"Partes diferentes e ainda assim iguais"

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- O que achou da seleção de livros da ala, Cordelia? - Sr. Hidldeston me diz com aquele sotaque que só o deixa mais sexy, enquanto caminhamos até a sala.

- Os livros são tão... estonteantes como a sala, e a pintura no teto. É perfeito. Foi perfeito.

- Vai ser perfeito - Ele diz.

Acho que vermelho é o novo tom normal das minhas bochechas. Ao lado desse homem não consigo parar de me sentir queimando. 

Arranho minha garganta tentando me recompor e pergunto:

 - Do que se trata a pintura no teto, sr. Hiddleston?

- Há muitas histórias sobre a pintura. A maioria dos livros que a tentam explicar estão na Ala Demetrificada. Acredito que cada um que a presencie deva tirar suas próprias conclusões. Algo me diz, Cordelia, que caso você se interesse, o que entender será o mais próximo da verdade decifrada por mim até hoje...

Meus olhos brilham. Sei muito bem ser enxerida e investigar tudo. Falar em mistério perto de mim é um golpe baixo. Olho para ele, ainda reluzente com as informações que ele compartilhou comigo. A menção de um possível mistério me provoca.

- Então o lugar se chama Ala Demetrificada. - Falo para mim mesma, pensando alto - Imagino que possa ter a ver com a pintura...

Chegamos a ala. Ele abre os portões para eu passar na frente. Tão cavalheiro que chega a doer os ossos.

- Notei que ontem você estava lendo 'Conto dos Ventos Uivantes'. Gosta de romances?

- Eu gosto de romances, mas não são meus favoritos. Com 'Contos dos Ventos Uivantes' é diferente. Sinto como se algo me atraísse para dentro da história daquelas pessoas. Como se eu fosse parte... como se eles e eu fossemos...

- Como se fossem você mesma, em partes diferentes e ainda assim iguais, divididos em uma guerra interna onde não há vencedores nem perdedores...

Sinto vontade de agarrá-lo! Foi exatamente o primeiro pensamento que eu tive quando li a obra, e o mesmo que continuei tendo em todas as vezes que reli. 

Observamos um os olhos do outro como se fizéssemos parte de uma galáxia distante, onde só nós dois habitamos em perfeita harmonia. Sem falar nada, nos entendemos. Abro um leve sorriso e abaixo meu rosto um pouco envergonhada.

- Fiquei intrigada quando citou a pintura e a história dela... - Digo tentando pensar em outra coisa.

- Começaremos agora então. - Ele fala e parece tão entusiasmado quanto eu. Aponta para a parede ao lado - Eu me encarrego de pegar os livros em níveis mais elevados, e você conforme sua intuição falar, escolhe os outros.

Me dirijo a parede leste da sala, enquanto ele se dirige a norte.

- Conte-me, Cordelia, como veio parar em Londres?

- É uma longa história curta... Eu nasci e cresci muito longe daqui, me formei jornalista e juntei dinheiro suficiente para poder fazer uma última loucura antes de me estabelecer em outro lugar novamente, longe de casa. - Explico enquanto leio os títulos de alguns livros e vou os separando.

- Estava pensando em Itália ou talvez Escócia para morar. Empacotei tudo o que tinha de mais importante, deixando apenas meu cachorro para trás com minha família e fui para o aeroporto. - Conforme conto minha história meus pelos se arrepiam. É difícil voltar no tempo e relembrar tudo o que deixei para trás. - Tinham voos para Itália e Escócia no dia seguinte, mas eu temia que se esperasse mais um dia, voltaria arrependida para minha casa e desistiria. Então resolvi pegar o voo mais próximo. Inglaterra. - Lembro-me do desespero de estar fazendo uma coisa tão louca e sozinha, vindo para um lugar sem ninguém, sem nada.

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