Efeito Borboleta

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Está frio, mas não quero me deitar. Não consigo novamente, não depois dessa noite, não depois dele tão perto.

Resolvo tomar uma ducha. A água escaldante me aconchega, e então lembro do calor confortável da sala em que fiquei com sr. Hiddleston à alguns metros de distância. Imagino ele vindo até mim, sussurrando meu nome em meu ouvido, sinto seu cheiro, como açúcar levemente queimado e fresco. Seus lábios passam levemente pela minha orelha, como uma carícia, me dando calafrios, a respiração dele balança fios do meu cabelo marrom, e então ele escorrega seus lábios, lentamente, para meu pescoço, estão gelados e o ritmo de sua respiração é o mesmo que a minha.

Escorrego minha mão pela barriga e outra sobe, o movimento me leva. Me imagino sendo erguida por ele, seus músculos saltados. Seus olhos encarando minha boca entreaberta com desejo. Suas mãos escorregam pelo meu corpo, em lugares sensíveis, ele me olha com as pupilas dilatas, com os olhos azuis agora quase completamente pretos. Faz o caminho da minha boca, descendo pelo meu pescoço, clavícula, até meus seios e depois de um tempo, me sinto leve e satisfeita. Termino de me enxaguar.

Durmo até às 8h da manhã neste dia. 

*

Minhas olheiras diminuíram um pouco, meus lábios ainda estão inchados pela manhã, levemente rosados, e meu nariz continua um tanto grande infelizmente...

Minha cabeça gira se perdendo entre os olhares de sr. Hiddleston, mal consigo me concentrar no que estou fazendo no trabalho. Mergulho num romance e não parece tão interessante quanto a vida real. Há muito tempo não me sentia interessada pela vida fora da minha mente.

Tomo uma ducha e começo a me arrumar, não tenho problema em parecer um tanto mais nova, ele já me viu assim das outras vezes em que passava por mim na biblioteca. Hoje coloco dois enfeites no rosto para substituir a maquiagem e faço uma trança em forma de coroa, presa em volta da minha cabeça. Coloco uma meia calça preta, um vestido preto dos mais básicos com pregas na cintura (não quero parecer muito arrumada só para ir na biblioteca), um suéter e um coturno antigo. Sr. Hiddleston é tão formal... não sei como ficaria ao lado dele.

Vou a pé para biblioteca, me dá tempo para pensar e ficar um pouco mais tranquila. Geralmente o caminho dura cerca de 40 minutos a pé, mas hoje vou bem mais lenta, chegando lá às 21h e com meus cabelos um pouco bagunçados e as bochechas e nariz rosados pelo frio londrino.

Entro no local e vejo Vivi... Vivi! Tinha me esquecido completamente dela.

- E então, Delia, por onde andou na noite passada? Não te vi sair da biblioteca... - Ela me olha com olhos serrados. - Curiosamente, também não vi sr. Hiddleston deixar o lugar. Tem algo a declarar sobre essa coincidência?

Eu começo a rir, não havia conversado com ninguém sobre o que tinha acontecido. Vou atrás do balcão e abraço Vivi.

- Ah, Vivi... a vida é bela, não é?

Ela da uma gargalhada um tanto alta.

- Você quer me ajudar por aqui enquanto me dá algumas explicações, senhorita? - Ela diz isso imitando levemente o sotaque de sr. Hiddleston e me faz dar mais risada.

Acho que os últimos três dias compensaram bastante alguns anos de solidão. Começo a empilhar alguns livros, e colocar outros em ordem alfabética na prateleira atrás de Vivi.

- Bom, depois que sr. Hiddleston me acompanhou pela biblioteca, ele me levou a uma sala que nunca tinha entrado, e você sabe que é muito difícil me controlar quando se trata de livros. Pois bem, essa sala tem paredes imensas cobertas de livros, é aconchegante, confortável, e tem uma pintura tão... ferozmente encantadora no teto abobadado. 

- Nunca entrei nessa ala mas sei onde é, sr. Hiddleston geralmente a deixa trancada - Vivi diz me olhando intrigada.

Dou de ombros e continuo, como se aquilo não tivesse feito eu ficar vermelha.

- É uma das coisas mais bonitas que já vi e então saí pegando vários livros, mas os livros não podem sair da ala, então sr. Hiddleston me ofereceu o lugar, falou que eu poderia usar sempre que tivesse vontade. Acontece que segundo ele, a ala tem um significado pessoal, então falei que não me sentiria bem de usá-la. Me sentiria enxerida.

- Como se ser enxerida fosse uma coisa nova para você, não é? - Ela diz com ironia.

- É sério Vivi, ele é o dono desse lugar!

- Sei... Continue.

- E então ele se ofereceu para me acompanhar enquanto eu lia os livros que quisesse e eu acabei adormecendo. No meio disso tive um sonho muito estranho. Quando saímos não havia mais ninguém aqui, já era muito tarde...

- Aposto que de todos os livros, você escolher um clássico que já leu mil vezes.

Meu olhar me entrega.

- Cordelia, vamos lá você precisa aprender a viver a vida, a se aventurar, deveria ler alguns livros diferentes às vezes.

- Sabe Vivi, você é uma grande, grande irritan...

Sr. Hiddleston chega atrás do balcão e acena para nós duas.

- Vivienne te colocou para trabalhar, Cordelia? Está encrencada... 

Vivi gargalha.

- Estávamos apenas conversando sobre alguns livros mais... inéditos, sr. Hiddleston.

Ele assente.

- Cordelia, a ala está aberta a sua disposição se, se sentir a vontade para explorar sozinha, fique à vontade.

- Oh, não sr. Hiddleston! Sua presença é essencial para uma boa exploração, ainda mais quando a exploração acaba em roncos...

Ele ri com um olhar divertido.

- Já que minha função de despertador é essencial, por favor - Com um sorriso de derreter qualquer pessoa ele acena para que eu lidere o caminho até a ala - Podemos ir.

Por um minuto fico parada, apenas o observando. Ele é lindo.

- Até mais Vivi. - Me despeço.

Uma ou duas histórias a maisOnde histórias criam vida. Descubra agora