𝒞𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 27

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𝑆𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑎-𝑓𝑒𝑖𝑟𝑎, 2 𝑑𝑒 𝑗𝑎𝑛𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑒 2004

Minha felicidade ia e vinha como um sopro espectral. Durante todo o mês de janeiro meu estado emocional se alternava entre a expectativa de Lee volta dos seus períodos de ausência por causa do trabalho, cheia de saudades, e a vontade incontrolável de que ele fosse embora de novo 

Quando abri a porta, a primeira coisa que me veio à mente foi que Lee havia entrado na minha casa outra vez e mudado as coisas de lugar. Havia um cheiro, uma emanação que eu não sabia de onde vinha. A atmosfera ali dentro estava gelada, estranha. Gritei "Oi, Lee", mesmo sabendo que ele estava trabalhando, pois havia me enviado algumas mensagens mais cedo. No entanto, eu não descartava a possibilidade de que tivesse saído cedo para me fazer uma surpresa, então entrei cautelosamente na sala, para o caso de ele estar escondido em algum lugar, pronto para saltar sobre mim.

Não estava tudo revirado, como se espera de uma casa que foi arrombada. Foi só quando notei que meu notebook havia sumido, assim como o cabo da bateria, quando olhei para a porta dos fundos e vi que estava ligeiramente aberta, a tranca destruída por fora, como se alguém tivesse tentado perfurar a fechadura.

Peguei meu celular na bolsa e liguei para o Lee.

- Oi. E aí?

- Acho que alguém invadiu a minha casa.

- O quê?

- A porta dos fundos está aberta. Meu computador sumiu.

- Onde você esta agora?

- Na cozinha, por quê?

- Não toque em nada. Entre no carro e me espere lá, entendeu? Estou a caminho.

- Devo ligar para a polícia?

- Eu faço isso. Chego aí em um minuto. Tudo bem? Catherine?

- Ok, ok. Eu estou bem.

Sentada no meu carro lá fora, comecei a tremer e chorar. Não pelo computador.  Mas pela ideia de que alguém havia estado lá dentro, arrombando a minha casa e remexendo nas minhas coisas. Alguém que ainda poderia estar lá.

O carro da polícia chegou poucos minutos antes de Lee, e, embora eu estives se no meio do meu relato do que acontecera, Lee veio, cumprimentou o policial e ambos entraram, me deixando lá fora, junto do carro. Meia hora depois, um veículo branco da perícia criminal chegou e uma investigadora se apresentou a mim, mas esqueci seu nome logo em seguida. Entrei em casa com ela e lhe mostrei a tranca arrombada e a mesa de jantar, de onde meu notebook havia desaparecido. 

Pouco depois disso, Lee e o policial uniformizado desceram do segundo andar da casa. Todos apertaram-se as mãos e riram de alguma coisa e em seguida o policial foi embora. 

Fiz um chá para a perita, enquanto ela colhia impressões digitais e removia amostras de algumas superfícies. Aquilo tudo me parecia bastante aleatório. 

Quando ela se foi, voltei a chorar. 

- Ah, Lee, me desculpe - falei quando ele me abraçou. 

- Tudo bem. Está tudo bem. Eu estou aqui. 

- Não consigo suportar a ideia de que alguém entrou na minha casa. 

- Chamei um chaveiro para consertar a tranca. Ele já deve estar chegando Não se preocupe. Quer que eu fique aqui com você esta noite? 

- Você devia estar trabalhando, não é?

- Não tem problema. Só vou precisar deixar o celular ligado, caso aconteça alguma coisa, ok? 

Concordei com a cabeça. 

Mais tarde - horas depois -, com a tranca da porta já substituída, Lee e eu estávamos fazendo amor na cama, delicadamente desta vez, com toda a calma. Fiquei me perguntando quem teria sido, pensando que, fosse quem fosse, essa pessoa devia ter estado ali, em nosso quarto. Em que mais teria tocado? 

Lee foi tão meigo comigo, tão carinhoso, que por fim acabou conseguindo desviar meus pensamentos do que acontecera, e me deixei levar pelas sensações criadas por seus dedos e sua boca. 

Quando finalmente abri os olhos, ele estava observando a expressão em meu rosto com um sorriso nos lábios. 

- Você deveria fazer isso mais vezes - murmurou ele. 

- Isso o quê? 

- Se soltar assim. 

- Lee, promete que não vai embora? 

- Vou ficar aqui. Pode dormir se quiser. - Ele passou o dedo pela minha têmpora e desceu até a face. - Você pensou na minha proposta? 

-Será que valia a pena fingir que eu não sabia do que ele estava falando? 

- Pensei, sim. 

- E...? 

Abri os olhos e olhei para ele toda sonolenta. 

- Continue propondo. Um dia vou surpreender você com um sim. 

Ele sorriu e afagou meu rosto, um toque longo e suave que começou pela face e terminou na coxa. Disse que me amava, sua voz diluída num sussurro. Eu o amava quando ele era assim, gentil, calmo, feliz.

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