𝒞𝒶𝓅𝒾𝓉𝓊𝓁𝑜 19

75 13 34
                                    

𝑄𝑢𝑎𝑟𝑡𝑎-𝑓𝑒𝑖𝑟𝑎, 24 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑧𝑒𝑚𝑏𝑟𝑜 𝑑𝑒 2003

Até o Natal, tudo correu bem.

Quer dizer, não totalmente. Namorar alguém cujo emprego o afasta às vezes durante vários dias não era nada legal não mesmo, mas quando ele estava comigo, tufo era ótimo. Quando ia ficar fora por um tempo, ele me avisava antes. E quando reaparecia eu ficava tão ridiculamente aliviada em vê-lo voltar inteiro para mim que qualquer queixa se desfazia no ar.

Ele agora praticamente morava comigo. Eu saía para trabalhar e ele ficava limpando a minha casa, fazendo um outro reparo, preparando o jantar para quando eu chegasse.

Quando ele estava fora, eu sentia uma saudade que nem imaginava a ser capaz de existir. Toda noite eu me perguntava se ele estaria bem e se eu algum dia ficaria sabendo caso algo de ruim lhe acontecesse. Embora ele geralmente voltasse morto de cansaço e de fome e precisando de um bom banho nunca mais apareceu à minha porta ferido. Fosse lá o que tivesse acontecido daquela vez eu queria acreditar que agora ele tomava mais cuidado, por minha causa.

Não era a primeira vez na vida que eu passaria a véspera de Natal sozinha. Lee estava trabalhando em algum lugar - esse ano era sua vez, dissera. Ele tentara se livrar, para poder passar um tempo comigo. Disse também que tentaria voltar mais cedo, mas às dez da noite na véspera do dia de Natal não havia sinal dele.

Fofa-se, pensei.

Não demorei muito para me arrumar. Meu vestido predileto, salto alto, um toque rápido de maquiagem, o cabelo preso no alto com algumas mechas caindo e eu estava pronta.

La pelas dez e meia cheguei no Cheshire. Sam e Claire já estavam lá, várias doses à minha frente - eu precisaria me empenhar para alcançá-las. Cleire já encontrara um candidato em potencial para pós-noitada em seu quarto, embora ele parecesse bem jovem e estivesse bêbado demais para conseguir uma boa performance.

- Não achei nada de mais nesse cara - Gritei, acima de Wizzand cantando "I Wish It Could Be Christmas Every Day" pela milionésima vez desde o mês de outubro.

- Também não, mas repare só no amigo dele - gritou Sam em resposta apontando com o gargalo de sua garrafa de cerveja para um canto onde um cara mais sombrio e muito mais interessante observava os dois, com uma expressão difícil de decifrar.

- Ele é simpático?

- Até agora não parece muito.

O amigo veio até nós e se apresentou, e na verdade parecia até ser um cara bacana. Chamava-se Simon e era de Exército, disse ele no meu ouvido. Partiria para o Afeganistão em duas semanas. Enquanto o escutava, olhei para os olhos de Sam, que pareciam cheios de encanto - e de um ligeiro desgasto, já que seu deus do sexo de olhos escuros parecia estar dando muito mais atenção a mim.

- Simon - berrei no ouvido dele -, esta é Sam. Eu já estou de saída. Feliz Natal!

Dei-lhe um beijinho rápido no rosto, acho que para desejar sorte, pisquei o olho para Sam e fui procurar onde eu havia deixado meu casaco.

A Cheshire já era, então. E eu ainda não estava nem tonta, pensei, enquanto percorria a Bridge Street batendo meus saltos e tentando ver se o Hole In The Wall não estava mais cheio demais. Por sorte, eu estava com um casaco por sobre o vestido, pois começava a chover. Não fazia tanto frio a ponto de nevar, mas ainda assim eu estava congelando, e por um instante me perguntei se não teria sido melhor ficar em casa, afinal de contas.

- Não , cara, não vou fazer porra nenhuma. Nem pensar. Vai se foder!

Pude ouvir uma discussão vinda de um beco, e algo me fez olhar naquela direção. Três homens pareciam estar brigando, um deles mais bêbado do que os outros. Estava meio escuro. Devia ser uma venda de drogas, pensei distraidamente, cabisbaixa, e continuei andando sem dar mais importância ao assunto.

Havia uma fila para entrar no Hole In The Wall, mas bem pequena. Abriguei-me debaixo da marquise do marquise do supermercado ao lado, junto a outras pessoas que eu conhecia vagamente.

Naquele exato instante, vi dois dos três homens que estavam discutindo no beco passarem ali pela Bridge Street.

Um deles era Lee.

Ele não virou, apenas seguiu andando, rindo de algo que outro cara dizia, as mãos esfiadas nos bolsos da calça jeans.

Justo naquele momento, um bando de jovens embriagados saiu para a calçada e partiu em busca de um bom Kebab. O barulho lá dentro ecoou para a rua com eles, uma música natalina, para variar, junto com uma rajada de ar quente e o cheiro de cereja e suor .

- Você vai entrar ou não? - perguntou o segurança, segurando a porta para mim.

Foda-se, pensei. Depois de dar um beijinho de Natal do segurança, penetrei no calor e no caos.

[...]

 Cheguei em casa quase duas da manhã. Tive companhia na maior parte do caminho de volta: três rapazes embriagados e duas das namoradas deles vinham por acaso na mesma direção que eu, então me juntei a eles, batendo papo com uma das meninas, Chrissie, que descobri ser prima de Sam. 

Depois só precisei seguir sozinha por um curto trecho da Queen's Road; e não foi de todo ruim. O vento amainara um pouco, e, embora estivesse gelado, eu havia bebido vodca suficiente para me manter parcialmente aquecida. E meu casaco de lã era quente e aconchegante. Eu bem que poderia tomar uma boa xícara de chá quando chegasse em casa, eu estava pensando, e depois ficar na cama até bem tarde amanhã... 

Havia alguém sentado à entrada da minha casa. Ele se levantou quando me aproximei. 

Lee. 

- Por onde você andou?-perguntou ele. 

Peguei .minhas chaves no fundo da bolsa. 

- Sai - respondi. - Não estava a fim de ficar em casa. Faz tempo que você está aqui? 

- Dez minutos. - Ele me deu um beijo no rosto. - Vamos entrar? Estou congelando aqui fora nesse frio do cão. 

- Por que você não usou sua chave? 

- Você me disse para não fazer isso, lembra? 

- O que? 

-Você falou para eu não entrar e bagunçar as suas coisas. 

- Não foi isso que eu quis dizer. Claro que você pode entrar. 

No corredor, ele me virou e me empurrou para a parede, abrindo meu casaco, sua boca invadindo a minha. Seu beijo foi vigoroso, seco, com o seu sabor - não de álcool. Ele não estava bêbado, então. Apenas enérgico. 

- Não consegui parar de pensar em você hoje - sussurrou ele no meu pescoço, sua mão deslizando pelo cetim do meu vestido. - Este seu vestido me deixa louco. 

Soltei seu cinto e abri sua calça, descendo-a um pouco por sobre seu traseiro. Bem aqui no corredor, pensei comigo mesma. Um lugar tão bom quanto qualquer outro. 

- Só me diga - falou ele, gemendo com a boca encostada no meu cabelo -, me diga que você não trepou com nenhum outro cara usando esse vestido. 

- Não- respondi. - Só você. Ele é seu. Eu sou sua.

≪━─━─━─━─◈─━─━─━─━≫

𝚅𝚊𝚖𝚘𝚜  𝚝𝚎𝚛  𝚖𝚊𝚛𝚊𝚝𝚘𝚗𝚊 𝚊𝚎𝚎𝚎𝚎

𝚀𝚞𝚎𝚛𝚘  𝚊  𝚖𝚎𝚝𝚊  𝚍𝚎  30  𝚌𝚘𝚖𝚎𝚗𝚝𝚊𝚛𝚒𝚘𝚜  𝚙𝚊𝚛𝚊  𝚒𝚜𝚜𝚘  𝚊𝚌𝚘𝚗𝚝𝚎𝚌𝚎𝚛


★⌨☟

No EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora