𝒞𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 15

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𝑆𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑎-𝑓𝑒𝑖𝑟𝑎,8 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑧𝑒𝑚𝑏𝑜 𝑑𝑒 2003

Eu havia pensado em tirar uma folga na segunda-feira, ou até mesmo em inventar alguma desculpa e faltar ao trabalho, para passar o dia na cama com Lee.

Se ele tivesse permanecido na cama, teria sido tentador demais voltar para debaixo das cobertas, mas ele se levantou quando fui tomar um banho. Quando desci, pronta para ir trabalhar, ele havia feito chá e preparado um sanduíche para eu levar para o trabalho.

- Não precisava, Lee - falei.

Ele me abraçou e me beijou.

- Pense na minha proposta - sussurrou ele, finalmente. - Se você não tivesse que trabalhar, poderíamos voltar para a cama.

- Não me provoque.

Lá fora estava úmido e ventando e ainda nem amanhecera por completo. A tentação de voltar para dentro de casa e passar mais um dia com ele era quase insuportável. Eu havia deixado a chave da porta sobre a mesa de jantar, de modo que ele pudesse trancar se quisesse dar uma saída. Isso me parecera totalmente natural; e eu já sabia que não a pediria de volta mais tarde. Tínhamos passado dois dias inteiros na companhia um do outro, dois dias incríveis e três noites de total felicidade. Nem um momento sequer de desconforto, embaraço ou discussão. Não se passara um único instante em que eu não me sentisse alegre com sua presença.

Não fazia nem dez minutos que eu chegara ao trabalho quando meu celular tocou: era Sylvia. Ela ficaria mais algumas semanas no emprego antes de se mudar para Londres.

- E ai?- falei. Como foi lá no Red Divine?

- Divino, querida - respondeu ela. - Mas sério, foi fantástico. Você E então, como é o lugar? perdeu.

- Olha, é simplesmente o máximo. Um monte de sofás de couro vermelho, tudo cromado e cheio de espelhos. E os banheiros? Meu Deus, você ia adorar, tinha flores e toalhas de mão decentes, e potinhos de creme hidratante. E aquele barman, se lembra do cara que trabalhava no Pitcher and Piano, aquele que achava uma graça? Como é mesmo o nome dele? Jeff? Julian?

- Jamie.

- Pois é, ele estava lá também, atrás do balcão. Todo o pessoal do bar usava chifrinhos de diabo. E bem acima do balcão eles mantiveram a antiga janela de vitrais da capela, com luzes por trás, ou seja, a gente toma um drinque dos demônios sob o olhar dos santos. Fantástico.

- Uau! Vai voltar lá semana que vem?

- Talvez. Provavelmente. Mas enfim, eu não liguei para falar sobre isso-dis se ela, e fez uma pausa dramática.

- O que é? Algo ainda melhor que a noite de inauguração do Red Divine?

- Muuuito melhor. Vou dar um jantar, só para os amigos mais próximos. Na casa da Maggie, não na minha, é claro, pois já comecei a fazer as malas e o meu apartamento está uma zona, não sei se vou conseguir sobreviver ali, mas enfim... Você vai poder ir?

- Quando vai ser?- perguntei, sem ter certeza se ela já mencionara a data.

- Próxima quinta. Você vai? Lá pelas sete.

- Claro que vou, não perderia por nada nesse mundo. Quer que eu leve al guma coisa? Uma sobremesa? Uma salada?

- O seu novo namorado - disse ela, afetadamente.

- Ah, acho que ele vai estar trabalhando- respondi.

- Ah.

- Mas vou falar com ele. Talvez ele consiga uma folga.

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