Impulsos que geram ações... previstas?

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Não consigo dormir. São 3h da manhã e não consigo descansar minha mente. Estou agitada já faz um tempo. Tento me convencer de que não é pela visão de sr. Hiddleston e seu olhar penetrante e belo, como um universo azul que parece me passar uma mensagem secreta de que tem algo a mais para me dizer.
Tento ignorar o pensamento, mas ele não sai da minha cabeça. Seu rosto, seus olhos brilhantes, sua boca fina e úmida, seu corpo esguio com músculos facilmente perceptíveis através das camisas sociais e sua mão com dedos perfeitamente longos. Imagino como ele deve ser sem blusa, ele é tão alto... Ainda na minha cama, começo a descer a mão pela barriga, imagino ele me entrelaçando entre seus longos braços, sussurrando em meu ouvido com sua voz envolvente, me puxando para perto. Me sinto formigar, a sensação é boa. 

Por algum motivo penso em como vou reagir quando ver sr. Hiddleston novamente sabendo o que se passa em minha mente envolvendo ele, então paro.

Resolvo levantar. Não consigo dormir então não tem porque desperdiçar mais tempo na cama. Enquanto me visto, observo minhas coxas grossas, minha barriga não tão reta e meus pequenos traços do tronco para cima. Me pergunto se ele gostaria da visão.

Preciso voltar a biblioteca. Hoje mesmo. Estou me corroendo por dentro com todos esses pensamentos. 

                                    *

Chego por volta das 20h na biblioteca, próximo do horário em que encontrei ele da outra vez.

- Boa noite, Vivi. Vim devolver uns livros.

- Oi, Delia. Tudo bom? Achei que não te veria por mais um tempo...

- Por que? - Ela está insinuando alguma coisa, ainda não sei o que.

- Oras, sr. Hiddleston não te deu um tipo de "passe livre"?

Sinto que fico vermelha e Vivi parece se divertir com a situação.

- Ele te disse isso? - Pergunto. - Sabe se esses passes são... comuns? 

- Não são comuns. - Ouço uma voz masculina responder. 

Congelo. Olho para Vivi que, agora, também está vermelha. Me viro rapidamente e olho para cima.
Sr. Hiddleston me observa com um leve brilho passando pelos olhos em sua postura perfeitamente elegante.

- Achei que demoraria mais para te ver, Cordelia. - Ele me fala.

- Minha presença não te satisfaz, sr. Hiddleston? - Pergunto.

Ele dá um leve sorriso de canto. Sinto um calafrio percorrer meu corpo.

- Achei que faria bom proveito dos livros em uma lugar mais... privado.

- Gosto daqui. - Respondo e o encaro avidamente. Não consigo conter um breve sorriso, com uma pitada de orgulho, por estar conseguindo falar sem gaguejar perto dele.

- E então, veio buscar mais livros? - Ele me pergunta e faz um gesto para que eu entre na biblioteca acompanhada por ele. Em seguida, acena em agradecimento para Vivi. Tão cordial e educado que sinto vontade de virá-lo para mim e... Bom, depois eu penso nisso.

- Na verdade, estava pensando apenas em devolver os livros que tinha levado.

- Bom, já que está aqui, deixe-me mostrar alguns livros que talvez você não tenha conhecimento sobre.

Confirmo com um gesto e seguimos pelo corredor central da biblioteca. Viramos em uma das prateleiras e continuamos reto até chegarmos em uma parte que eu já tinha visto na biblioteca, mas nunca entrado. Sempre fica fechada e está em um dos extremos desse lugar gigante.
Um portão de ferro muito alto guarda a entrada do local e depois uma porta maior ainda de madeira. O lugar é banhado por uma penumbra confortável, é aconchegante e parece pertencer a outra época.
Tem algumas poltronas espalhadas pela sala grande, uma mesa de chá com duas cadeiras próximas e, por fim, uma mesa principal muito grande mais próxima do fundo. Reparo nas paredes e percebo que todas, todas elas estão cobertas por livros de capa dura, alguns parecem de séculos atrás. Me maravilho com aquilo, livros de capa dura são como um... fetiche para mim. 

Corro para a parede mais próxima e começo a observar cada um dos títulos: 'The Alchemist'. 'Dorian Gray', 'Living'... é um... paraíso?

Me viro com cerca de dez livros entre meus braços, meus olhos estão atentos e abertos demais, não quero perder nenhuma parte dessa sala maravilhosa.
Ele sorri levemente, como se já esperasse minha reação e abaixa a cabeça por um momento. Eu gosto quando ele desvia o olhar de mim. Me dá tempo para o observar calmamente. 
Dou um passo inserto, sem saber o que fazer com tantos livros. Ainda com a cabeça abaixada ele me olha e sinto que vou desmaiar. Meus braços ficam um pouco moles. Já era o esperado com essa situação. Ele na minha frente, nessa sala, sozinhos, e eu carregando mais de seis quilos de livros entre meus braços...

- Deixe-me te ajudar com isso, Cordelia. - Ele chega perto o suficiente para que eu sinta seu cheiro. Fico vermelha. Sr. Hiddleston se inclina para mais perto, me olhos nos olhos e puxa os livros dos meus braços como se eles não pesassem nada. Tudo isso parece passar em câmera lenta.
- Obrigada, sr. Hiddleston. 
Ele apoia os livros na mesinha de chá.
- Sabe, Cordelia, não te trouxe aqui apenas pelos livros.
Meus olhos brilham. O que ele quer dizer?
- Esse lugar tem um valor especial para mim. - Ele continua - Mas gostaria que você a usasse se, se sentir confortável, é claro. Os livros desta ala não podem sair daqui e como você me disse que aprecia passar seu tempo na biblioteca, achei que gostaria de conhecer. Além disso, não me sentiria bem em deixar uma jovem tão... - Ele me olha como se procurasse a palavra certa para concluir a frase. - tão interessada, sem ter experiências mais estimulantes.
Foco na última palavra e na forma como ele disse. Forço para não arregalar os olhos. Deve ser coisa da minha cabeça.
- Mas, sr. Hiddleston, deve haver outras pessoas como eu... 
- Não. Não como você. E com certeza, não pessoas que tenham me contado sobre querer praticamente morar aqui, se possível.
Me sinto envergonhada, mas dou um sorriso para tentar compensar. 
- É muita gentileza de sua parte, mas como disse, essa ala tem um valor sentimental. Não poderia usá-la sem sentir que estou invadindo sua privacidade. 
- Então façamos um acordo. Caso você queira usá-la e ler os livros daqui, eu lhe acompanho. Faz muito tempo desde a última vez em que usei a ala também... - Ele olha ao redor. Parece saudoso.
- Não estaria atrapalhando seus planos, sr. Hiddleston?
- Não estaria, Cordelia, mas caso tenha algo para fazer, posso lhe avisar com antecedência. E é claro, mesmo assim, a ala estaria aberta para você.
- Então temos um acordo! - Não vejo a hora de despojar todas essas paredes. Abro um sorriso que chega aos meus olhos que devem estar radiantes porque os dele também brilham em resposta. Ele sorri comigo.

Olho ao redor da sala e continuo maravilhada, só então percebo o teto. É abobadado e muito além de onde eu possa alcançar, nem mesmo com quatro escadas uma em cima da outra, talvez com um elevador...

A pintura retrata uma cena. Parecem dois deuses. Uma mulher e um homem. A arte está muito envelhecida. Os dois parecem se enfrentar em uma batalha interior. Ambos os olhos ardem como chamas contidas. Os deuses estão sendo afastados um do outro, quase que arrastados, por pequenos e adoráveis anjos.
A mulher está com uma veste vermelha tão escura que quase parece preto, e o homem um verde escuro que parece brilhar. As duas figuras principais tem um corte gigantesco atravessando o corpo, desde o meio dos seios até o começo do umbigo e desse corte sai uma fumaça negra. Consigo enxergar, com um pouco de esforço, que eles estão ligeiramente sorrindo, é quase imperceptível, mas o sorriso muda a situação. É como se os dois soubessem que isso, a separação dos dois, pelos anjos aconteceria e eles não poderiam fazer nada, acho que por isso as chamas contidas no olhar. Está além do poder deles.

Quando desperto do meu devaneio, sr. Hiddleston está sentado na poltrona atrás da mesa principal, no fundo da sala. Uma mão dele está apoiada na têmpora e as pernas estão cruzadas da forma como homens geralmente cruzam. Ele segura um dos livros da Ala. Goethe pelo que me parece. Então ele gosta de poesia...

- Sr. Hiddleston, - Falo sem entender por que lhe chamei. Apenas disse o nome dele em voz alta sem motivo algum e agora preciso improvisar. Ele ergue o olhar para mim. - ... Se estiver tudo bem para o senhor... E não muito tarde... - Gaguejo muito. Acho que a qualquer momento minha língua pode tropeçar para fora de minha boca. - Posso ficar um pouco por aqui e... ler algum destes livros? 

Ele sorri devagar notando minha tensão e faz um gesto indicando para que eu me sinta a vontade.

Uma ou duas histórias a maisOnde histórias criam vida. Descubra agora