Joguemos

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As pessoas são duplas: temos uma parte dominante e outra submissa. No BDSM a escravidão e a liberdade coexistem em seus participantes. A primeira se experimenta, a outra se sente.

O caminho do Bairro Francês até sua casa foi feito num sério silêncio. Alex comprou alguns pacotes de comida nas barracas de comida vendidas na praça Lafayette. E agora estavam jantando na mesa do terraço de seu quarto. Alex quis assim, e dispôs tudo ordenadamente. 

Piper continuava confusa pelo acontecido no banheiro do Pirate’s Alley Café. Na realidade, devia seguir as instruções da ama Alex; mas saber que ela estava assim por uma inverdade a fazia se sentir mal, porque foi ela quem criou a mentira. Talvez fosse melhor que soubesse que entre ela e Magnus não havia nada. Nada de nada. Mas tinha vergonha de revelar a verdade. 

A chefe escolheu alguns pratos crioulos para levar. A cozinha crioula da Luisiana misturava influência de diferentes partes do mundo: da africana e caribenha, da mediterrânea e francesa, inclusive com toques italianos. 

— Em Washington não cozinham igual — disse Alex enchendo o copo de vinho tinto. 

Piper cobriu sua taça com a mão e negou com a cabeça. 

— Ainda tenho absinto no corpo, senhora. Não gosto de vinho. 

Alex deixou a garrafa sobre a mesa, e a serviu de água. 

A estudou. Os focos de luz de seu terracinho de madeira iluminavam seu rosto e criavam um halo avermelhado ao redor de sua cabeça. Uma fada dos bosques sem seus duendes. 

E estava contrariada e preocupada. 

Como ama, tinha que fazer Piper entender que mentir para ela não ia conceder-lhe bons resultados em nada. Mas como Alex, porra, a pequena mentira a aborreceu além da conta.

Piper estava entretida olhando as momentâneas reformas que fez em seu jardim. A mesa maca com correntes, os chicotes, os floggers, os dois postes de madeira cravados como se fossem paus laterais de uma trave de futebol americano…

— Minha mãe tem a receita da melhor quiche de todo o estado — murmurou ela sem muito entusiasmo. —  Se pedir, enviaria para você recipientes com comida para um mês. 

— Gostaria de ver Patrícia. — Alex levou um pedaço de pimentão recheado à boca. —  Senti falta de suas raspadinhas quase todos os dias da minha vida.
 
— E ela sentiu sua falta. —  Exalou brandamente e pegou um pouco de salada de batata. —  Te adorava. 

— Sim. Provoco esse curioso efeito nas pessoas. 

— Normal, é uma boa mentirosa. 

— Como você. —  respondeu Alex com acidez. 

Piper lançou um olhar ressentido enquanto engolia e acompanhava com um pouco de água. 

— Segundo as leis de servos e dominantes, deve aprender a esquecer e não estender um castigo muito, equivoco-me, senhora? 

— O que devo, travessa Piper, é fazê-la entender que não deve mentir para mim sob nenhuma circunstância. Talvez não esteja levando isto muito a sério porque acha que é algo que não será duradouro. Mas, enquanto estiver comigo, tem que estar duzentos por cento em todos os sentidos. Como agente, como pessoa e como submissa.
 
— Você está? 

— Sim. É óbvio que sim. 

Ela ficou calada e continuou comendo em silêncio. Não acreditava que estivesse duzentos por cento. Quem estava? 

— Que tipo de relação tem com Magnus? — Alex tentou compreender a relação de Piper com esse cara. 

— Nada sério. Já disse isso. 

Dragões e Masmorras DSOnde histórias criam vida. Descubra agora