais de 24 horas que não durmo, mas então, por que sinto que não vou conseguir dormir se deitar? Preciso vê-lo, sentir seu cheiro, nem que seja a quilômetros de mim.

Estou cansada, tão cansada, mas a ideia de voltar para casa sem o ver... me deixa vazia e com vontade de arrancar minhas entranhas. Sinto um aperto no centro do meu... no centro do meu corpo.

Não sei nem se ele está aqui ainda. Começo a procurar.

Meus pensamentos são interrompidos abruptamente. Estou suada e arfando. Meus cabelos despenteados e minha olheiras agora roxas e vermelhas no reflexo de um estante espelhada. Comecei a chorar em algum momento, não me lembro qual, minha visão ainda turva me faz ver as estantes de livros curvas, se mexendo levemente. Por que estou aqui?

Começo a reparar ao meu redor. A biblioteca está como da primeira vez que saímos daqui de madrugada. Nem um barulho. Vou em direção a Ala Demetrificada. Ele me deu uma cópia da chave dos portões.

Ninguém, ninguém. Nem mesmo um inseto para me fazer companhia.

Começo a olhar os livros a minha volta, aqueles que deixamos separados para tentar decifrar a Ala. As xícaras ainda estão lá, empilhadas do jeito que deixamos na mesa principal.

É como voltar para o último dia em que o vi. E não sei como me sentir, não sei se devo sentir. Estou certa? Errada? Apressada? Desesperada? O que eu fiz ontem? Por que via ele? Algo gelado desce escorrendo pela minha bochecha e caminha por baixo da minha blusa. Água. Não, não água. Passo as mãos em meus olhos e estou chorando. Por que?

Estou tão cansada, não quero mais sentir o que quer que isso seja. Eu quero apenas continuar em minha paz segura, sozinha. De onde vem essa... dor? Meu olhos se fecham por um breve instante, um ar gelado parece acompanhar minhas entranhas. Não quero sentir. Estou tão cansada...

*

Sinto um movimento involuntário percorrendo meu corpo, me elevando. Meu pescoço inclina para trás. Um calor percorre meu corpo. Não consigo abrir meus olhos, estou tão cansada.

Ouço sons de alguns carros e um leve motor ronronar. Sinto meu corpo balançar. Não sei o que está acontecendo, mas não tenho forças, nem animo para tentar entender. 

Meu corpo movimenta de novo involuntariamente. Sinto um vento gelado e depois um calor bem vindo. Não consigo abrir meus olhos.

Uma ou duas histórias a maisOnde histórias criam vida. Descubra agora