Passado à espreita

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Desço as escadas e olho para Drevon que está dormindo em um colchão na sala espalhado e espaçoso, ou o mais próximo de esparramado que uma pessoa do tamanho dele consegue estar. 

Seu cabelo é raspado rente a cabeça e sua pele ainda está bronzeada do sol, apesar de nem sempre ter sido assim. Se minhas contas não falham, Drevon fez 37 anos. Ele está com uma calça branca e sem camisa. Não é esguio e com músculos definidos como Tom. Drevon é muito musculoso e grande demais. Daqui consigo ver o volume em... suas calças. Sei que não deveria estar pensando sobre isso, mas me chamou atenção. 

- Vai ficar me olhando até quando? Não sou fácil. Você precisa me levar para jantar primeiro. - Ele diz tudo isso de olhos fechados.

Começo a rir alto. 

- Ah, por favor. Não é como se eu estivesse te comendo com os olhos. - Digo ficando vermelha. Atravesso a sala rapidamente e começo a fazer um café.

- Era exatamente o que você estava fazendo. - Ele diz com um olhar... um olhar de quem... Bom, não tenho tempo para pensar nisso. 

- Acho que não vou sair daqui, Cordelia, sinto muito. 

- Que?! Você quer morar comigo? - Acho que ele está brincando, mas a ideia me deixa um pouco atordoada. O que eu falaria para Thomas? O que falaria para Drevon de Tom e de Tom para Drevon? Minha mente dá um nó. 

- Isso. - Ele responde - Você faz café e me trás na cama. De graça! Não, não quero sair daqui mesmo.

Ambos rimos e eu me sinto um tanto aliviada. Me sento com ele no colchão e ofereço uma xícara de café. Não tenho televisão, então apenas observamos o nada às 7h da manhã. 

A situação toda me lembra de quando cheguei em Londres há um pouco mais de 2 anos. Já tinha me estabelecido na casa que estou hoje. Na época, ela era apenas verde por fora, sem desenhos. Lembro de quando cheguei aqui pela primeira vez. Havia uma pequena entrada com gramado verde na frente da casa. Subi os três degraus em direção a porta de madeira da entrada e abri.

Observei um espaço grande com duas janelas amplas viradas para a rua. 

Olhando para o lado esquerdo, vi a pequena cozinha e no final do espaço aberto a direita uma escada que levava para o "andar de cima" que é um corredor onde hoje fica meu quarto e o banheiro quase do mesmo tamanho que o quarto. Era isso. Aconchegante e fácil de morar. Tudo que eu queria. 

A casa estava sem ninguém há meses. Aparentemente um casal de idosos morava aqui e depois que eles faleceram não restou ninguém na família para ocupar o lugar. 

Todos os dias depois que cheguei em Londres eu saia para comprar algumas coisas que se mostravam essenciais no decorrer do dia a dia morando sozinha. Eu não estava conseguindo me adaptar, na verdade, estava cogitando desistir de tudo, abandonar tudo.

Na noite em que conheci Drevon eu tinha desistido. Estava testando o universo. Queria ver até onde eu iria, para ver até onde ele chegaria para me salvar. Minha vida não era mais uma vida, de alguma forma eu tinha me colocado no lugar mais profundo de escuridão na minha mente. Nada mais me prendia aqui, na realidade

Era uma sexta e eu estava quase começando a chorar pela centésima vez me arrependendo de ter vindo para Inglaterra. Resolvi sair e esquecer de tudo. Nessa noite eu conheci Drevon.

Ele estava com um grupo de motoqueiros, todos parecidos. Excesso de couro, excesso de caveiras e excesso de músculos e homens mais velhos com barbas grandes e bem feitas.

Gostei da visão. Depois de quatro drinks dos que mais deixam a pessoa desequilibrada cheguei perto deles. 

- Qual de vocês quer acompanhar uma bela dama para casa, cavalheiros? - Não queria falar "oi" e no fundo realmente queria que algum deles me acompanhasse e fizesse eu esquecer de tudo por uma noite, ou para sempre, não fazia ideia de quem eles eram e poderiam muito bem ser qualquer tipo de criminosos. Mas, era melhor do que encarar minha casa vazia por mais uma noite. 

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⏰ Última atualização: Aug 06, 2021 ⏰

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